Dilceia Nascimento, morta após ser atropelada por um sargento do Exército, é enteraada neste domingo (5)Anna Clara Sancho / Agência O Dia
Cerca de 100 pessoas estiveram presente no velório e no enterro. Duas filhas de Dilceia cantaram um louvor abraçadas ao lado do caixão da mãe. Demais familiares se despediram da diarista com um beijo em seu rosto.
De acordo com um dos filhos da vítima, o mecânico Wallace dos Santos, de 36 anos, Dilceia era uma mulher forte, guerreira e sempre apoiou os filhos. "Dói muito perdê-la precocemente, principalmente da maneira que foi. Ele (o motorista) sozinho conseguiu acabar com uma família e com o círculo de amizade que a minha mãe tinha com todos".
Wallace contou que a mãe chegou a realizar a maioria dos seus sonhos: "Éramos uma família de quatro filhos e ela sempre esteve presente nas nossas vidas, deu apoio o tempo todo, mesmo depois de a gente atingir a maioridade. Conseguiu dar todo o suporte que ela achava que era suficiente para nos tornamos homens e mulheres com dignidade e postura e eu tenho muito orgulho de ter sido filho dessa mulher. Ela serve de exemplo pra todos os que estão aqui. Tenho certeza que ela deixou um legado muito bom. Isso que consegue me confortar, isso que dá ânimo e força para a gente continuar a nossa caminhada sem ela. Vai deixar saudade, mas a saudade será suprida pela mulher que ela foi", disse emocionado.
A dona de casa Fabíola Maciel, de 33 anos, é amiga das filhas de Dilceia desde criança e sempre conviveu com a família. Com lágrimas nos olhos, afirmou que a vítima era muito importante para todos que a conheciam: "Não tenho palavras para descrevê-la, muito alegre e feliz, sempre fez o bem para todo mundo. Uma mulher muito importante, de quem vamos sentir muita falta", disse Fabíola.
O motorista que atropelou e matou Dilceia foi identificado como o militar Odilon Bustamante e, segundo testemunhas, ele estava embriagado no momento do acidente. Wallace contou que, após atingir Dilceia na calçada, com o carro desgovernado, Odilon atirou para o alto e fugiu sem prestar socorro. Segundo Wallace, o delegado considerou como homicídio culposo, quando não há a intenção de matar.
"As pessoas não podem fazer isso, beber e sair para dirigir, achar que está tudo certo. Temos que convocar todo mundo, político, deputado estadual, federal, todo mundo para mudar essa lei. Quando um cara bebe e sai armado, ele está assumindo o risco de matar alguém", desabafou o mecânico.
Para Paulo Cesar, de 58 anos, motorista de aplicativo e cunhado da vítima, o acontecimento foi uma fatalidade: "Dilceia era gente boa, querida na comunidade e na rua que a gente mora. Tudo era 'cheirosa para cá', 'cheirosa para lá'", contou Paulo, referindo-se ao apelido da vítima. "A cachorrinha dela, a Pipoca, ainda fica procurando por ela", finalizou chorando.
Segundo o motorista de aplicativo, Odilon estava dormindo na hora do incidente e acordou com a batida. Ele então saiu do carro, se ajoelhou dizendo que era polícia e pediu desculpas. Em seguida, deu dois tiros para o alto. Neste momento, uma pessoa retirou a arma de Odilon. O sargento parou um mototáxi, subiu no veículo e fugiu do local, abandonando o carro. "Há menos de uma semana estávamos na Região dos Lagos, a família toda curtindo, se divertindo", lembrou o cunhado de Dilceia.
Odilon é conhecido de Wallace e isso gera revolta no filho da vítima: "Ele não era amigo, mas tinha um certo vínculo, isso que mais me deixa revoltado. Ele tem que pagar pelo o que fez".
Amigos e familiares pedem por justiça
Em um certo momento do velório, amigas de Dilceia gritaram 'justiça' para chamar a atenção do poder público: "É preciso acordar. Não vamos deixar que a morte dela se transforme em mais uma. Ele (o motorista que atropelou e matou Dilceia) tem que pagar, que o dinheiro dele não compre a Justiça e nem venha pagar uma pensãozinha barata para os filhos dela e para as netas que ela criava. A vida é muito mais do que tudo isso", afirmou sob indignação a amiga Maria do Carmo da Paz, gari.
"Não vai ficar impune. Maravilhosa mãe, avó, amiga e vizinha. Ela estava chegando do serviço quando foi morta. Isso não pode ficar sem punição", completou a copeira Mariele Santos, também amiga de Dilceia.
Wallace dos Santos, filho da vítima, afirmou que tentará de todos os modos possíveis que o sargento seja punido: "A gente só quer que a justiça seja feita. Sabemos que a justiça é falha, mas lutaremos até as últimas consequências. Este homem pela imprudência dele não pode ficar impune. O que vai confortar um pouco é a gente ter justiça", afirmou Wallace.
"Se ele não foi à delegacia no dia do crime ele está assumindo que ingeriu bebida alcoólica, e o delegado colocar no boletim de ocorrência que foi homicídio culposo, que não teve intenção de matar, mesmo ingerindo bebida alcoólica e pegando um veículo é inadmissível. Mas a gente vai tentar, pelo menos, que a justiça seja feita", complementou o mecânico.
Em nota, a Polícia Civil informou que "o caso foi registrado na 33ª DP (Realengo) como homicídio culposo de trânsito e lesão corporal culposa. O motorista se apresentou à delegacia acompanhado de um advogado, neste sábado (4). Os agentes realizam diligências em busca de imagens do local do acidente e levantam informações para esclarecimento dos fatos".
Já o Comando Militar do Leste disse, também em nota, que "a pessoa envolvida é militar do Exército e o caso encontra-se sob a responsabilidade dos Órgãos de Segurança Pública.
Cabe reiterar que o Exército Brasileiro não compactua com irregularidades, repudiando atitudes e comportamentos que estejam em conflito com a lei, com os valores militares e com a ética castrense".
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