Na casa simples, de dois andares, Catra é lembrado em todos os cômodos: na sala, um quadro o retrata ao lado dos filhos; no quarto, a foto de Silvia com seu companheiro por 25 anos; e na escada, o chapéu dado por Raul Gil para o dono dos hits 'Adultério' e 'O Simpático'. Neste primeiro Dia dos Pais sem o "paizão", como é chamado pelos filhos, parte da família vai se reunir para um almoço em homenagem. "Tudo nele faz falta. Essa data era perfeita, porque ele levava todos para almoçar, às vezes tinha churrasco e íamos para praia", conta a filha Noemi Domingues, de 15 anos.
Na parte musical, o primeiro filho de Catra, Allan Domingues, 27 anos, o Mc Alandim, quer continuar o legado do pai, em um estilo que mistura funk e rap. "Descobri que ele era meu pai aos 18 anos, quando já era fã. Está sendo muito difícil sem ele, me sinto sem chão. Mas quero manter a obra dele viva", diz Alandim.
Segundo a viúva, todo o dinheiro guardado pela família foi usado no tratamento do cantor, durante dois anos. "Nós tínhamos certeza de que ele ia sair curado. Catra entrou um touro no hospital, mas a quimioterapia foi arrebentando ele aos poucos. E nem assim deixava de fazer shows e programas de TV. Nunca vi meu marido reclamando de uma dor, ele foi uma fortaleza", relata Silvia, com lágrimas nos olhos.
Hoje, a companheira do MC mantém a casa por meio de trabalhos como digital influencer, no qual dá dicas de relacionamento nas redes sociais, e com os shows dos filhos. "Nosso padrão de vida caiu pela metade, mas não tem ninguém morrendo de fome, todo mundo se ajuda. Sempre morei em comunidade, não tenho nenhum problema com isso".
Entre os amigos famosos de Catra, o único que até agora auxiliou financeiramente foi o cantor Buchecha, que pagou toda a mudança de São Paulo para o Rio. "Foi uma surpresa e tenho muito a agradecer. Meu marido sempre ajudou os outros sem esperar nada em troca. Ajuda quem quer, não fico chateada e nem pedindo. Todo mundo sabia que ele era o provedor da casa", pondera Silvia.
As outras duas companheiras do funkeiro, conta Silvia, "sumiram logo quando ele ficou doente". "É aquela história, quando tem dinheiro e fama tem muitos ao redor. Mas quem ficou com ele diariamente no hospital fui eu".
Com tanta história de um dos precursores do funk carioca, a biografia do Mr. Catra já tem autor certo: o jornalista, compositor e produtor musical Nelson Motta. "Era um sonho do Catra ter sua história contada por Nelson Motta", reforça a viúva. Também está em negociação um documentário sobre a vida do cantor.
"Tinha o Catra funkeiro, estrela, mais liberal e o Wagner pai, rígido, emotivo e muito ciumento, que amava ficar deitado vendo filme e comendo pipoca com manteiga com a gente", lembra a filha Noemi.