Novo Canecão será espaço multiuso com pelo menos três mil lugares para show ou 1,5 mil lugares sentadosDivulgação

Rio - Foi confirmada nesta quinta-feira (16) a concessão do uso do Canecão pelas empresas que ganharam o leilão promovido pela UFRJ. A homologação foi publicada no Diário Oficial da União e assinada pelo pró-reitor de gestão e governança da universidade, André Esteves da Silva. O consórcio vencedor foi o "Bônus-Klefer", constituído pelas empresas Bônus Track Entretenimento LTDA. e Klefer Produções e Promoções LTDA., pelo lance de R$ 4,35 milhões.
O consórcio havia vencido a disputa no dia 2 de fevereiro. O leilão presencial promovido pela UFRJ tinha o objetivo selecionar a proposta mais vantajosa para concessão do espaço cultural multiuso no campus Praia Vermelha e para um conjunto de construções para a Universidade Federal do Rio de Janeiro. O valor final foi quase sete vezes maior do que o valor mínimo de outorga, que era de R$ 625 mil.
Desde então, a Pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6/UFRJ) avaliou os documentos de habilitação do consórcio vitorioso. O grupo WTorre Entretenimento e Participações Ltda também concorreu, com lance final de R$ 4,05 milhões.
Luiz Oscar Niemeyer, presidente da Bônus, estima que a coalizão entregue o conjunto de demandas em até 24 meses a partir da assinatura do contrato, cuja data ainda não está prevista. O equipamento contará com salas de ensaios, salas de exposição, construção de salas de aula para a Universidade e restaurante universitário. A proposta é de que o espaço não seja apenas ocupado com espetáculos de músicas, mas também para teatro e cultura, em geral.
A empresa é concessionária do Teatro XP . Além disso, produziu e produz espetáculos nacionais e internacionais, como a turnê de reencontro dos Titãs, o Mita (Music Is The Answer) e um dos shows de Paul McCartney no Brasil. De acordo com o dirigente, a Bônus já havia trabalhado de forma conjunta com a Klefer, como na produção do show dos Rolling Stones, em Copacabana. Segundo Niemeyer, a previsão é de que a Bônus capitaneie a parte artística e a Klefer a área administrativa e comercial.
O fundador e diretor do Grupo Klefer, Kleber Leite, falou sobre o histórico da empresa no segmento cultural e da importância do projeto para a retomada cultural do Rio de Janeiro. "A Klefer tem um longo relacionamento com a cultura do Brasil. Em 40 anos, trouxemos para o país artistas internacionais, como a banda Rolling Stones, para apresentações gratuitas, apoiamos diversos eventos e grupos de distintas formações musicais. Hoje é mais uma demonstração da nossa seriedade e empenho em proporcionar experiências únicas, possibilitar o aumento de espaço para manifestações artísticas e resgatar um verdadeiro patrimônio do país, com o Canecão", comentou Kleber Leite.
O leilão do dia 2 de fevereiro chegou a ser suspenso devido a protestos de integrantes da comunidade acadêmica. Eles se manifestaram por não concordarem com a decisão do Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da UFRJ, que deliberou pela concessão da área. Defendem que o investimento deveria ser integralmente público, sem concessão à iniciativa privada. A universidade afirma que o orçamento deste ano é ainda menor que o de 2022, com déficit de cerca de R$ 94 milhões.
O período de concessão do espaço é de trinta anos. O consórcio que venceu precisará fazer intervenções que chegam a R$ 137,7 milhões em todo o projeto, sendo R$ 53,7 milhões nas instalações acadêmicas e R$ 84 milhões na parte cultural.

Além de investir em equipamentos culturais, o consórcio Bônus-Klefer terá que dar contrapartidas in natura para a UFRJ: construir um restaurante universitário no campus Praia Vermelha com capacidade para fornecer duas mil refeições por dia, além de dois prédios acadêmicos no mesmo campus. Isso possibilitará que o Palácio Universitário, maior construção neoclássica do Rio, concentre atividades de pesquisa e extensão das unidades ali atuantes.

A limitação da taxa de ocupação é de 30% e o gabarito é de 20 metros, com pelo menos 70% de área de livre circulação. A UFRJ terá direito a uso de 270 dias por ano do Espaço Ziraldo e a 50 dias por ano do espaço cultural multiuso.

A área total com intervenções tem 15 mil metros quadrados entre as imediações do Shopping Rio Sul, onde ficava o antigo Canecão, e o novo espaço multiuso (próximo ao campo de futebol). A ideia é que esse espaço vire uma nova área pública de lazer.

O projeto conceitual prevê que o "novo Canecão" seja em formato multiuso. O consórcio precisará oferecer, pelo menos, 3 mil lugares no módulo "show", com público em pé, ou 1,5 mil lugares com público sentado. O uso do nome "Canecão" não é obrigatório, já que o espaço pode ser batizado com a marca de um patrocinador, o que é conhecido como naming rights.
Palco histórico

O Canecão foi inaugurado em junho de 1967 como uma cervejaria, pelo empresário Mário Priolli. A mudança para casa de espetáculos veio dois anos depois, com o show da cantora Maysa, dirigido por Bibi Ferreira. De lá pra cá, estabeleceu-se uma briga judicial de quase 40 anos entre o empresário e a UFRJ, que recebeu o terrenos da União nos anos 1960 e alegava o não pagamento do aluguel por parte de Priolli.

Em 2010, a Universidade conseguiu a reintegração de posse do espaço. O Canecão chegou a ser cedido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), mas, sem recursos para promover sua reforma, acabou retornando para a UFRJ. Desde então, ele permanece fechado.

Pelos palcos do Canecão, já passaram artistas nacionais e internacionais como Maysa, Tom Jobim, Toquinho, Vinícius de Moraes e Elza Soares. Uma das grandes histórias envolve o cantor Elymar Santos, que vendeu seu apartamento e carro para conseguir alugar o espaço e se apresentar. Além disso, grandes nomes do rock nacional nos anos de 1980 fizeram shows memoráveis, como Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii e Barão Vermelho.