Rio - Bruna Silva, de 36 anos, mãe do adolescente morto a tiro no Complexo da Maré, quarta-feira, prestou depoimento, na manhã desta segunda-feira, na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. O filho, Marcos Vinicius de 14 anos, foi atingido por um disparo quando estava a caminho da escola durante uma operação da Polícia Civil com o apoio das Forças Armadas. O próximo passo, segundo a DH, é fazer uma reprodução simulada da operação que culminou na tragédia. De acordo com João Tancredo, advogado da família, o depoimento de Bruna durou cerca de uma hora e 30 minutos. Na semana passada, à imprensa, ela afirmou que o filho lhe contou que o disparo partiu de um veículo blindado da Polícia Civil. Nesta segunda-feira, uma testemunha, que estava com a vítima no momento do disparo, também depôs na especializada. "Nós temos uma testemunha importantíssima. Nós temos uma pessoa que viu, que estava lá. Ela vai ser fundamental para seguirmos com as investigações. Nós já ouvimos alguns policiais que estavam ali perto", afirma Fábio Cardoso, chefe das Delegacias de Homicídio do estado. "Vamos agora ouvir todos policiais e vamos periciar todas as armas. Após a conclusão de todos os laudos, vamos montar um cenário com vários questionamentos e vamos fazer uma nova reprodução simulada no local", completa. Na operação, além do adolescente, seis homens morreram. Todos eram traficantes, segundo a Polícia Civil. A testemunha que depôs nesta segunda-feira, é um adolescente de 16 anos, amigo de Marcos Vinicius. "Eles iam todos os dias juntos para a escola", conta Bruna Silva. "Eu falei 'filho você está atrasado e ele disse 'vou correr que vai dar tempo'. Ele chegou à casa do amigo, que estava dormindo, também atrasado. Os dois também tentaram ir à escola, mas estava tendo muito tiro", relata. Bruna também falou sobre a dificuldade em lidar com e os boatos que circulam sobre Marcos Vinicius nas redes sociais. "Criaram um grupo na Internet para dizer que meu filho tinha envolvimento com o tráfico. Perdi meu filho e é uma dor. Essa é uma segunda dor. Agora eu tenho que provar pro estado que meu filho não era bandido, que ele era estudante e estava indo pra escola", desabafa a mãe do adolescente. A diarista diz que ficou sabendo através de amigas as fotos que circulavam do menino. "Quando eu recebi, eu disse que não tinha condições de rebater isso. Elas disseram que fariam isso por mim. O mundo inteiro se compadeceu com a minha dor", declara. "As minhas amigas printaram essa mentira e já passaram para a advogada", completa. Segundo o Bruna, o Ciep Operário Vicente Mariano, escola em que o filho estudava, está sem aulas. "O diretor vai falar com 4ª CRE porque os alunos estão perturbados com a morte do meu filho e pela agressão que eles sofreram quando fizeram manifestação, uma amiga dele tomou uma paulada", comenta. "O meu filho gostava muito de música, adorava Filipe Ret, adorava ficar nas redes sociais. Eu falava para ele tomar cuidado com as namoradinhas, eu tinha muito ciúmes dele", ri. Nesta tarde, a diarista participará de uma ato público em frente à Assembleia Legislativa do estado (Alerj), com outras mães que perderam os seus filhos durante operações policiais. "Na minha concepção, acho que o policial não tenha visto que a criança estava de uniforme pela distância. Ele se virou e foi atingido, por um tiro de fuzil. Pelo tipo de lesão que dilacerou diversos órgãos, foi uma lesão significativa pela distância. Tem outras testemunhas, mas elas não conseguem vir por medo. São pessoas que viram tudo, mas moram uma área conflagrada. O colega assistiu tudo e viu a origem do disparo, a versão dele é bem clara. O disparo, segundo ele, veio do blindado. Ele afirma isso com todas as letras. Nós já sabemos que o tiro partiu debaixo e não de cima, quando eles viram o caveirão eles disseram: vamos voltar, quando ele se virou, ele foi atingido. O garoto foi baleado 9h. O amigo estava empurrando a bicicleta e o amigo estava à sua esquerda. E essa não é a única testemunha", conta o advogado da família. De acordo com João Tancredo, os advogados do caso Marielle estão fazendo ações para retirar calúnias sobre Marcos Vinicius da Internet e criminalizar quem as fez. "Essa é uma perversidade comum, a exemplo do caso da Maria Eduarda. Ele era estudante, pobre e morava na favela, precisa criminalizar a vítima para dizer que a ação é correta, e não é. Eles tem que assumir o erro", conclui. A DH já ouviu depoimentos de uma líder de Associação de Moradores da Maré, policiais civis que participaram da operação e de um homem que socorreu o estudante. Este afirmou que viu um blindado da Polícia Civil e o helicóptero da instituição no momento em que o jovem foi baleado. Ainda de acordo com o relato, a rua era de difícil acesso e, por esse motivo, o morador acredita que os agentes possam ter confundido o menino. A Prefeitura do Rio decretou luto oficial de três dias pela morte de Marcos Vinícius. O ato assinado pelo prefeito Marcelo Crivella e publicado nesta segunda-feira no Diário Oficial determina que a bandeira do município seja hasteada a meio mastro nas repartições públicas da cidade durante o período.