Bom dia, mãe.
A senhora consegue ouvir o meu bom dia?Consegue ver a minha saudade? Consegue sentir os meus sentimentos?

Sei nada dos mistérios. Sei nada do imaterial.Olho para o que vejo e para o que não vejo, porque sei que há mais. Quando entro na praia, é apenas um ínfimo pedaço do oceano.Também os céus. Há tanto mais. Também o sol que se despede sem se despedir e que nunca deixa de ser sol.

Mãe, o que sinto é que o que sentimos não consigo dizer. Não consigo dizer, porque as palavras que me emprestam dizeres são humanas. O que nos une vai além.Posso chamar de amor. Mas o amor que digo é o amor materializado em dias em que fomos um. Eu dentro de você. Eu começando a ser eu. Eu nascendo de você. Eu desacreditando as inseguranças do mundo grande por ter você.O amor que me fez engatinhar, levantar, caminhar, deitar e, tantas vezes, chorar em você.

Um dia chegou o dia de despedir.Eu beijei o seu corpo já sem você. E senti que você sentia que nunca nos deixaríamos.Nos falamos antes. E o sono da matéria te levou de mim.Chorei o choro do amor. Chorei por arrancar uma parte do que sempre fomos. A outra, a indizível, permaneceu, permanece.

Enquanto escrevo, mãe, paro um pouco. E silencio as palavras. E, sem disfarces, choro novamente.Mesmo sentindo que não acaba, sinto a ausência da sua reposta ao meu bom dia. Do seu riso inaugurador de instantes felizes em mim. Do seu pronunciar potente do meu nome. Ninguém diz mais bonito o nome de alguém do que sua mãe.

Volto às palavras, é delas que me valho para expressar o que sou. Seu filho, mãe. O filho caçula. O filho crescido. O filho escritor das páginas das nossas histórias. Agradeço ao inventor da memória por ter você inteira dentro de mim.

Estaciono novamente o dia e fecho os olhos. E abro a alma para sentir o seu perfume.Eu sonho com você, mãe. Em um dos últimos sonhos, você nos oferecia doces. De repente, se lembrou de que deixou algo em algum lugar. Eu ofereci ajuda. Meu pai, que também vive inteiro dentro de mim, disse que não precisava. Que você não tinha mais nenhuma doença e que voltou a sorrir como nos inícios.

Nos inícios, estávamos todos. E hoje seria um dia sem pausas no sagrado dever de celebrar. O dia das mães. Um dia para dizer que, em todos os dias, as mães merecem celebrações.Seria um dia para oferecer presença e presentes. Para comer o que alimenta. Para cantar alguma canção de alegria. Para dizer ditos que divinizam o humano. Eu posso dizer. Você me ouve, mãe?

Sei com os sentimentos que sim. Embora os pensamentos me confundam.Não quero espalhar dúvidas em um dia tão lindo. Quero colher a fé que você plantou em mim. Você e meu pai, o homem bom. O homem que, apaixonado por você, apaixonou-se ainda mais pela vida. O homem que prossegue ensinando simplicidades em mim.

Quem sou eu para discordar do que é? A vida é chegada e é partida. Vocês nunca partiram.Enquanto eu estiver, vocês estarão. E quando eu não estiver, estaremos.

Bom dia, mãe.
Bom dia, pai.

Feliz dia das mães!