A cultura e a educação são as bases para a construção da tolerância e valorização da diversidade. Esse é o mote que o Festival Cultural Inter-religioso: Cantando a gente se entende” traz na sua essência e como um ato de resistência cotidiana. Sem bandeiras políticas e partidária, o evento, que é idealizado e organizado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizada – CEAP em parceria com a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa – CCIR, nasceu como proposta de transversalização a cultura, promover o respeito, à diversidade e da tolerância.

Um breve panorama histórico nos mostra, que a intolerância e o racismo ainda são um dos maiores desafios para a construção da coexistência pacífica em várias partes do mundo. No momento, assistimos um grande debate, nos vários nichos sociais, culturais e espirituais, sobre o crescimento da intolerância religiosa e do racismo no Brasil. Crescimento este, que é um fruto dos resquícios históricos do processo de desenvolvimento da sociedade brasileira com base em ideias intolerantes e racistas, fomentada principalmente entre os séculos XVII e XIX, que serviu para justificar a dominação e a colonização das populações negras em África, o traslado e a escravização dos mesmos nas Américas, principalmente no Brasil. E como bem sabemos a sociedade brasileira ainda vive sobre a glorificação de um passado e de uma história colonial e usa todos os artifícios possíveis para marginalizar, invisibilizar e estigmatizar os corpos, culturas, espiritualidades que não fazem, parte do “padrão” e/ou “modelo” tido como ideal.

Mesmo garantida por lei, a liberdade religiosa não é uma realidade para todas as religiões no nosso país. Prova disso, é que nos últimos anos assistimos um crescimento significativo dos casos de intolerância religiosa no Brasil e principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Segundos os dados apurados e analisados pelo Observatório das Liberdades Religiosas, setor de pesquisa do CEAP, no ano de 2022 dos 899 casos registrados pelo Disque 100, 156 casos aconteceram no estado do Rio de Janeiro. Já no ano de 2023 os registros do Disque 100 apontam que a cidade do Rio de Janeiro aparece em primeiro lugar com o crime de violação de liberdade religiosa com 117 casos, e a cidade de Duque de Caxias aparece em nono lugar com 10 casos de violação de liberdade religiosa. Os dados apurados refletem não só um comportamento social, mas também a necessidade de elaboração e promoção de ações e políticas públicas mais eficazes. Sobre o princípio da construção da diferença e da hierarquia, a intolerância religiosa e o racismo promovem a exclusão, destitui e desumaniza identidades, e criam identidades fora da humanidade, ou seja a autoridade. A intolerância religiosa e o racismo são reais!

Destarte, acreditando promoção da cultura é capaz de transformar e redimensionar uma sociedade, o Festival Cultural Inter-religioso: Cantando a gente se entende”, que no ano de 2024 será realizado no Dia internacional da África, dia 25 de maio, soa como uma possibilidade de construção e ressignificação das nossas bases, anseios pelo respeito à diversidade, pela paz e tolerância.
* Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos (PPGHC/UFRJ e CEAP)