Wallace Pereira da Silva, intimado por tentativa de homicídio e lesão corporal, negou que tenha envolvimento com torcidas organizadasMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - As torcidas organizadas Jovem e Raça Rubro-Negra do Flamengo, Young Flu do Fluminense e Força Jovem do Vasco foram proibidas de continuar atuando e tiveram os CNPJs desconstituídos, além de contas, ativos e bens móveis e imóveis bloqueados pela Justiça. A medida foi adotada no curso das investigações da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) sobre atos violentos envolvendo torcedores, em especial o que ocorreu antes do clássico entre Flamengo e Vasco, em 5 de março, no entorno do Maracanã. 
Contra os presidentes das quatro organizadas foram expedidos mandados de prisão temporária. Anderson Azevedo Dias, da Young Flu; Fabiano de Souza Marques, da Força Jovem do Vasco; Bruno da Silva Paulino, da Torcida Jovem do Flamengo e Anderson Clemente da Silva, da Raça Rubro-Negra estão foragidos. Desde segunda-feira (13), dez agentes dividos em cinco equipes realizam buscas por eles. O delegado titular da especializada, Pablo Sartori, apontou que as prisões são importantes para a investigações, mas o bloqueio de bens das torcidas impede que elas continuem atuando. 
"As prisões são importantes, mas volto a ressaltar, me parece que o mais importante no momento, foi o bloqueio da parte financeira. Bloqueando a parte financeira, as torcidas perdem a capacidade de comprar ingressos, se não receberam atavés dos dirigentes dos clubes, perde a capacidade de deslocar aquela massa em ônibus e qualquer outro tipo de transporte e perdem a capacidade, de comprar, às vezes, fogos de artifício que eram usados de forma ilegal, virando aquilo uma arma. No momento, nós não pedimos bloqueio das redes sociais, porque é fonte de investigação", explicou o delegado. 
As principais fontes de renda dessas torcidas são os valores pagos pelos associados, as doações, além das vendas de camisas e bonés. Ainda segundo Sartori, atualmente, são investigadas apenas organizadas do Flamengo, Vasco e Fluminense, porque o time do Botafogo não está mais na disputa pelo campeonato Carioca e o Volta Redonda, que ainda briga pelo título, não tem histórico de violência. Desde o último dia 5, a Polícia Civil criou uma força-tarefa para impedir novos atos violentos e apurar os desdobramentos dos que já ocorreram. 
"Essas torcidas têm um histórico, das torcidas organizadas, de violência, não é de hoje, isso daí é reiterado, toda hora aparece matéria nesse sentido, há anos, anos e anos. O Estado, através da Polícia Civil, resolveu dar um basta nisso, quebrar esse ciclo vicioso", disse o titular da DRCI. A especializada intimou, aproximadamente 120 torcedores por crimes como tentativa de homicídio, lesão corporal e organização criminosa, dos quais, cerca de 50 já foram ouvidos. A expectativa é de que, ao longo da semana, ocorram 30 depoimentos por dia. 
De acordo com o delegado, as investigações chegaram aos torcedores por meio de um trabalho conjunto com o Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios. "Nós, num trabalho em conjunto com o Batalhão Especializado em Estádios, que já vem monitorando o grupo de torcedores em si, eles nos passaram uma lista e, através dessa lista, nós estamos ouvindo mais de 100 torcedores de todas essas torcidas. Eles são ouvidos para tentar identificar se participaram, qual participação e se há, efetivamente, uma imputação criminal a ele".
Entre as oitivas desta terça-feira (14) na Cidade da Polícia, está a de Wallace Pereira da Silva, intimado por tentativa de homicídio e lesão corporal. O homem é vascaíno e seria ligado a Força Jovem do time, mas negou que ainda tenha envolvimento com a torcida organizada e que participou das brigas que antecederam o clássico entre Flamengo e Vasco. Entretanto, ele confirmou que assistiu à partida no estádio do Maracanã, na Zona Norte do Rio. 
"Eu não estava (envolvido em brigas). Acabei de falar para eles puxarem na câmera da CET-Rio, eu sou gordinho, facilmente reconhecido. Puxa na câmera da CET-Rio e vai ver que eu não tenho vínculo algum. No Maracanã eu fui, sou um torcedor comum, tenho direito de ir e vir a qualquer lugar. Não tenho mais (restrição de frequentar estádios), graças a Deus, desde 2017, que foi quando eu me desliguei totalmente de torcida organizada e não faço mais parte. Minha função é minha filha e minha mãe", afirmou Wallace. O homem se queixou das investigações contra as torcidas e disse que o Estado deve se preocupar com a violência nas favelas. 
"Desvincula o meu nome dessa parada aí, desvincula a minha foto, desvincula o que vocês têm. Não tenho ligação alguma com torcida organizada, tenho uma filha de 4 anos, luto para criar ela, não tenho vínculo algum. Outra coisa, cadê a resposta do seu governador lá do Campinho, Fubá, Vila Kennedy, todo dia tiroteio lá. Por que que o seu governador não faz isso lá, não se preocupa com o pessoal que está lá na favela sofrendo? Só quer se preocupar com a gente, com a torcida organizada. Com a gente, não, com quem era torcedor organizado que, infelizmente, não faz mais parte, mas recebe uma intimação dessa. Que preocupação é essa? Preocupação nenhuma. Preocupação que ele tem que dar é lá no Campinho, no Fubá".
Segundo as investigações, muitos dos intimados já têm anotação criminal e restrição de frequentar estádios. Os agentes vão continuar realizando diligências para identificar demais membros que atuam estimulando as torcidas e participando dos ataques. Todas as imagens, captadas pela Polícia Militar e por fonte pessoal, como as feitas por celulares, estão sendo recolhidas e analisadas. A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática também está planejando novos pedidos de prisão. 
*Colaborou Marcos Porto