lex Souza Araújo dos Santos, de 19 anos, foi federado e jogou pelo clube Real Maré durante o campeonato carioca amador de futebolReprodução/ Redes Sociais

Rio - "Vamos lutar e correr atrás de todos os órgãos para punir o responsável pela morte do meu filho". A revolta marca a fala de Robson dos Santos, de 40 anos, pai do jovem Alex de Souza Araújo dos Santos, de 19 anos, morto após ser baleado na comunidade da Kelson's, na Penha, Zona Norte do Rio, no fim da tarde deste sábado (4). Familiar nega versão da PM de que jovem foi atingido durante confronto na região.
"Ele estava a menos de dez metros de casa e foi alvejado pelas costas, sem nenhuma culpa, sem estar com nada, só com o celular. É mais um sonho interrompido por um tiro. Uma vida inteira pela frente. Um jovem de 19 anos que teve sua vida interrompida por um tiro, por uma execução na comunidade. Já não é o primeiro jovem que morre e não vai ser o último, mas nós vamos lutar por ele até o fim", declarou o pai.
De acordo com Robson, a versão da PM, que diz ter sido atacada por criminosos e iniciado um confronto, é mentira. O parente do jovem diz que vizinhos que presenciaram o ocorrido não ouviram troca de tiros. "Só ouviram esse disparo que atingiu no meu filho, meu primogênito, pelas costas. Uma covardia sem fim", lamentou o morador da comunidade.
"Por isso que todos estão se mobilizando, todos estão falando e dando suas versões. Porque sabem que somos pessoas de caráter, trabalhadoras. Sabem quem ele era e que não tinha envolvimento nenhum", comentou.
Após a morte de Alex, moradores revoltados com a situação incendiaram uma base móvel da PM que fica no interior das comunidade. A estrutura ficava no interior da comunidade, que vivia período de ocupação, desde o fim do ano passado.
A família de Alex esteve no início da tarde deste domingo (5), no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro, para liberação do corpo. Os trâmites, segundo os familiares, teriam atrasado após demora na transferência do corpo do Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, para o órgão de perícia.
A ex-técnica de futebol do jovem, Anna Simões, conhecida como Fofa na comunidade, lembra que Alex conquistou um título recente no futebol amador. "Ele venceu junto com o time do Real Maré o campeonato da série B amadora carioca de futebol", comentou a Fofa. 
Segundo ela, o jovem era um menino especial e tinha um comportamento tímido fora dos campos, mas se mostrava completamente diferente com a bola nos pés. "Ele era na dele, falava pouco, mas de muitos sorrisos. Com a bola no pé, era outra coisa. Era extrovertido. Ele se soltava, era feliz e alegre. Dava para ver que ele amava jogar bola, até por isso foi para vários lugares", lembrou Fofa, que disse ter levado o jovem para testes em vários clubes como Fluminense, Duque de Caxias, Queimados e Macaé. 
"Em alguns deles, ele só não ficou por causa da questão financeira. Muitas vezes não dava para manter passagem e alimentação, então acabava não dando certo", disse. 
Para o professor de história e amigo da família, Walmyr Junior, de 39 anos, a morte do jovem reforça a insegurança vivida pela população negra nas comunidades, que acaba impedida de ir e vir por causa da violência. 
"Para a polícia militar, todo jovem de favela é bandido. É um racismo estrutural que existe. A narrativa apresentada no registro do 16º BPM não condiz com a realidade dos fatos. Alex era um jovem que estava desempregado sim, mas era um jovem morador da comunidade que tem acesso a andar por qualquer rua da favela, qualquer beco e viela. A gente se locomove para ir para a casa de um parente, de um amigo. A gente anda. O território é nosso. A gente não vai ter direito nem de andar pelas ruas da favela? Tem que acabar com a impressão de que o local em que ele foi assassinado era um local de conflito", comentou Walmyr. 
O ativista ainda criticou a atuação da Polícia Militar no interior da comunidade: "Essa ocupação militar aqui não tem uma institucionalidade. Nós temos uma base da PM dentro da favela e com o caveirão permanente. Onde que nós temos tranquilidade e de política de pacificação com o caveirão fazendo ronda na favela toda hora", questionou.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A especializada ouviu os policiais militares que participaram da ação. Os agentes tiveram suas armas recolhidas para perícia. Outras testemunhas também foram intimadas a prestar depoimento. "Diligências estão sendo realizadas para esclarecer todos os fatos", pontuou.