Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

A cada tempo que passa somos surpreendidos por novas modalidades de crimes. Há 40 anos seria inimaginável pensarmos que os fios e cabos dos postes seriam furtados em qualquer canto da cidade. O furto não é um crime novo, mas desse tipo de material chega a ser surreal e as medidas protetivas e de combate a eles parecem inexistir. Dessa forma, o cidadão muitas vezes fica sem trem, sem luz, sem internet, ou seja, sem serviços básicos.
Cabos de toda a espécie alimentam uma rede (sem trocadilho) criminosa embaixo das barbas das autoridades. Somente entre janeiro e agosto de 2023, houve um aumento de 24% com relação ao mesmo período do ano anterior. Rio Luz, Supervia e tantas outras operadoras têm sofrido constantemente com essa onda de furtos, o que impacta diretamente a população. Recentemente, boa parte de Copacabana sofreu na pele os efeitos desse cenário, ficando no escuro por horas. Na Ilha do Governador, a história foi a mesma.
No primeiro semestre de 2022, a conta do furto para a rede de energia elétrica, por exemplo, foi de mais de R$ 1, 5 milhão. Em 2023, no mesmo período, o prejuízo ultrapassou os R$ 4,7 milhões, três vezes mais.
Sinais de trânsito, rede ferroviária, fios da iluminação pública, rede de telefonia e internet são alvos desses ladrões, que não agem sozinhos. Sim, pois eles atendem a ferros-velhos que atuam de forma irregular, inclusive na calada da noite e sem serem importunados pelas autoridades. Em maio do ano passado, operação da Polícia Civil apreendeu quase uma tonelada de cabos furtados da rede de trem num ferro-velho da Zona Norte da cidade. Infelizmente, essa foi uma ação isolada, o que demonstra que é preciso uma ação de inteligência mais efetiva, mapeando a rota desses furtos, prendendo os receptores e fechando tais estabelecimentos.
Levantamento da própria imprensa revelou que o quilo do fio de cobre descascado vale R$ 30, o que precisa ainda ser descascado R$ 20 e o queimado R$ 25. E, assim, fica estabelecido esse mercado clandestino, que, diante da tamanha quantidade furtada, impulsiona a prática ilegal e movimenta milhões de reais, deixando a população do Rio fora do ar, desconectada, no escuro e muitas vezes a pé.
Em alguns países, todo o cabeamento e fiação são subterrâneos e isso poderia ser um caminho. Entretanto, por aqui, as próprias tampas das galerias também são objetos de furtos, o que nos levaria a combater tal comércio, que, de novo, tem destino similar. Como dizem por aí, no Brasil, não tem amadores. A que ponto chegamos!
Marcos Espínola
Advogado criminalista e especialista em segurança pública