Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

No geral, as religiões significam um conforto para cada cidadão, de um jeito todo particular. É um refúgio para enfrentar as angústias e os percalços. Ao mesmo tempo alimenta a esperança de seguir em frente. Coloca cada um dentro de um propósito ético-moral que norteia sua conduta diante de si e da sociedade. Porém, a busca pelo alimento divino acaba levando muita gente a cair em golpes e prejuízos financeiros e emocionais. Crimes que vêm crescendo no Brasil.
Embora o Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei 2.848/1940), em seu artigo 208, estabeleça que é crime “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso, prevendo pena de detenção, de um mês a um ano ou multa, religiosos têm se tornado vítimas de criminosos que abusam de sua boa-fé.
Recente operação da Polícia Civil do Distrito Federal, por exemplo, investigou um grupo suspeito de enganar mais de 50 mil pessoas no Brasil e no exterior. E o que mais chamou a atenção foram os valores prometidos como lucro para supostos "investidores" e o fato de o golpe ocorrer dentro de igrejas.
De acordo com a investigação, o grupo criminoso atuava há mais de cinco anos e era composto por pastores que induziam fiéis a pensar que eram "abençoados a receberem grandes quantias". Utilizavam de uma teoria conspiratória conhecida como "Nesara Gesara" e prometiam lucro de até um "octilhão" de reais.
Sabendo que criminosos não têm escrúpulos fica fácil entender que para eles pouco importa de onde vem o bem ou dinheiro a ser roubado. Da mesma forma, mesmo sendo um exercício difícil para muitos, é possível compreender que pessoas intensamente envolvidas pelo discurso de um líder religioso acabam por confiar em milagres de toda espécie, inclusive da multiplicação de cifrões. Nessa história, o grupo criminoso movimentou, segundo a Polícia, R$ 156 milhões.
Infelizmente, isso é mais comum do que pensamos e também existe há anos em quase todas as religiões. Só de católicos somos quase 130 milhões de brasileiros e mais de 43 milhões de evangélicos, fora outras tantas religiões, ou seja, muitos religiosos que, eventualmente podem ser alvos de quadrilhas que, em nome de Deus, exploram, enganam e roubam fiéis. É preciso que todos tenham cuidado, pois, ter fé não é crime, mas a fé está na mira do crime.

*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública