Traficantes Vinte Anos e Hello Kitty foram mortos em confronto com a PM em São GonçaloDivulgação

Rio - O MPRJ solicitou à Justiça a retirada dos nomes dos policiais militares Anderson França e André Luiz Monteiro do rol de denunciados no processo sobre a morte de quatro criminosos na Comunidade de Salgueiro, em São Gonçalo, durante uma operação em julho de 2021. De acordo com o pedido, houve um erro material que incluiu o nome de ambos no processo.
Na ocasião, foram mortos Alessandro Luiz Vieira Moura, conhecido como Vinte Anos, e Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, conhecida como Hello Kitty, que eram considerados lideranças do Comando Vermelho (CV) na comunidade. Mikhael Wander Miranda Marins e Victor Silva de Paula Faustino também morreram.
Em entrevista a O DIA, a promotora de Justiça Renata Bressan explicou que a solicitação, feita na sexta-feira (3), aconteceu depois do MPRJ identificar que os nomes dos cabos da PM foram incluídos acidentalmente no processo. Ambos os agentes não atuaram na comunidade no dia da operação que resultou na morte dos criminosos.
"Aconteceu um erro material. Isso acontece quando você escreve errado ou, no mundo jurídico, você faz uma afirmação que vai condenar, mas pede a absolvição que obviamente está desconectada de todo o acervo. A denúncia foi feita para o comandante do batalhão na época e para policiais do Grupamento de Ações Táticas (GAT). Esses dois policiais não eram integrantes do GAT na época. Nunca houve dúvida sobre isso. Acontece que havia uma listagem dos policiais que estavam no Inquérito Policial Militar (IPM) e lá eles figuram como investigados. Nunca houve dúvida que eles não foram aos locais de fato. Houve um erro acidental na inclusão e tão logo pedimos a retificação", explicou a promotora.
Anderson e André viraram réus, assim como outros nove policiais militares, depois da Justiça aceitar a denúncia do MPRJ contra eles. Com o pedido do Ministério Público, a Justiça irá analisar se retira ou não o nome dos agentes do processo. Os outros nove policiais continuam como réus.
Questionado, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) informou que o processo tramita sob segredo de justiça e está em fase de citação, aguardando a apresentação de defesa preliminar. 
Entenda a denúncia
O MPRJ informou que a atuação da Promotoria no caso acontece em cumprimento da ADPF 635 do Supremo Tribunal Federal (STF), com o devido exercício do controle externo da atividade policial. As investigações apontaram que a operação foi realizada fora dos padrões previstos na citada legislação, e que as declarações posteriores dos policiais estavam em desacordo com os vestígios apurados, mostrando que, propositalmente, os mesmos não reportaram os fatos reais.
A denúncia relata que os agentes públicos, à época lotados no 7º BPM (São Gonçalo), ao concorrerem para a execução do crime de homicídio contra Ricardo Severo, conhecido como 'Faustão', deslocaram-se pelo bairro Itaoca, cumprindo ordens de um dos denunciados, o então comandante do batalhão na época Gilmar Tramontini, e executaram a morte das vítimas, mediante disparos múltiplos de armas de fogo.
"O desempenho da atividade policial jamais pode se desenvolver por meio de planejamentos espúrios, nem adotar contornos distantes do ordenamento vigente, mas tem que ser pautado pela estrita legalidade", diz um trecho da denúncia.
Quem era Hello Kitty e Vinte Anos
A quadrilha de Vinte Anos era da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA) e se aliou em 2019 ao CV, durante os confrontos entre o CV e o Terceiro Comando Puro (TCP) na disputa pelo controle do tráfico de drogas das comunidades da Coréia, também em São Gonçalo. O bando atuava de forma violenta para executar suas vítimas e desafetos.
Quem também seguiu o mesmo rumo de Vinte Anos foi o seu braço direito no comando da Nova Grécia, a traficante Hello Kitty. Ela era apontada pela polícia como a responsável por diversos roubos em Niterói e São Gonçalo e figura presente no controle do tráfico de drogas da comunidade. A traficante, inclusive, apelidou Alessandro como seu 'padrinho' no mundo do crime.
Alessandro Luiz ascendeu à liderança da Nova Grécia no início da década de 2000, até ser preso em 2008. Após cumprir parte da pena, ele conseguiu a progressão para o regime semiaberto no Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro, de onde fugiu em dezembro de 2017. Ainda preso, ele teria conseguido articular o apoio de criminosos da ADA para ocupar a Nova Grécia e voltar ao antigo comando do tráfico no local.
Investigações policiais dão conta ainda de que Rayane estaria presente em quase todas as invasões articuladas por Vinte Anos. Nas redes sociais, a jovem tornou-se conhecida por colocar fotos em que aparece posando com armas.