Enterro de Uesclei da Silva Estácio, de 29 anos, morto por um tiro na cabeça quando voltava para casa, na Comunidade do Tirol, na Freguesia. No cemitério de Inhaúma. Na foto, a irmã Suelen Batista (cabelo curto) e a mãe Sueli Batista sobre o caixão.Pedro Ivo/ Agência O Dia

Rio – Uesclei da Silva Estácio foi sepultado, na tarde desta terça-feira (7), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte. O desenhista e montador de caixas morreu aos 29 anos com um tiro na cabeça quando voltava para casa, na Comunidade do Tirol, na Freguesia, na Zona Oeste do Rio, no início da madrugada de domingo (5).

Familiares e amigos se reuniram para o último adeus. Eles levaram cartazes com as frases "O sangue de um inocente é semente de união e luta por justiça. #paremdenosmatar" e "Meu irmão não merecia isso" e também vestiram uma camisa com uma foto de Uesclei. 


Sueli Batista da Silva, diarista de 47 anos e mãe de Uesclei, lembrou do filho como uma pessoa sorridente e trabalhadora: "Ele brincava com todo mundo, não tinha nada envolvido com drogas, nunca foi. Ele era unido com a família".

A mulher comentou como o acidente ocorreu e afirmou que o filho não foi socorrido pela polícia: "Ele estava saindo da casa da irmã à 1h, estava tendo tiro. Aí o tiro veio de baixo para cima, ele tentou se esconder atrás do carro. Mas o tiro foi fatal no menino. Não socorreram o menino, não. Deixaram o menino que nem cachorro ali no chão. Quando eu fui saber que o menino estava no chão, eu saí correndo. Ele estava botando muito sangue pela boca, pelo nariz. Ninguém quis socorrer, bombeiro não subia, Samu não subia. Depois de muito tempo arrumaram um vizinho pra ajudar. Fui no carro falando com ele: 'filho, vai dar certo’. Chegando no (Hospital) Lourenço Jorge fizeram um negócio, mandaram para o (Hospital) Miguel Couto e lá ele veio a óbito", afirmou a mãe de Uesclei.

"Quero justiça pelo o que eles fizeram com o meu filho", afirmou. "Rapaz novo, sonhos pela frente, ia casar. Eu vou brigar pelo o meu filho, e a irmã e os amigos de trabalho dele também", completou Sueli.

A irmã Suelen Batista contou que Uesclei assistia a um filme na casa dela, como de hábito aos fins de semana, e foi baleado ao voltar para casa.
"Ele estava lá em casa, assistindo a um filme, como era de costume, a gente marcava de ver filme todo fim de semana. Ele saiu bem da minha casa, por volta de meia hora depois começou a ter tiroteio. Ele estava indo para casa dele, ele estava atrás de um carro quando foi atingido. E ele ficou lá, ninguém socorreu meu irmão. Veio minha mãe correndo gritando 'alguém me ajuda'', disse a jovem.

"Não é só porque o meu é preto que é bandido. Ele não era bandido. A gente quer paz. Foi mais um inocente. Até quando vamos ter que pagar por isso? A gente só quer justiça, só isso. Justiça para o meu irmão. Amanhã será quem? Pode ser qualquer um de nós", desabafou Suelen.

A família alega que não foi bala perdida de confronto entre policiais e traficantes. "Não foi bala perdida. A bala veio de policial, sim. Eles estão invadindo casa de morador, entrando na casa de morador, quebrando casa de morador. Isso eu não concordo", disse Sueli.

Ela também faz questão de refutar que, na hora do tiroteio, estivesse acontecendo uma espécie de baile funk na localidade: "Não tinha baile algum. Meu irmão estava saindo da casa da minha irmã após assistir um filme. No meio do trajeto de 15 minutos até a casa dele, tudo isso aconteceu".
Nesta segunda-feira (6), moradores fecharam a Avenida Geremário Dantas, em Jacarepaguá, em protesto à morte de Uesclei e Ruan, ocorrida na comunidade do Caicó, também durante operação neste domingo (5).

Os moradores ficaram na altura da Estrada da Covanca, no Pechincha, por volta de 30 minutos. A PM e a Guarda Municipal foram acionadas para que a via fosse desobstruída. Além disso, a Comlurb esteve na avenida para realizar a limpeza dos materiais queimados durante a manifestação.

Sobre a morte de Uesclei, a PM informou que equipes do 18º BPM (Jacarepaguá) foram atacadas por criminosos escondidos em uma área de mata. Após a troca de tiros, os policiais receberam a informação de que um homem tinha dado entrada no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.

A corporação informou ainda que o comando da Polícia Militar colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil e, paralelamente, instaurou um procedimento para apurar as circunstâncias dos fatos.

A ocorrência foi registrada na 41ª DP (Tanque).