Paulo Rosenbaumdivulgação


São inevitáveis as aceitações
Inevitáveis os corredores que ontem nos conduziam ao amanhã
São inevitáveis as dores inexplicáveis
São inevitáveis as guerras de cada homem-ilha
Inevitáveis as tardes de sol que trazem à pele o calor que se espalha
São inevitáveis os refrões do destino
Inevitáveis os pequenos assombros que, de um jeito ou de outro, produzem desespero ou alento.
São inevitáveis as cores do céu quando ilustram as águas do mundo
Inevitáveis as quotas de isolamento de cada um
São inevitáveis os passos dados e contados até o final da navegação
Inevitáveis os rios que nunca se fixam
São inevitáveis os ciclos de união e separação que cumpriremos, à revelia ou apesar dos nossos desejos
Inevitáveis as formas, puras e impuras, com as quais nos integraremos à grande arte
São inevitáveis as bolhas de alívio no inesgotável mar de instabilidades
São inevitáveis os dias nos quais somos menos do que deveríamos ser.
Inevitáveis as camadas de véus que temos que decifrar antes que se revele o amor irreversível
São inevitáveis as chuvas de cinzas daqueles que nos precederam.
Inevitáveis as luzes intermitentes detectadas na beleza.
São inevitáveis as plantações que forram o mundo de ar e clorofila.
Inevitáveis as abelhas e colmeias até que todo mel seja derramado.
São inevitáveis as noites crepusculares onde ninguém consegue ficar sem abraços.
São inevitáveis o brilho de olhos tigres que espreitam as florestas.
Inevitáveis as planícies de águas oceânicas que germinam vida
São inevitáveis os atalhos que desembocam no caminho central.
São inevitáveis sincronias de espíritos que escolhem a mesma frequência
São inevitáveis as madrugadas de insights indesejados
Inevitáveis as ilusões de infinito e finitude
São inevitáveis as imposições imperceptíveis.
Inevitáveis os primeiros cantos que emanam à revelia dos bebês.
São inevitáveis as composições que nasceram espontâneas
Inevitáveis os poemas que recusam repetições
São inevitáveis as revelações da hermenêutica
Inevitáveis os tentáculos do conformismo
Inevitáveis as forças que interrompem a inércia
São inevitáveis as revoltas que desafiam a constância.
Inevitáveis os ventos indissipáveis
São inevitáveis os circuitos de esperança de cada inspiração
Inevitáveis os alarmes, ignorados, da exaustão
São inevitáveis os avisos do fim
Inevitáveis as certezas dos recomeços.
São inevitáveis o devir e a acaso.
Inevitável enfrentar nossas ousadias para fazer frente ao evitável
São inevitáveis nossos recursos de solidariedade e de repulsa às injustiças.
São inevitáveis as moradas que desconhecem a gravidade
Inevitáveis os astros que nos engolirão
São inevitáveis as viagens através da matéria escura.
Inevitáveis os mergulhos nas partículas que carregam a presença do Altíssimo.
São inevitáveis as pegadas sulcadas na terra do tempo
Inevitáveis os corredores que ontem nos conduzem ao amanhã
São inevitáveis os círculos perfeitos das órbitas.
São inevitáveis as tardes de sol que trazem à pele o calor que se espalha.
Só há uma certeza: tua presença é inevitável.