O Brasil apresenta uma economia amplamente diversificada, onde o agronegócio, a indústria e o comércio de bens e serviços contribuem para a construção da força do PIB nacional. Porém, o efeito multiplicador dessa riqueza, traduzido em emprego e renda para a população e em arrecadação de impostos pelos governos, tem sido mitigado pela ocorrência de um fenômeno que drena de forma crescente recursos da economia, distorce relações concorrenciais, prejudica a estrutura pública e abre caminho para a expansão do crime organizado.

Estamos falando do Brasil Ilegal, em suas mais diversas facetas, que vão do contrabando à pirataria, passam pela concorrência desleal por fraude fiscal, descaminho de cargas, furto de energia, sinal de TV e de streaming até adulteração de combustíveis.

Com o objetivo de mapear essas atividades e calcular seu impacto negativo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) uniram forças para produzir o que chamamos de “Brasil Ilegal em Números”. O resultado foi alarmante.

Ele revelou que o Brasil Ilegal gerou um prejuízo econômico da ordem de R$ 453,5 bilhões só no ano de 2022. Em São Paulo, no ano de 2023, movimentou quase R$ 24 bilhões – isso considerando os números de apenas nove setores –, o correspondente ao orçamento da Segurança Pública do estado naquele ano, que foi de R$ 27 bilhões. Para se ter uma ideia, só a energia elétrica furtada no país seria suficiente para atender as residências da Região Metropolitana de São Paulo durante mais de 1 ano.

Ao apresentar esses dados, também foram oferecidas sugestões para se promover uma maior cooperação entre o setor privado e os entes públicos, em todos os níveis de governo, para combater esse problema. Está claro que isso não ocorrerá apenas com a força bruta, mas com inteligência, cruzamento de dados, além de maior fiscalização e aumento das penas para quem contribui com essa situação.

Para além disso, é preciso envolver a sociedade, campanhas de conscientização sobre os impactos negativos do mercado ilegal. O cidadão comum precisa compreender que, ao optar por um produto de procedência duvidosa, porém mais barato, ele está, na verdade, contribuindo para o aumento da violência, dando um tiro na sua empregabilidade e drenando recursos que poderiam estar sendo investidos na melhoria da sua cidade. Sabemos que esta não é uma tarefa fácil, mas o diagnóstico está feito e os remédios, receitados. A hora de agir é agora. Não temos mais tempo a perder.

* Carlos Erane de Aguiar é industrial fluminense, 2º vice-presidente da Firjan e diretor eleito da Fiesp