Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, no Centro do Rio, foi interditada por problemas estruturaisGoogle Street View
Alunos da escola de teatro Martins Penna ficam sem aula após interdição de casarão
Estudantes apresentaram diversos problemas de estrutura na unidade que fica no Centro do Rio
Rio - Estudantes e ex-alunos da Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, localizada no Centro do Rio, começaram um movimento para exigir do Governo do Rio melhorias na estrutura do espaço centenário ligado à Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec). A escola foi interditada pela Defesa Civil nesta terça-feira (7) no segundo dia após o retorno do ano letivo.
De acordo com os alunos, a Martins Penna está com problemas estruturais graves que põem em risco a segurança e a vida da comunidade escolar e da comunidade externa. O Teatro Luiz Peixoto, espaço dentro da unidade, está interditado por conta de um problema com cupins na estrutura de seu mezanino. A preocupação dos estudantes é que o mezanino ceda e caia.
Outro problema ainda mais antigo e sério, segundo os estudantes, é a estrutura do casarão do século XIX que compõe os espaços da escola. Há registros de infiltrações, desníveis no assoalho e mofo em diferentes locais.
A sala Claudinete, no segundo andar do casarão, apresentou problemas em sua estrutura, com o aparecimento de uma rachadura em uma das paredes e a interdição de sua sacada, que tem iminência de cair. Segundo o Grêmio Estudantil da escola, a rachadura na parede só aumenta e as portas da sala já começaram a empenar, o que mostra que há uma movimentação da estrutura que pode ceder.
A estudante Lorena Araújo, de 24 anos, que está cursando o segundo ano, revelou que apenas dois espaços da escola são seguros no momento, mas, como são dez turmas, fica impossível a continuidade do ano letivo no local. A aluna ainda contou que não há previsão de obras na estrutura e os alunos não tem para onde ir.
"Há anos o casarão vem apresentando problemas estruturais. Temos relatos de alunos de 20 anos atrás que apontam os mesmos problemas. Porém, problema agravou no pós-pandemia. É cansativo para todo mundo passar por isso. Pensando que a Martins Penna é a escola de teatro mais antiga da América Latina, é inacreditável pensar que estamos implorando por um espaço seguro para estudar. A Martins para mim é a possibilidade de ter acesso ao teatro de maneira pública e de qualidade. Acredito que essa escola seja um polo de fomento cultural e de qualificação técnica no Brasil inteiro. Aqui nós não só aprendemos sobre teatro, mas aprendemos sobre pertencimento, sobre coletivo, sobre grupo", disse Lorena.
Através de sua rede social, o aluno João Mabial também expôs a sua indignação em relação a falta de cuidados do governo com a escola.
"O casarão da Martins Penna onde eu estudo teatro, uma escola centenária, referência e formadora de vários artistas incríveis, está caindo. Vamos dar um basta nesse descaso da Faetec. Esse casarão é onde acontece a maioria das aulas e ele está com uma rachadura enorme com risco de desabar. A sua sacada já foi condenada pela Defesa Civil de risco iminente de queda. Nós queremos estudar! Devemos preservar nossos patrimônios culturais", escreveu.
Quem também se manifestou sobre o assunto foi a atriz Bruna Linzmeyer. A artista participou do curta-metragem Uma Paciência Selvagem me Trouxe Até Aqui, de 2021, que teve cenas gravadas na unidade.
"A Martins Penna é a primeira escola pública de teatro do Brasil que nos acolheu com todo o afeto para os ensaios do filme Paciência Selvagem. É grave e revoltante o descaso com ex-alunes que trazem à tona o comprometimento estrutural do prédio que abriga a escola", postou.
O que diz a Faetec
Questionada sobre o assunto, a Faetec respondeu que, ao assumir a gestão da fundação, em janeiro deste ano, a atual administração realizou imediatamente um levantamento de unidades em manutenção na Rede, no qual foi verificada uma exigência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), para dar continuidade às obras na Escola Técnica de Teatro Martins Penna.
A Faetec explicou que, por ser um imóvel tombado pelo órgão do Governo Federal, foi exigido um estudo de prospecção que já estaria em processo de contratação. A administração ressaltou que possui um prédio reformado para atender os alunos do último módulo do curso e que a interdição foi determinada nesta terça-feira (7) apenas ao casarão tombado no mesmo terreno.
A fundação completou que marcou uma reunião para esta quarta-feira (8) com a comunidade escolar para discutir as opções de espaço que melhor atenda às disciplinas de artes cênicas e não cause perda pedagógica aos alunos.
"Cabe ressaltar que a administração da Faetec está empenhada a solucionar os problemas, considerando legítimas as reivindicações dos alunos e a importância da cultura e da escola na história da Fundação", finaliza a nota.
A reportagem também questionou o Iphan sobre o assunto, mas ainda não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
A Martins Penna
A Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna é uma escola centenária de Artes, sendo a primeira escola pública de teatro do Brasil fundada em 1908. Atualmente, a instituição compõe o quadro das unidades de ensino da Faetec, ligada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro.
Dentre suas atividades, destaca-se o curso regular de formação técnica em Teatro, com duração de dois anos e meio, além de uma série de encontros, seminários, oficinas livres, workshops e outras atividades no universo das Artes e, em especial, no campo das Artes Cênicas.
A “Martins”, como carinhosamente é chamada pela sua comunidade escolar, conta com um importante histórico de atuação no campo da cultura brasileira. Entre seus espaços formaram-se importantes nomes da Cultura e da Performance nacional como, a título de exemplo, Procópio Ferreira, Tereza Rachel, Joana Fomm, Denise Fraga, dentre outros nomes.
Por seu cotidiano, sob a ação docente, transitaram reconhecidos nomes da criação artística e do pensamento como Junito Brandão, Beatriz Resende, Aderbal Freire Filho, Amir Hadad e José Wilker, para citar apenas alguns nomes.
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