Rio – A Justiça do Rio (TJRJ) decidiu, nesta terça-feira (14), pela liberdade provisória de Sabine Coll Boghici, presa na Operação Sol Poente, suspeita de aplicar um golpe milionário contra a própria mãe.
Embora o Ministério Público tenha sido contrário à decisão, a 23ª Vara Criminal do Rio de Janeiro acolheu o pedido da defesa de Sabine. Segundo a decisão, como a ré tem apenas um antecedente criminal, e relacionada a este caso, ela não é considerada de alta periculosidade, diferente de sua companheira Rosa Stanesco Nicolau, que teve o pedido de liberdade provisória negado por ter anotações criminais anteriores ao ocorrido, "demonstrando possuir habitualidade em cometer crimes, razão pela qual sua custódia cautelar se mostra necessária como garantia da ordem pública, evitando-se a reiteração delituosa", como afirma um dos trechos da declaração.
A libertação de Sabine vem condicionada a alguns deveres e proibições. Ela deve comparecer mensalmente em juízo e sempre que for intimada, devendo informar qualquer mudança de endereço. Ela também está proibida de se ausentar por mais de 10 dias sem prévia autorização judicial e não pode ter contato com a mãe e com testemunhas, por qualquer meio (inclusive via redes sociais, aplicativos ou telefone. Sabine ainda está impedida de se aproximar da vítima, devendo manter uma distância mínima de 500 metros, além de ter que entregar o passaporte em juízo em um prazo de até 48 horas.
Em 2 de fevereiro, a mesma 23ª Vara Criminal havia negado o pedido de soltura de Sabine e Rosa, alegando que "os prazos processuais são programáticos e que eventual alegação de excesso de prazo precisa ser valorada no caso concreto, a partir da análise da complexidade do feito, número de réus, diversidade de defesas técnicas etc. Imperioso ressaltar, ainda, as constantes trocas de defesas técnicas, por parte das requerentes, o que também contribui para o alargamento da instrução criminal. Por derradeiro, importante notar que, não obstante as peculiaridades da presente ação penal, em momento algum a tramitação processual do presente feito restou paralisada, devendo ser observado que já foi iniciada a instrução criminal e que a audiência em continuação se encontra com data designada", informava uma parte do documento.
Relembre a história
Sabine Coll Boghici e Rosa Stanesco Nicolau foram presas em agosto de 2022 na Operação Sol Poente, da Polícia Civil, articulada para prender integrantes de uma quadrilha que se apresentaram como videntes e roubaram de uma idosa, mãe de Sabine e viúva de um marchant, cerca de R$ 725 milhões entre obras de artes, joias e dinheiro. No total, seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão em endereços localizados nas zonas Sul e Norte do Rio foram expedidos.
Rosa e Sabine são namoradas e têm união estável. Na ocasião, a polícia também prendeu Jacqueline Stanesco Gouveia e Gabriel Nicolau, filho de Rosa.
Jacqueline e Rosa se passaram por falsas videntes e ofereceram à idosa de 82 anos, viúva do marchant e colecionador de obras de arte Jean Boghici, morto em 2015, tratamento espiritual para uma de suas filhas não morrer em troca de pagamentos altos. Ao desconfiar que a ação era um golpe, a idosa não quis mais realizar as transferências de dinheiro e passou a ser mantida em cárcere privado pela própria filha, em seu apartamento na Zona Sul do Rio, entre fevereiro de 2020 e abril de 2021. A idosa descobriu, então, que todo o golpe havia sido tramado por Sabine, que também passou a vender os quadros para uma galeria em São Paulo.
Durante o cárcere, a idosa era agredida e privada de comida. Ela ainda sofreu ameaças, com uma faca colocada em seu pescoço, para realizar transferência de dinheiro.
Entre as obras levadas pela filha para a venda na galeria de São Paulo estavam 'O Sono', de Tarsila do Amaral; 'O menino', de Alberto Guignard; 'Mascaradas', de Di Cavalcanti; 'Maquete para o meu espelho'; de Antônio Dias; e 'Elevador Social'; de Rubens Gerchman. Dois quadros chegaram a ser vendidos para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, na Argentina.
A investigação realizada pela Deapti (Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade) intimou o responsável pela galeria em São Paulo a devolver os quadros que não haviam sido vendidos, o que fez a idosa reaver cerca de 40% do valor desviado.
À época, a Deapti também identificou Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, Ronaldo Ianov e Slavko Vuletic como integrantes da organização criminosa.
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