Antonio Braga. Médico e coordenador Estadual da Saúde das Mulheres do Rio de Janeiro Divulgação

A gravidez na adolescência é fenômeno médico-social complexo. Quando se engravida com menos de 19 anos, em especial nas gravidezes não planejadas e sem rede de apoio, há maior chance de complicações para as mães e os bebês, notadamente pela falta da adesão ao pré-natal. Para além do risco clínico, a gravidez na adolescência tem repercussões nefastas na vida escolar da mãe, com perpetuação do ciclo de pobreza e reflexos na economia do país.
Estão associadas à gravidez na adolescência as baixas condições socioeconômicas, limitada perspectiva de vida, de proteção familiar e de acesso à educação. Isso pode estar ligado ao início precoce da atividade sexual sem a oferta de métodos contraceptivos. Agrava esse cenário a gravidez de repetição na adolescência, que ocorre duas vezes mais no Brasil do que nos Estados Unidos, por exemplo, mostrando uma segunda perda de oportunidade de fomentar a saúde sexual e reprodutiva desses adolescentes.
Para lembrar a sociedade desse problema, divulgamos a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, em 2024 de 1° a 8 de fevereiro. Nesses dias, reforçamos a importância de disseminar medidas preventivas que possam reduzir a gravidez na adolescência. É essencial que esse tema faça parte da orientação familiar e dos currículos escolares. Da mesma forma, a atenção primária à saúde deve ser sensibilizada para orientar adolescentes sobre educação sexual.
A oferta de métodos contraceptivos (associados com a camisinha para proteção das infecções sexualmente transmissíveis - ISTs) deve ser amplamente disponível. Na adolescência, os métodos contraceptivos de longa duração reversíveis, chamados de LARCs, são especialmente interessantes. Para essa faixa etária, o dispositivo intrauterino (com validade de 10 anos) e o implante hormonal subdérmico (com validade de três anos) garantem ótimas taxas de contracepção e mínimos efeitos adversos.
Iniciativa exitosa da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) para a prevenção da gravidez na adolescência é o Programa Acolhe. Instalado num dos acessos ao Pavão-Pavãozinho e ao Cantagalo pela Rua Barão da Torre, em Ipanema, o Ambulatório Médico de Especialidades Jornalista Susana Naspolini oferece diariamente rodas de conversa sobre métodos contraceptivos, prevenção às ISTs e oferta dos LARCs. Desde sua inauguração, em agosto de 2023, já foram inseridos, pelo SUS, mais de 5 mil implantes subdérmicos e mais de mil dispositivos intrauterinos, tornando o Programa Acolhe a maior iniciativa em saúde sexual e reprodutiva para adolescentes no Brasil.
Essa e outras ações da SES-RJ para a prevenção da gravidez na adolescência têm sido bem-sucedidas. Nos últimos 10 anos, a taxa de gravidez na adolescência caiu 40%, saindo de 18,4% em 2013 para 10,9% em 2023. Mas ainda precisamos avançar mais para garantir que tudo ocorra ao seu tempo, entendendo que é através da educação em saúde que conseguiremos fomentar comportamento sexual seguro e responsável entre os adolescentes.
* Antonio Braga é médico e assessor da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro
* Claudia Mello é médica e secretária de Estado de Saúde do Rio de Janeiro