Alana Passos, ex-deputada estadualDivulgação

Fala-se muito em representatividade da mulher, com uma maior participação feminina na política. De fato, a situação está melhorando diante do que já foi. Hoje, na Câmara Federal, há 17,7% das cadeiras ocupadas por mulheres. No Senado, o percentual é de 13%. Mas o Brasil, país onde somos 108,7 milhões, o que equivale a 51,1% da população total; ainda ocupa a vergonhosa 142ª posição no ranking internacional de participação feminina na política. Nas eleições de 2020, mais de 900 cidades não elegeram uma mulher sequer para a Câmara de Vereadores; e apenas 12% dos nossos 5.568 municípios possuem uma prefeita.
Em minha experiência como parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, aprendi que esses números refletem diretamente o modo como, não o povo, mas os grandes atores da política nacional, homens em sua maioria, enxergam a mulher. A nós não é dado o devido protagonismo político e as grandes decisões ficam por conta dos homens. É como se o nosso local de fala fosse restrito a determinados temas, numa espécie de regra que não está escrita em lugar algum.
No meu caso pessoal, a situação é ainda mais peculiar. Por ser de direita, cristã, defensora da economia liberal e conservadora na agenda dos costumes, fugi do estereótipo da mulher como ativista. E nessa situação, muitas vezes, nem mesmo as mulheres me enxergavam como um agente importante num processo de transformação social por meio da política. Preconceito contra a mulher vindo de... mulher. Tenho 36 anos e uma carreira nas Forças Armadas do meu país. Recebi 106.253 votos em 2018. Protocolei 387 projetos, dos quais 185 viraram leis. Sim, eu me considero empoderada por ter batalhado na trincheira da política por quatro anos e posso provar isso. Mesmo sob olhares de desconfiança, sempre pautei a vida pública por aquilo que acho certo.
A conclusão a que chego é que só haverá ampliação da participação da mulher na política, principalmente com a ocupação dos cargos de Executivo, quando nós nos unirmos para enfrentarmos, com ideias e propostas, quem nos subestima. Diferenças entre nós sempre vão acontecer. Mas a união feminina precisa desconsiderá-las em prol de uma representatividade que esteja à nossa altura.
As pautas da luta afirmativa e por direitos não são propriedade de determinados partidos ou de mulheres que seguem um viés ideológico à esquerda, elas são de todas nós. Assim como as pautas da Educação, Saúde, Transporte, Sustentabilidade e tantos outros temas sensíveis na nossa sociedade. Como mulheres, precisamos nos respeitar, nos posicionar em grupo e lutar pela ocupação dos espaços de poder, mas também pela mudança de conceito na mente dos grandes caciques políticos sobre qual é o nosso espaço. Afinal, é consenso que lugar de mulher é onde ela quiser. Mas não basta querer, é preciso buscar esse lugar; com coragem e resiliência.
* Alana Passos é ex-deputada estadual