Isa Colli é jornalista e escritora - Opinião Divulgação
Quando falo sobre as guerras, prefiro direcionar meu olhar para as vítimas das barbáries. O aspecto político-militar eu deixo para os especialistas. Esta semana, eu recebi uma mensagem pelo celular com a imagem de um soldado segurando uma rosa. Ao fundo, havia um canhão de guerra com o texto: "Onde houver ódio que eu leve o amor".
A frase não estava assinada, mas faz parte de uma linda e conhecida oração, que já recebi de pessoas de diferentes credos, logo, posso dizer que ela tem um alcance universal: trata-se da Oração de São Francisco, que data de 1912. E por que ela comove tanto as pessoas até hoje? Porque fala de valores humanitários, que são atemporais:
"Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz. / Onde houver ódio, que eu leve o amor. / Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. / Onde houver discórdia, que eu leve a união. / Onde houver dúvidas, que eu leve a fé. / Onde houver erro, que eu leve a verdade. / Onde houver desespero, que eu leve a esperança. / Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. / Onde houver trevas, que eu leve a luz".
Em 1915, Sigmund Freud, em seus 'Escritos sobre a Guerra e a Morte', também fez um texto marcante e provocativo: "A guerra... não reconhece nem os privilégios do ferido e do médico, nem a diferença entre o núcleo combatente e o pacífico da população, e viola o direito da propriedade. Derruba, com cega cólera, tudo o que lhe aparece pela frente, como se depois dela já não houvesse de existir nenhum futuro e nenhuma paz entre os homens. Desfaz todos os laços da solidariedade entre os povos combatentes e ameaça deixar atrás de si uma exasperação que, durante longo tempo, impossibilitará o reatamento de tais laços".
Criado em meio à 1ª Guerra Mundial, o pensamento do Pai da Psicanálise poderia simbolizar os horrores do que acontece atualmente na Ucrânia ou na Faixa de Gaza.
E quando os grandes conflitos terminam? Um estudo da ONU de 2010 mostra que as mulheres e as crianças são sempre as que mais sofrem com as sequelas nos países que foram palco de guerras. Os autores do relatório focaram em casos ocorridos na Bósnia-Herzegovina, Libéria, Uganda, Timor-Leste, os territórios palestinos ocupados, a Jordânia e o Haiti.
"Muitas dessas mulheres passam seus últimos anos em um limbo de solidão e pobreza. No grupo de risco também estão os adolescentes, pois em áreas de conflito são frequentemente recrutados para o combate e, quando acaba a guerra, necessitam de estímulos para retornarem à vida civil", diz o documento, que, assim como o texto de Freud, continua atual, lamentavelmente.
Isa Colli
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