Gracy Mary Moreira, bisneta de Tia Ciata e presidente da Organização dos Remanescentes da Tia Ciata (ORTC)Marcos Porto/Agencia O Dia

Rio - Logo na entrada vê-se um manequim negro com vestes de baiana. Para lembrar que a ala dedicada a elas, obrigatória em todas as escolas de samba, foi criada em decreto de 1933 pelo então prefeito do Rio, Pedro Ernesto, como forma de homenagear Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata (1854-1924). Essas e outras histórias ligadas à mãe de santo considerada a matriarca do samba, em cuja casa reuniam-se Pixinguinha, Donga e João da Baiana, agora podem ser melhor compreendidas com a reforma e reformulação da exposição permanente da Casa da Tia Ciata, na Rua Camerino, 5, no Centro.

O endereço é sede da Organização dos Remanescentes da Tia Ciata (ORTC), presidida pela bisneta Gracy Moreira, que toda semana, especialmente às quintas-feiras, está no local para contar a história e o legado da mulher que foi figura central para o desenvolvimento e reconhecimento da cultura afro-brasileira.

"Se hoje temos o maior espetáculo da Terra (o Carnaval do Rio), é porque todo esse movimento surgiu a partir da casa dela, na antiga Rua Visconde de Itaúna, demolida para a construção da Presidente Vargas. Ela acolhia os sambistas que, apesar de perseguidos, tinham liberdade para tocar no quintal dela. Foi assim que surgiu 'Pelo Telefone', primeiro samba gravado no Brasil, por Donga, e 'Ô Abre-Alas', de Chiquinha Gonzaga, que era amiga dela", lembra Gracy.
Ao lado do manequim de baiana, será instalado um tabuleiro, utilizado para a venda de quitutes no ponto em que ela ficava, no início do século 20, na esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua do Ouvidor. Gracy lembra que ela passou a vestir-se com roupas de candomblé para trabalhar, dando origem à uma tradição até hoje vista nas ruas do Rio:

"Ela incentivou todas as quituteiras a se vestirem assim também, dando origem à uma tradição que hoje é tombada como patrimônio cultural do país. Ele foi uma empreendedora".

A exposição mostra não só a história de Tia Ciata em textos e fotos, mas também de locais da região chamada de Pequena África, como as antigas Praça Onze e Zona do Mangue e a Pedra do Sal e o Cais do Valongo:

"Nosso objetivo é apresentar aos jovens nossos heróis e heroínas negras e, com isso, conseguirmos elevar a autoestima deles e mostrar que tudo é possível, que eles podem chegar a qualquer lugar que quiserem".

A Casa da Tia Ciata fica aberta ao público às terças e quintas-feiras, das 14h às 17h; e às sextas, das 14h às 18h30. A programação pode ser acessada no site tiaciata.org.br e pelas redes sociais.

Roteiro turístico, oficinas e roda de samba

A partir deste mês, a programação tem início no dia 10, com o passeio turístico que, começando em frente ao MAR (Museu de Arte do Rio), vai passar pela Igreja São Francisco da Prainha, Largo São Francisco de Prainha, Pedra do Sal, Cais do Valongo, Praça do Estivadores e Jardim Suspenso do Valongo, até a Casa da Tia Ciata.

"Apesar de ser aberto a todos, o passeio tem o objetivo de capacitar guias turísticos sobre os locais da Pequena África", diz Gracy.

Estão previstas também as oficinas de jongo, capoeira e tambor, que serão realizadas no Cais do Valongo, entre abril e dezembro. E a Roda de Samba da Cabaça, na Pedra do Sal, em que, entre uma música e outra, Gracy conta as histórias ligadas à sua ilustre descendente e seu legado. A próxima será no dia 12.