* Marcus Vinicius Dias, médico e gestor, servidor de carreira do Ministério da Saúde, com MBA em Gestão pela USP e Mestrado em Economia pelo (IBMEC)Divulgação

Em 18 de outubro, dia de São Lucas Evangelista, se comemora, anualmente no Brasil, o Dia do Médico, profissão que, a despeito da desenfreada abertura de cursos no país nas últimas décadas, segue, ao menos nas universidades públicas, liderando a procura dos alunos por uma vaga. Todos os anos, cerca de 25 mil novos colegas recebem o seu tão desejado CRM - licença para o pleno exercício da profissão - e ingressam no mercado de trabalho em busca de realizar um sonho de infância, muitas vezes, ou apenas obter, num país em que a média histórica de crescimento econômico é inferior a 1% anual nas últimas duas décadas, um lugar ao sol por meio de um ofício onde a empregabilidade e a remuneração ainda são acima da média da massa.
Findado o curso, frequentemente, surge a dúvida de qual especialidade deve-se abraçar; se deve-se ou não buscar uma residência médica ou se matricular numa especialização; se ir para uma força militar ou para um concurso civil é uma opção; se é melhor buscar um plantão, e fazer um dinheiro, ou, mais recentemente, abrir uma conta em rede social e tentar monetizar com vídeos. Se antes mirávamos nos catedráticos e imortais da Academia Nacional de Medicina como referências, hoje, ao que percebo, os influencers têm feito a cabeça dos jovens médicos.
Talvez algo que passe ao largo da mentalidade médica durante sua formação sejam as possibilidades que existem para além desta carreira, mas que a partir dela o profissional obtenha uma condição sui generis num determinado mercado de trabalho. Dada a sua característica meio técnica, meio arte; meio exatas, meio humanas; meio tecnológica, mas meio artesanal, a Medicina confere uma versatilidade tamanha que transcende, e muito, a mera possibilidade de se ser um bom dermatologista ou um ícone da cirurgia. Abre a porta para a carreira de gestão, de pesquisador, de professor, de consultor e de tantos outros ofícios não médicos, mas que se consolidam a partir da arte hipocrática.
Jorge Moll e Dulce Pugliese, megaempresários brasileiros, que figuram no rol restrito de empreendedores bilionários, vieram da Medicina; Guimarães Rosa e Pedro Nava, ícones de uma época em que escritores nacionais produziam uma literatura de vanguarda e, ao mesmo tempo, perene, eram médicos; Cininha de Paula e Sérgio Britto, próceres do teatro cursaram Medicina; Lírio Parisotto, ídolo de uma penca de gente que têm o sonho de fazer fortuna no mercado financeiro, e Michael Burry, o homem que previu a crise do subprime americano (e com isso fez fortuna com uma inovadora operação de derivativos apostando no colapso das hipotecas imobiliárias), ambos são médicos; o zero dois da política nacional, Geraldo Alckmim, e o líder da poderosa bancada de deputados federais do Progressistas, Luizinho, passaram pelos bancos de uma escola de Medicina…
Neste mês em que celebramos os profissionais que, por vocação ou opção, se dedicam ao ofício do escritor do terceiro Evangelho de Jesus Cristo, para além de cumprimentar os meus mestres e contemporâneos de formação, gostaria de deixar, aos mais jovens, que estão em fase final de formação ou recém formados, uma lembrança de um ensinamento que recebi ainda no 1º ano da faculdade que pode lhes ser útil na sua famigerada dúvida entre prestar a prova de residência do Massachusetts General Hospital ou fazer um curso de Medical Business da Faculdade Mar Atlântico: “quem sabe só Medicina, não sabe nem Medicina”!
* Marcus Vinicius Dias, médico e gestor, servidor de carreira do Ministério da Saúde, com MBA em Gestão pela USP e Mestrado em Economia pelo (IBMEC)