Antônio Carlos Matos da SilvaDivulgação
A cada avaliação, o SUS reunirá dados reais de eficácia e custo, preparando-se para um cenário em que mais de 2.100 terapias avançadas estão em desenvolvimento (ASGCT, 2025). O setor pode movimentar US$ 100 bilhões até 2033 (Nova One Advisor, 2024), mas apenas 15 produtos já consumiriam até 20% do orçamento federal em saúde (Vianna et al., 2024). O desafio exige mais que iniciativas pontuais: pede estratégia para estruturar acesso, regulação, inovação e produção.
Nova Indústria
Mariana Mazzucato (2022) defende um Estado capaz de estruturar mercados e financiar resultados, visão que dialoga diretamente com esse desafio. O Brasil já dispõe de instrumentos como a RDC 506/2021, que acelera ensaios clínicos, e centros públicos aptos a produzir vetores virais. Falta, contudo, integrá-los em uma política nacional robusta.
A Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em 2024, pode ser essa oportunidade. Seu sucesso dependerá da coordenação centralizada, metas claras e monitoramento transparente, evitando dispersão entre as seis missões e 19 cadeias produtivas previstas.
Lições internacionais
China, Índia e Reino Unido mostram caminhos distintos. Os chineses negociaram cortes de até 94% nos preços; na Índia, um genérico para doença rara foi lançado por 10% do valor original; no Reino Unido, o consórcio AGORA uniu atores públicos e privados para compartilhar rotas de financiamento e fabricação.
O risco
Se o Brasil não definir hoje como priorizar, produzir e pagar por essas terapias, a conta chegará — sem dados, indústria ou poder de negociação. O modelo de pagamento por desempenho é promissor, mas precisa estar inserido em uma estratégia nacional de longo prazo.
Assumir as terapias avançadas como missão nacional reduzirá dependência tecnológica e posicionará o Brasil como protagonista global, ampliando saúde, inovação e bem-estar social.

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