Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

Recentemente o presidente da República se colocou à disposição para intermediar a paz entre a Rússia e Ucrânia para pôr fim ao conflito que já passa de um ano. Para um líder, a atitude é louvável, porém, há uma guerra ainda mais longa que precisa de iniciativa similar. A nossa guerra urbana em cada capital brasileira, como no Rio de Janeiro, com confrontos armados diários e inúmeras baixas, dentre elas as de inocentes e de policiais, que se mantêm na linha de frente desse combate à criminalidade. São necessárias atitudes enérgicas para esse cessar fogo doméstico e que, consequentemente, retomará a ordem e a paz por aqui.
A disputa por território no Rio está ultrapassando todos os limites. A ousadia dos grupos criminosos só cresce e a polícia se torna cada vez mais alvo de bandidos. No Rio, policiais são perseguidos e assassinados não só num confronto, mas pelo simples fato de serem policiais.
Há dois anos, em 2021, o Rio foi o estado com o maior número de policiais assassinados, com 41 mortes. A taxa de mortalidade também foi a mais alta no estado fluminense, com média de 0,81 mortes por mil policiais da ativa no período. Já no ano passado, a região metropolitana registrou mais de 100 policiais militares alvejados, de acordo com o Instituto Fogo Cruzado. Mais de 40 morreram e outros 60 ficaram feridos. Foram mais de 50% atingidos em serviço e o restante fora dele. Há quase um consenso de que nem todos os registros foram computados, ou seja, os números de policiais assassinados e feridos são bem maiores, considerando ainda policiais civis, federais etc.
Se comparados aos do ano de 2021, os números dos 10 primeiros meses de 2022 tiveram aumento de 50%. Segundo a própria PM, para cumprir a meta de redução de mortes, tem sido investido em equipamentos de proteção individual — como coletes e capacetes balísticos — e viaturas semiblindadas.
Mas, em verdade, isso não tem sido o suficiente. Com um cenário complexo pelo avanço da criminalidade e operações cada vez mais violentas, os riscos para os policiais só aumentam. As chances de um policial morrer em uma operação são altíssimas, o que comprova a necessidade de ações com maior inteligência, protegendo não só eles, mas toda a população.
São importantes os posicionamentos diplomáticos e o protagonismo na política externa, mas o recém eleito presidente precisa olhar para dentro, nas guerras nossas de cada dia que já passou da hora de chegar ao fim.

*Advogado criminalista e especialista em segurança pública