Bolsonaro durante último pronunciamento de 2021Reprodução de vídeo

Rio - Durante pronunciamento em rede nacional nesta sexta-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar o passaporte da vacina contra a covid-19, os governadores que implementaram o 'lockdown' e defendeu o armamento e, principalmente, as ações econômicas do Governo Federal durante a pandemia.
Durante sua fala, Bolsonaro buscou justificar o atraso no início da imunização ao afirmar que "não existia vacina no mercado" em 2020. Mas o mandatário deixou de comentar que o governo brasileiro rejeitou no ano passado uma oferta da farmacêutica Pfizer, que estimava a distribuição de 70 milhões de doses de vacina ao longo de 2021. A situação, inclusive, foi ironizada no vídeo de sucesso do humorista Esse Menino.
Algumas regiões do país registraram panelaços como movimento de oposição ao governo Bolsonaro. Além do Rio de Janeiro, foi possível ouvir o protesto em Brasília, Salvador, São Paulo e Florianópolis. Mais cedo, em vídeo publicado nas redes sociais, o mandatário havia ironizado o protesto que ocorreu enquanto ele discursava ao vivo.
Nos últimos dias, Bolsonaro vem recebendo críticas nas redes sociais por estar passando férias no litoral catarinense enquanto a Bahia passa por uma crise devido às chuvas e enchentes que assolam o estado durante o mês de dezembro. De acordo com Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec), as chuvas deixaram 33.247 desabrigados, 57.243 desalojados, 25 mortos e 517 feridos. No total, 661.208 foram afetados.
O que diz a ciência
O Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz divulgado no dia 10 de dezembro reforçou a necessidade de monitoramento da circulação das pessoas pelas ruas, com as celebrações de fim de ano e as férias escolares. Apesar da melhora dos indicadores epidemiológicos da covid no país, o documento ressalta que merecem atenção fatores como o aumento do fluxo de pessoas e a dispersão mundial da Ômicron, nova variante de preocupação. "Embora o avanço da cobertura vacinal no país esteja trazendo benefícios inegáveis para a mitigação da pandemia, esta estratégia não pode ser tratada como a única medida necessária para interromper a transmissão do vírus entre a população", diz o boletim.
Diante desse cenário, os pesquisadores defendem como medida fundamental o passaporte de vacinas. Eles ressaltam que as mudanças no cenário epidemiológico - no Brasil e no mundo - com relação à transmissibilidade e à disseminação das novas variantes, e as notas técnicas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontam recomendações que visam estabelecer uma nova política de fronteiras e de restrições, alinhadas às medidas de outros países, que indicam uma convergência no sentido de que os certificados de vacinação contra a Covid-19 sejam requeridos para ingresso em seus territórios.

“Mantemos a defesa incondicional do passaporte vacinal, inclusive pela liberdade de todos aqueles que têm enfrentado a covid-19 com a responsabilidade que ela exige, para que possam voltar às suas atividades laborais e de lazer com segurança. Endossamos a importância de se exigir o passaporte vacinal de todos aqueles que ingressarem no país, como forma de mitigar a circulação do vírus e variantes. Grande parte dos países põem restrições para evitar o alastramento da covid-19 nos seus territórios. O Brasil não pode caminhar na contramão, sob o risco de se tornar o destino de pessoas não vacinadas, que oferecem mais riscos para a difusão da doença”, afirmam no texto.
Bolsonaro voltou ainda a defender a prescrição médica para a vacinação infantil, no que é considerado pelos especialistas um atraso na estratégia necessária para controlar a pandemia. Na última terça-feira, a Fiocruz divulgou uma nota técnica na qual enfatiza a importância da vacinação contra a covid-19 em crianças. A publicação ressaltou que a imunização da faixa etária de 5 a 11 anos vai colaborar com a redução das formas graves e mortes provocadas nesta faixa etária.
"Embora crianças adoeçam menos por covid-19 e menos frequentemente desenvolvam formas graves da doença, elas transmitem o vírus na comunidade escolar e também fora dela. A vacinação de crianças é, portanto, uma alternativa robusta para garantir a continuidade de oferta de escola na forma presencial", diz a nota.