Sepultamento de Alex Souza, baleado e morto na comunidade Kelson's, o sepultamento aconteceu no cemitério de Irajá.Cleber Mendes
Parentes e amigos foram ao funeral para se despedir de Alex. Robson dos Santos, de 40 anos, falou sobre o filho com a voz embargada: "É um momento muito difícil. Será que qualquer outra pessoa mereceria morrer do jeito que morreu, com um tiro nas costas? Sem tiroteio, sem nada. Com um monte de populares na rua? O povo estava todo na rua, cheia de crianças. Um garoto de 19 anos, cheio de vida pela frente, será que merecia isso?"
Um dos ex-técnicos de futebol de Alex, Cleiton lembrou a paixão do adolescente pelo esporte.
Quando recebeu a notícia da morte de Alex, Cleiton disse que ficou sem chão: "Quando comentaram que tinham baleado uma criança, eu já não fiquei com a cabeça muito boa. Mas quando falaram que foi o Alex, não tive mais chão. Eu e minha mulher trabalhamos juntos com os jovens e vamos intensificar mais ainda. Não podemos salvar todos, mas o que pudermos fazer, faremos para que esse tipo de covardia não aconteça novamente".
Durante o velório, Robson, que diz que chegou no local do crime em menos de 5 minutos após o disparo que matou Alex, desabafou sobre a situação de despreparo da polícia que deixa a comunidade Kelson's em situação de vulnerabilidade: "Acabei de ver o corpo do meu filho em um caixão e gostaria de dizer que os polícias são despreparados e são um grupo de extermínio. A comunidade já vem sofrendo de diversos abusos há uns seis meses. Meu filho agora está deitado em um caixão, falar que tinha arma, que tinha droga é fácil. Quero ver provar. Cadê a arma? Cadê droga? Rádio? A polícia é despreparada. Quem é pago para defender mata mais que defende. Pode puxar quantos jovens já morreram esse ano pra ver se é mentira o que eu estou falando. Nem se fosse bandido merecia morrer do jeito que morreu. Eles são exterminadores. Não é porque mora na favela que todo mundo é bandido".
A Polícia Militar afirma que houve confronto na comunidade na manhã da morte de Alex, versão que é contestada pela família. Em nota, a PM informou que policiais do 16º BPM (Olaria) que participaram da ação foram atacados a tiros por criminosos armados e houve confronto. "Após cessarem os disparos, os policiais encontraram um indivíduo ferido. Ainda de acordo com os agentes, o homem portava um simulacro de pistola, dois rádios comunicadores e drogas. Os militares tentaram socorrer o indivíduo, mas, neste momento, populares atiraram pedras e outros objetos na equipe, que foi atacada novamente por criminosos armados", informa o comunicado.
A corporação disse ainda que foi um homem que socorreu o jovem ferido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. A ocorrência foi registrada inicialmente na 22ª DP (Penha).
Após a morte do jovem, um Posto de Policiamento Comunitário (PPC), base policial da Comunidade Kelson's, foi atacado por moradores da região depois de policiais do batalhão serem alvos de criminosos armados. Em vídeos, moradores revoltados com o ocorrido aparecem atirando objetos em uma viatura da Polícia Militar, que trafegava pelas ruas da comunidade. Imagens também mostram a coluna de fumaça causada pelo incêndio na PPC, que gerou grande comoção popular no local.
Moradores atiram objetos contra viatura da PM como represália após morte de jovem, na Comunidade da Kelson. #ODia
— Jornal O Dia (@jornalodia) March 4, 2023
Créditos: WhatsApp O DIA pic.twitter.com/wOMReG8FupPPC da Polícia Militar é incendiado após morte de jovem, neste sábado (04), na Comunidade da Kelson.#ODia
— Jornal O Dia (@jornalodia) March 4, 2023
Créditos: WhatsApp O DIA pic.twitter.com/1yGRYHfH13
Os policiais envolvidos na morte do jovem utilizavam câmeras operacionais portáteis no uniforme. Segundo a PM, as imagens estão sendo analisadas pela Corregedoria Geral da corporação.
De acordo com o comando do 16º BPM, os policiais envolvidos na ocorrência foram ouvidos e será aberto um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Os agentes tiveram suas armas recolhidas para perícia. Outras testemunhas também foram intimadas a prestar depoimento. "Diligências estão sendo realizadas para esclarecer todos os fatos", pontuou.
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