Rio - "Será que vão prender o bandido que matou meu irmão? Quantas passagens ele deve ter? Quantas vezes foi preso ou solto? Vai ser mais uma estatística?". Esses foram os questionamentos feitos por Francícero Aragão durante o sepultamento do vigilante Leonardo Lopes da Silva, de 39 anos, nesta terça-feira (14) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. O homem foi morto após uma troca de tiros com um suspeito que invadiu a área externa da Reduc no último domingo (12).
"A gente nunca espera que aconteça com um de nós, com nossa família, apesar da situação lastimável que vivemos no Rio de Janeiro, com toda essa violência. Infelizmente aconteceu. E está muito difícil, ainda mais pra mamãe, que vai ter que enterrar um filho, o que não é o ciclo natural da vida, mas aconteceu e não tem mais o que fazer, só fazer o sepultamento e seguir a vida. Independente de qualquer coisa, nada vai trazer nosso irmão de volta, só que eu quero (uma posição) do estado. Qual resposta vou ter? 'Estamos investigando', apenas? E no final ficamos sem resposta?", perguntou Francícero.
O irmão da vítima contou ainda um pouco da vida de Leonardo, que deixa mulher e uma filha de 9 anos. "Eu praticamente criei meu irmão, eu sou o mais velho e ele era o caçula. A gente conversava muito sobre oportunidades das nossas vidas, eu dei apoio para o novo trabalho dele. Éramos muito chegados, sempre que podíamos estávamos juntos e ele estava num ciclo ótimo da vida, quando tudo começa a dar certo. Ele estava fazendo faculdade pra ter mais oportunidade na empresa em que ele estava. A filha dele chorou a noite toda (ao saber da morte). No dia anterior eles estavam juntos. Ele era um pai afetivo e ela era tudo pra ele. Ele era um pai bastante presente, então a filha vai sentir muita falta", disse.
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Ele explicou também que, durante o reconhecimento do corpo, viu uma perfuração na costela que saiu no braço, e atingiu o coração e o pulmão de Leonardo. Uma prima da vítima, a cuidadora Thais Lopes, que também esteve no enterro, definiu o vigilante como uma pessoa alegre e um excelente pai. "Ele foi um pai maravilhoso pra filhinha dele, um primo ótimo, uma pessoa super alegre. Sempre quis estar com as crianças brincando, sempre foi uma pessoa maravilhosa. Receber a notícia (da morte) foi um choque, eu tinha acabado de sair da minha tia, passei o sábado com eles, e lembro que a última coisa que ele falou foi pra esquentar a lasanha pra filha dele comer. O que fica é a tristeza", lamentou.
Thais contou que Leonardo passou o último sábado (11) na praia com a filha. "Ela veio me contar que sábado foi o melhor dia da vida dela, a melhor praia. E agora ela já sabe (da morte), mas ela quer ficar com a memória do pai dela de sábado. É uma menina de 9 anos, então tem que guardar a imagem do paizinho dela do jeito que ele estava: feliz", completou.
O caso
De acordo com a Petrobras, por volta das 14h30, um homem, que tentou assaltar um ônibus na região, fugiu em direção à área externa da refinaria, onde fez um outro vigilante de refém. Ainda de acordo com a estatal, Leonardo era colaborador da empresa Veper que presta serviço na Reduc. “A Petrobras está atuando junto à empresa para prestar assistência à família da vítima”, disse em nota.
Segundo a PM, o suspeito armado entrou na Refinaria Reduc e rendeu um segurança do local, subtraindo o revólver do mesmo. Ao tentar empreender fuga, ele se deparou com outros dois seguranças da empresa, quando houve um breve confronto. Os demais vigilantes não ficaram feridos.
De acordo com a Polícia Civil, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga o caso. Diligências estão em andamento para apurar a autoria do crime e esclarecer todos os fatos.
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