Júlio Furtado é orientador educacional e escritorDivulgação

O discurso sobre diversidade é um tema recorrente nas escolas e na sociedade como um todo. Embora seja amplamente discutido, a prática efetiva desse discurso ainda enfrenta desafios significativos.

A diferença entre saber o discurso de cor e implementá-lo na prática é um obstáculo que precisa ser superado para que a diversidade seja verdadeiramente incorporada nas práticas escolares.

A expressão "aceitar e respeitar as diferenças" é frequentemente utilizada, mas seu significado profundo muitas vezes não é totalmente compreendido. Lidar com as diferenças vai além da simples aceitação do outro; envolve também a compreensão e aceitação das próprias diferenças e o reconhecimento das diferenças históricas que moldaram a sociedade.

Essa abordagem multidimensional é essencial para promover uma verdadeira inclusão.
O currículo escolar desempenha um papel crucial nesse processo. Ele deve ser mais do que um referencial teórico; precisa dinamizar as relações humanas e promover a auto-organização em torno da reciprocidade entre as pessoas e o ambiente em que vivem. Um currículo que valoriza a diversidade deve permitir a expressão multicultural e o confronto de diferentes perspectivas, como exemplificado pela história contada tanto pelos colonizadores quanto pelos colonizados.

No entanto, a escola ainda enfrenta a influência de paradigmas epistemológicos tradicionais, como o comportamentalismo, que vê o aprendizado como mera acumulação de um conhecimento que já está pronto, apenas esperando para ser aprendido. A neurociência, por outro lado, destaca que o aprendizado é um processo dinâmico e interativo, onde novas experiências e conceitos alimentam redes neurais em constante evolução.

Portanto, é crucial que as escolas adotem um paradigma dialogal, incentivando o diálogo entre professores e alunos na construção de conceitos.

A sociedade pós-moderna, descrita pelo historiador Zygmunt Bauman como "líquida", desafia ainda mais a prática da diversidade. Em um mundo onde valores e relações são voláteis, a escola precisa atuar como um espaço de resistência, promovendo valores de aceitação e respeito pelo outro. Isso requer uma mudança de paradigma, do culto à homogeneidade para a valorização da alteridade, onde se reconhece o direito de cada indivíduo ser único. Requer, acima de tudo que convertamos nosso olhar avaliativo num olhar contemplativo do outro.

A alteridade, ou a capacidade de ver e respeitar o outro com todas as suas peculiaridades, é fundamental para o exercício da cidadania e para a construção de relações pacíficas e respeitosas. Na prática educacional, isso significa não apenas aceitar as diferenças, mas também agir concretamente para integrar todas as vozes na comunidade escolar. Os movimentos de educação para a diversidade, embora nomeados de formas diferentes ao redor do mundo, compartilham esse objetivo comum.

Portanto, para que a escola se torne um verdadeiro espaço de diversidade, é necessário romper com perfis idealizados de alunos e professores e desenvolver currículos que promovam a inclusão e o diálogo. Somente assim será possível transformar o discurso da prática em prática do discurso, criando uma escola que não apenas fala sobre diversidade, mas que a vive e a celebra em todas as suas dimensões.
Júlio Furtado é orientador educacional e escritor