Eugênio CunhaDivulgação
O cérebro emocional do professor
Os gregos diziam que a filosofia nasce da surpresa. Nesse sentido, acho que o conhecimento nasce do desejo. Digo isso porque não existe, de forma alguma, separação entre razão e emoção. Dizem que as emoções são primitivas e impulsivas, distantes da razão. No entanto, elas podem ser elaboradas, de grande ajuda para o cérebro. A neurociência tem provado isso.
De fato, a cognição e as emoções estão entrelaçadas funcionalmente. Não há como educar com qualidade sem a ajuda substancial do afeto. A ausência da afetividade na busca pelo conhecimento tornaria a aprendizagem humana apenas tecnicista, sem vínculo com a consolidação da memória. Um discurso, uma fala, uma atividade, uma música carregada de emoção despertam o estado de alerta do cérebro.
Porém, no campo da educação, as pesquisas relacionadas às emoções são mais direcionadas à aprendizagem de crianças e estudantes da escola. Pouco se tem falado dos sentimentos do professor. Cada vez mais os sistemas de ensino veem o professor apenas como um ensinante, com a responsabilidade de cumprir conteúdos, quando, na verdade, ele tem sido um gestor da sala de aula; das tensões, dos conflitos sociais e familiares e, também, da aprendizagem.
Para lidar com as demandas do ensino, é necessário lidar com as demandas interiores. Quando não sabemos processar nossas emoções temos mais dificuldades para elaborar pensamentos e articular ideias. Encontramos mais obstáculos para superar as contingências da vida. Muitas vezes, ficamos paralisados diante de decisões importantes, que gerenciamos de forma equivocada. Em muitas situações, não é o que vemos que vai influenciar o que sentimos, mas é o que sentimos que irá influenciar o que vemos e, consequentemente, regular a nossa ação.
No magistério, a precarização profissional tem gerado adoecimento: ansiedade, cansaço excessivo, insônia, isolamento, depressão e, em muitos casos, o aumento do consumo de psicoativos e do álcool. São vários estressores somados ao excesso de trabalho, além da pressão para ajudar estudantes a terem bom desempenho. Não é incomum docentes exercerem até atribuições que são da família.
A neurociência mostra que os currículos escolares necessitam integrar razão e emoção, conhecimento e habilidades sociais. É iminente que os sistemas de ensino cuidem de seus professores, assim com os professores cuidam dos seus aprendentes.
O exercício da docência no Brasil é um exercício de perseverança. Exercer o magistério é caminhar sobre utopias: é preciso sempre trazer à memória o que pode dar esperança.
Eugênio Cunha é professor e doutor em educação
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