Quadros de idosa foram apreendidos em apartamento de suspeitaDivulgação

Rio - Viúva desde 2015 de um colecionador de arte e marchant (negociador de obras de arte), a idosa, de 82 anos, que teve cerca de R$ 725 milhões roubados por falsas videntes, entre obras de arte, joias e dinheiro, foi abordada em janeiro de 2020. De acordo com depoimento da vítima à Polícia Civil, ela estava saindo de sua agência bancária, em Copacabana, Zona Sul do Rio, quando Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, que se identificou como vidente, a chamou. Durante a abordagem, Diana teria previsto para a idosa que sua filha estava doente e que morreria em breve.

Ainda de acordo com o relato da idosa, nesse momento, a vidente conseguiu convencer a viúva a ir com ela até seu apartamento, na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana, onde jogou búzios e confirmou a tragédia. Com a confirmação da morte de sua filha através do jogo, Diana levou a idosa à casa de outra vidente, Jacqueline Stanescos, para a realização de um trabalho espiritual de cura para a sua filha.

Ao chegar à casa de Jacqueline, no Leme, Zona Sul do Rio, a vidente chegou a perguntar à idosa onde ela morava, se possuía bens ou dinheiro para poder realizar o trabalho de cura de sua filha. Segundo as investigações, essas perguntas acarretaram a desconfiança da viúva, que não respondeu. Sem respostas, Diana disse para a idosa que seria melhor ela procurar outra pessoa de confiança para salvar a vida de sua filha.

Depois desse episódio, seguiram para a casa de outra vidente conhecida como "Mãe Valéria de Oxóssi", Rosa Stanesco Nicolau, em Ipanema, Zona Sul do Rio, onde mais uma vez foi feito o jogo de búzios, além de cartas. Sendo assim, Rosa informou à idosa que sua filha estava com espírito ruim que iria matá-la e pediu um pagamento para que o trabalho fosse feito. A viúva chegou a questionar esse pedido, mas Rosa disse que sabia que ela poderia pagar o valor cobrado.

Segundo depoimento, a idosa contou tudo o que havia acontecido à sua filha, que pediu que providenciasse o pagamento imediatamente para que fosse curada do mal que iria atingi-la. A viúva, acreditando nas previsões das falsas videntes e levando em conta os problemas psicológicos que sua filha enfrenta há muitos anos, resolveu fazer o tratamento espiritual nela e concordou em efetuar os pagamentos solicitados. As transações se iniciaram no dia 22 de janeiro de 2020 e se estenderam até o dia cinco de fevereiro de 2020, tendo realizado nesse período oito transferências que totalizaram R$ 5.078.065,85. Os beneficiários eram Ronaldo Ianov e Slavko Vuletic.

Alguns dias após o início do tratamento espiritual, a filha da idosa começou a deixá-la isolada das pessoas com quem convivia. Além disso, dispensou os funcionários que prestavam serviços domésticos, gerando a desconfiança de que o tratamento seria uma desculpa, em comum acordo com todos envolvidos, inclusive sua filha, para extorquir a senhora. A desconfiança fez a idosa suspender qualquer tipo de pagamento a partir do dia 5 de fevereiro de 2020.

Desde então, de acordo com depoimento, a filha da idosa passou a agredir e ameaçá-la de morte. Ela também chegou a negar comida, tudo para obrigá-la a voltar a pagar o tratamento espiritual. A idosa foi impedida de usar telefone e ficou completamente isolada de amigos e funcionários, com a desculpa de que era por causa da pandemia.

Coagida e isolada, a idosa foi obrigada a fazer uma transferência bancária de R$ 8.000 para o filho de Rosa, Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger. A viúva já teve também ameaça de morte com faca no pescoço caso seus bens não fossem entregues.

A partir do dia 10 de junho de 2020, depois das inúmeras ameaças, entre coações e isolamentos, foram realizadas outras 39 transferências bancárias para Gabriel, filho de Rosa, totalizando R$ 3.990.900. Durante esse período, "Mãe Valéria de Oxóssi" vivia em contato com a filha da idosa e frequentava, de forma esporádica, a casa das duas. Ela aproveitava para ameaçar a viúva para que realizasse as transferências bancárias. A vidente também levava objetos de valor da casa, alegando que estavam amaldiçoados e precisavam sair dali para serem rezados.

De janeiro de 2020 ao dia sete de abril de 2021, a idosa ficou isolada dentro da própria casa, proibida de sair e se relacionar com outras pessoas.

De acordo com as investigações, a filha da idosa teria passado informações para as videntes antes da primeira abordagem feita por elas, para que assim, pudessem conduzir a extorsão.