Anna Beatriz ficou internada por 25 dias no Hospital Geral de Nova IguaçuReprodução / Redes sociais

Rio - "Foram 25 dias de medo, desespero, agonia e tudo de ruim que um ser humano possa sentir." Essa é a descrição do último mês vivido pela assistente operacional Eliana Ribeiro, de 44 anos. Sua filha Anna Beatriz Mendes teve o braço amputado após uma tentativa de feminicídio sofrida no dia 11 de dezembro no bairro de Santa Rita, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Agora, a família organiza uma vaquinha on-line a fim de conseguir uma prótese para a menina de 15 anos.
Após 25 dias no Hospital Geral de Nova Iguaçu, a adolescente, conhecida como Bia, recebeu alta e pôde voltar para casa. "Hoje, mais aliviada, venho agradecer primeiramente ao Senhor Jesus por ter dado outra oportunidade à minha filha Anna Beatriz. Todas as orações que foram feitas, todo pensamento positivo... Enfim, obrigado a todos pelas mensagens de carinho", agradeceu Eliana. A volta, no entanto, também ficou marcada por mais um momento triste. Depois de uma cirurgia que durou 6 horas no Natal, Bia precisou ter o braço amputado. 
"Ela passou por cirurgias no pulmão e no pescoço. No braço, foram 6 horas de cirurgia. Tentaram fazer o possível para salvar o braço. No dia 25 de dezembro, marcaram uma cirurgia porque o braço não estava respondendo. Então, tiveram que amputar uma parte. Ela ficou 22 dias no CTI", contou a autônoma Lorrane Mendes, de 22 anos, irmã da adolescente.
"Quando minha irmã acordou da cirurgia, ela ainda não tinha visto. Ela ainda estava entubada, só viu no outro dia. Quando viu o braço, ela chorou muito, ficou muito abalada. Ela ficou entubada por vários dias, só tem 15 anos... Então, foi muito difícil, ela tinha poucas chances de sobreviver. Pensar nisso que aconteceu, dói muito no coração da família toda", desabafou Lorrane.
Os ferimentos foram causados por Mateus Coutinho Marins, de 22 anos, preso um dia após o crime. Segundo testemunhas, Bia estava em casa quando um outro rapaz, que não teve a identificação revelada, a chamou para ir em uma pracinha que ficava próximo à casa dela.
No caminho, o jovem disse que precisava ir na casa de Mateus para buscar um "negócio", mas não especificou o que era. Bia não queria ir, mas foi convencida pela insistência. Já na Rua Nelson Piquet, onde o agressor morava, o rapaz perguntou se a adolescente "ficaria" com Mateus e logo recebeu uma reposta negativa. Os dois, inclusive, se conheciam apenas de vista e nunca tinham tido contato.
Chegando na residência, os jovens ficaram conversando enquanto Bia esperava no lado de fora. Após um tempo, um deles apareceu e jogou uma bebida na menina. Com isso, ela decidiu entrar para se limpar.
"Quando minha irmã entrou na casa, o Mateus atacou ela na cabeça. A Bia caiu, mas conseguiu levantar meio abalada. Então, ele esfaqueou ela no pescoço, na barriga e no braço. Ele deu muitas facadas no braço", relatou Lorrane.
Mateus conseguiu fugir, mas foi preso em flagrante na manhã do dia seguinte. No momento, ele está detido preventivamente por feminicídio e o juiz encaminhou o processo ao Ministério Público. De acordo com as investigações, doze facadas atingiram órgãos vitais da menina. Além disso, o agressor só teria parado o ataque porque a faca quebrou. Na arma utilizada, escritas como "arrogantes", "LGBTs", "adúlteras" e "petistas".
Mesmo ferida, Bia conseguiu correr e pedir por ajuda. Outros moradores da rua a socorreram e ligaram para a família da adolescente. Lorrane e Eliana, então, correram para o cenário de horror. Uma das pessoas se prontificou a encaminhar a menina ao Hospital Geral de Nova Iguaçu, onde ela foi internada.
Feliz com melhora física da Bia, a irmã acredita que a família ainda precisa melhorar na parte da saúde mental. "Graças a Deus, ela conseguiu sobreviver e está em casa, se recuperando. Como está muito recente, ela ainda está muito abalada. A gente crê em Deus que vamos conseguir superar isso. Ela tem muitos sonhos... É nova, gosta de maquiagem, gosta de anime. Ela é muito inteligente, uma pessoa muito amada, muito carinhosa", descreveu Lorrane.
Agora, o próximo passo é buscar uma prótese biônica para Bia. Em busca de ajuda financeira, a família organizou uma vaquinha, que pode ser acessada neste link. Nas redes sociais, Lorrane publicou um texto que está sendo compartilhado para divulgar a arrecadação.
"Anna Beatriz é uma guerreira. Uma pessoa linda, maravilhosa, inteligente e com muitos sonhos. Sei que ela vai conseguir realizar todos", escreveu.
* Reportagem feita pelo estagiário Fred Vidal sob supervisão de Thiago Antunes