Daniel GuanaesDivulgação

Em quase 20 anos de atuação como psicólogo, percebo que, no momento, existe uma consciência maior das pessoas com relação aos cuidados que se deve tomar com a saúde mental. E, por isso, não há dúvidas de que existem mais buscas por profissionais da área. A prova se deu recentemente, quando um amigo, de forma despretensiosa, me sugeriu ir "fundo, porque autocuidado está na moda".

Evidente que, naquele momento, achei graça, entendi como um incentivo à profissão que exerço, mas não pude deixar de pensar na questão. Como explicar que o autocuidado está na moda? Seria apenas mais um modismo, algo transitório? Ou de fato há o entendimento de que essa preocupação deve existir?

A dúvida tem razão de ser. A psicologia e as demais ciências que se dedicam à promoção de saúde mental em geral sofreram com preconceito e olhares enviesados por muito tempo. Por mais que esse descrédito tenha arrefecido, muitos ainda nutrem desconfiança quanto à sua importância e quantos aos seus benefícios. Por isso, é bem provável que de fato haja quem encare essa ênfase no autocuidado como algo transitório.

A verdade é que essa é uma moda que veio pra ficar. O aumento de pesquisas que estudam formas de promoção de bem-estar, o surgimento de novos fóruns de debates que exploram os temas da saúde mental, a elaboração de políticas públicas que conscientizam a população acerca de doenças e transtornos dessa ordem e a inclusão das suas pautas no universo corporativo, por exemplo, mostram que uma cultura de autocuidado está sendo consolidada.

De fato, nada leva a crer que tal cultura do autocuidado irá passar. A principal razão é que as pessoas estão descobrindo na prática que há inúmeros benefícios que elas podem desfrutar ao cuidarem de si. E entre os que podemos mencionar estão a redução de estresse, a melhora nas taxas dos exames de sangue, a estabilização da pressão arterial, a melhor qualidade de sono, a redução na alteração do humor e o impacto positivo nos relacionamentos. Estamos descobrindo que cuidarmos de nós mesmos nos deixa mais felizes.

Como profissional de saúde mental é muito satisfatório perceber as pessoas se conscientizando de que a vida pode ser mais leve e mais prazerosa. Há sofrimentos que são inevitáveis, porque inerentes à nossa existência. Entretanto, muitos podem ser evitados caso cuidemos de nós mesmos com um pouco mais de intencionalidade.

Meu amigo tinha razão no conselho. Vai fundo, porque autocuidado está na moda. Passageira foi a época do descuido e da negligência. Com todas as suas mazelas, a vida é nosso bem mais valioso. Por isso, quanto mais cada um de nós contribuir para que ela seja preservada e potencializada, mais todos desfrutaremos dessa dádiva que é o viver.


Daniel Guanaes
PhD em Teologia pela Universidade de Aberdeen, Escócia, pastor na Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro, e psicólogo