O dirigente da Irmandade, Claudio Andre de Castro, e o empresário Nuno Vasconcellos visitam a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, no Centro do RioPedro Ivo/ Agência O Dia
Patrimônio do século XVIII, Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores será reaberta na Rua do Ouvidor
'Mercador dos tempos modernos', Claudio Andre Castro recebeu a missão de revitalizar a obra histórica e promete programação religiosa, artística e cultural
Rio - Encrustada na boêmia e histórica Rua do Ouvidor, no Centro do Rio, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores está prestes a reabrir suas portas após quase quatro anos fechada. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o templo começou a ser construído em 1747 em um oratório dedicado à Nossa Senhora da Lapa, onde os comerciantes reuniam-se para rezar. A igreja pertence à Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, cuja administração passou no último dia 6 às mãos de Claudio Andre de Castro, diretor da Sérgio Castro Imóveis.
"As irmandades nasceram por pessoas que tinham devoções comuns. Neste caso, os comerciantes. E o que eu sou senão um mercador dos tempos modernos?", ressalta Claudio Andre de Castro. O empresário recebeu a missão de revitalizar a obra histórica e recebe a colaboração de amigos na empreitada de retomar o patrimônio à visitação da população carioca.
Desde que tornou-se comissário administrativo da Irmandade, no início de março, Claudio Andre de Castro providenciou a limpeza do templo e toma as medidas para que ela seja reaberta ao público, o que deve acontecer no mês de maio. Já na próxima segunda-feira, a iluminação será reativada e voltará a destacar a torre de sinos da igreja, há dez anos apagada. O sino principal também voltará a badalar de hora em hora.
A localização da igreja, na Rua do Ouvidor, número 35, em meio à efervecência de bares e sambas não é problema para o novo dirigente. "A gente acha esse ponto excelente. Não tem nada mais carioca do que casar e vir tomar um chope nessas mesinhas. Eu vim a um casamento há dez anos nessa igreja, e uma passadeira vermelha levava os convidados a um dos vários restaurantes que tem na região. É uma continuação da igreja. Muitas não têm salão de festa próximo", comenta Castro.
O templo religioso guarda uma bala de canhão que atingiu sua torre durante a Revolta da Armada em 1893. Na ocasião, a imagem de Nossa Senhora da Fé caiu de uma altura de 25 metros sem sofrer grandes danos, tendo quebrado apenas parte de dedos da mão. A escultura encontra-se preservada em uma sala no interior do templo, assim como a imagem que recebia orações dos mercadores na Rua do Ouvidor, antes mesmo da construção da igreja. O medalhão trabalhado em mármore na parte superior da fachada representa a coroação da Virgem Maria e foi encontrado durante escavações realizadas no terreno para uma remodulação da igreja no século XIX.
O novo mecenas afirma que a igreja vai funcionar em horário comercial de segunda a sábado, com missas diárias, celebrações religiosas e atividades culturais, como concertos musicais. "A igreja vai reabrir para visitação a partir de maio, não apenas com a programação religiosa mas também com programação turística e cultural. Vamos receber guias, turistas, vai ter uma equipe que vai contar a história da igreja, vamos fazer concertos de música erudita, palestras sobre o Rio Antigo e palestras sobre a História da cidade do Rio de Janeiro", anuncia.
Para reabrir foram retiradas pichações e materiais inflamáveis da igreja, além de ter sido feita uma rigorosa limpeza. As contas também foram postas em dia. "Estamos fazendo isso tudo com recursos próprios porque a irmandade não tem recursos, e a nossa empresa Sérgio Castro está apoiando o retorno desse patrimônio ao Rio de Janeiro", acrescenta Claudio Andre de Castro.
As irmandades se mantêm da arrecadação da igreja e também de bens próprios. No caso da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, a instituição tem um prédio comercial na Rua Sete de Setembro que sofreu um esvaziamento durante a pandemia e está com lojas disponíveis. No local, funcionou por duas décadas o tradicional Club Gourmet, do chef José Hugo Celidônio.
O empresário e colunista do jornal O DIA Nuno Vasconcellos ressalta o papel da sociedade organizada do Rio de Janeiro na recuperação econômica e cultural da cidade e do estado. "Queremos mostrar à população do Rio de Janeiro que uma igreja das mais antigas está se revitalizando, para as pessoas virem visitar. Incluir a igreja no roteiro do Rio", completa o empresário que visitou o patrimônio histórico nesta quarta-feira (29).
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