Jonas é padre. Jonas é Monsenhor. Jonas é santo.
Jonas é o menino que nasceu em Elias Fausto, interior de São Paulo, e encontrou, desde cedo, a consciência do existir. Nasceu Jonas para sorrir às multidões; para aliviar, sorrindo, o peso da cruz.
Um dia, entre os tantos dias que, desde minha meninice, estive com ele, ele explicou o sorriso. Eu, diante das folhas, escrevendo sua vida, ouvi o seu dizer, "Eu pedi a Deus um sorriso como o do padre Guedes". Eu quis entender. "Sempre fui tímido, um pouco fechado, talvez, e queria me abrir, queria que o meu sorriso fosse uma explicação da bondade de Deus". Padre Guedes era um bom salesiano, amigo de Jonas. Deus atendeu ao seu pedido.
O seu sorriso me aliviou muitas dores. Diante da despedida de irmãos meus que os céus, prematuramente, arrebataram, ele estava. Diante do adeus ao meu pai, ao meu bom José, santo também, ele estava. Nos dias finais do lindo sorriso da minha mãe, ele também estava, abraçando a minha dor e sorrindo eternidade.
Monsenhor Jonas era um cantador que compunha o amor em canções que alimentavam a alma, "Quero transformar numa canção as juras de amor por ti, meu Deus, entraste em minha vida sedutor, já não sei viver sem seu amor". Compreendia Maria, a mãe de Deus, a escolhida para gerar o Amor, "Virgem, silenciosa, Tu me ensinas, silenciar também". Seu silêncio se rompia para pregar o evangelho, com a sabedoria dos profetas. Meu Deus, moram em mim tantas de suas homilias, tantas metáforas explicadoras do lindo do ensinamento de Jesus.
Um dia, ele perguntou a alguns jovens quais deles aceitariam fazer uma experiência de dedicar um ano de suas vidas a viver uma comunidade de amor, a se entregarem integralmente a Jesus Cristo. Nascia, assim, a Canção Nova, um jeito novo de ler, meditar, viver o Evangelho.
"A vida é caminhar, sou peregrino do amor, vou semear a esperança deste mundo que há de vir, eu não me canso de cantar". Em seu canto, enxergava ele um mundo novo, uma nova gente, disposta a abraçar a verdade e a construir: "Mundo novo vem aí, gente de coragem vai lutar, a verdade vencerá, quem é da verdade saberá". A verdade é que Monsenhor Jonas não morreu. A verdade é que a morte é o fim das coisas, não das pessoas. A verdade é que a bondade é a ponte que nos devolve ao Criador. E a marca da sua santidade é a bondade.
Era o fim do dia 12 de dezembro, quando o mistério da eternidade soprou o canto do amor, o mesmo canto que sopra a vida, em Jonas Abib. Então, ele sorriu um sorriso que não conseguimos ver, nem compreender. Mas sorriu. Uma luz profunda que nem as profundezas mais plenas da razão descrevem. É a essência da criatura que abraça a essência do Criador. Um bebê, no ventre materno, não conhece do mundo que está para vir, antes do parto. Partimos desse mundo também sem saber. O que nos resta é o sentir. É a fé que sopra delicadezas em nós, que nos alivia as despedidas. É como a primavera desmentindo o inverno. As árvores não morreram na fria estação. As árvores se preencheram de uma nova roupagem de flores feitas para lembrar ao mundo que o belo existe.
O belo do sorriso de Jonas prossegue existindo.
O livro que escrevi sobre sua vida tem o título de "Eu acredito em milagres". Os milagres em que acredito moram nos cotidianos que vejo. Nas vidas que nascem e que preenchem a existência de novidades. Uma criança nascendo é o milagre do jardim humano florescendo possibilidades. Do choro aos sorrisos, a criança vai conhecendo o existir. E vai aprendendo a peregrinar até o entardecer. O lindo entardecer que explica, mas que não compreendemos, que não termina.
Fecho os olhos e vejo Jonas sorrindo, ainda mais bonito, a canção eterna, que um dia todos nós cantaremos...