Delegado Pablo Sartori afirmou que investigações continuam e mais prisões devem ser solicitadas Marcos Porto/Agência O Dia

Rio - A Polícia Civil realiza, nesta terça-feira (14), buscas pelos presidentes de quatro torcidas organizadas dos principais times de futebol cariocas. As prisões foram solicitadas pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), após as intensas brigas que ocorreram na cidade, em especial, a de antes do clássico Flamengo e Vasco, em 5 de março, no entorno do Maracanã. Os agentes tentaram cumprir os mandados de prisão ainda na segunda-feira (13), mas não encontraram os líderes e o quarteto é considerado foragido. 
Ao todo, dez agentes dividos em cinco equipes realizam as buscas. Os alvos dos pedidos de prisão temporária de 30 dias são os presidentes Anderson Azevedo Dias, da Young Flu; Fabiano de Souza Marques, da Força Jovem do Vasco; Bruno da Silva Paulino, da Torcida Jovem do Flamengo e Anderson Clemente da Silva, da Raça Rubro-Negra. Os policiais chegaram a cumprir mandados de busca e apreensão nas casas deles e nas sedes das torcidas. Eles vão responder pelos crimes de organização criminosa, lesão corporal grave e tentativa de homicídio. 
"Ontem mesmo nós já tentamos cumprir esses mandados de prisão, mas eles estão foragidos. Hoje, as equipes continuam na rua, saíram cedinho para continuar na busca deles. Também cumprimos (mandados de) busca apreensão não só nas casas deles, como nas sedes das torcidas organizadas. Ainda tem uma série de outras medidas cautelares que foram adotadas para cortar a força das torcidas organizadas em se organizar para atos de violência e vandalismo", explicou o delegado titular da DRCI, Pablo Sartori. 
A especializada apontou que eles já possuíam outras anotações criminais, estão envolvidos em atos violentos, patrocinam as viagens dos grupos e nada fazem para impedir as brigas ou mesmo informar as autoridades dos elementos que agem com violência, os expulsando dos quadros das torcidas. Na decisão da Justiça que acatou aos pedidos de prisão, a juíza Ana Beatriz Estrella justificou que a liberdade dos líderes coloca em risco a vida de testemunhas e pode atrapalhar as investigações. 
Também ao longo de toda a terça-feira, aproximadamente 120 pessoas envolvidas em brigas entre torcidas organizadas devem prestar depoimento na sede da DRCI, na Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte do Rio. Eles foram intimados por crimes como tentativa de homicídio, lesão corporal e organização criminosa. A primeira oitiva será do único torcedor que consta como autor de uma tentativa de homicídio. 
"Enquanto as torcidas não se adaptarem a uma nova realidade de torcida sem briga, sem destruição do patrimônio público e privado, sem casos de lesão corporal e até a morte, a polícia e o Estado não vão parar de fiscalizar, de atuar contra eles nessa medida. Torcida tem que ser feita para torcer de forma pacífica, dentro do que é uma atividade esportiva", afirmou Sartori. 
Afastamento dos estádios
Nesta segunda-feira, o juiz Bruno Vaccari Manfrenatti, do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos, determinou, por cinco anos, o afastamento da Raça Rubro-Negra, da Torcida Jovem Fla, da Força Jovem do Vasco e da Young Flu de eventos esportivos. A medida foi estabelecida devido ao inquérito que apura os atos criminosos do último dia 5. O magistrado também autorizou ações de busca e apreensão e a indisponibilidade de bens das torcidas.
De acordo com a decisão, as diligências são necessárias para a continuação das investigações dos crimes cometidos por integrantes de torcidas organizadas. Além da determinação, a Justiça ainda decidiu que 16 integrantes de torcidas organizadas terão que se manter afastados de estádios em dias de jogo, sendo monitorados eletronicamente com tornozeleiras, por seis meses. Eles não poderão deixar o estado do Rio sem autorização judicial e precisarão comparecer ao Juízo bimestralmente.
Homem foi morto antes de clássico
O duelo entre Flamengo e Vasco, no Maracanã, chamou a atenção pelo cenário de guerra antes do início da partida. Torcedores ficaram feridos depois de serem agredidos em rotas das torcidas até o estádio. Além dos episódios de agressões, Bruno Macedo dos Santos, torcedor do Vasco de 34 anos, foi morto a tiros em São Cristóvão, próximo ao São Januário. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga se o homicídio aconteceu devido a uma rixa entre traficantes.
Segundo testemunhas, Bruno foi abordado por homens armados que fizeram os disparos contra ele no meio da rua. Os criminosos não teriam relação com nenhuma das duas torcidas organizadas. Em nota, a Polícia Militar informou que a morte do homem não foi confirmada pelo órgão como um incidente direto de organizadas dos dois clubes, mas que a ocorrência ocorreu próximo ao local onde os torcedores entraram em conflito.
Para a Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil (Anatorg), a morte de Bruno não tem relação com a briga ocorrida nas imediações do Maracanã. Segundo o presidente da associação, Luiz Claudio do Carmo, Bruno não estava na região onde aconteceu a briga entre as torcidas. "Esse fato aconteceu próximo a São Januário, em São Cristóvão. Causa estranheza essa morte ter sido inicialmente associada ao ocorrido no Maracanã", informou.