Criado em 2018, a roda acontece toda quarta-feira, às 20h, no Complexo do AlemãoDivulgação
A coordenadora do projeto, Elisabete Aparecida Dias da Silva, conhecida como Bete, explicou que essa é uma iniciativa necessária, pois ensina os moradores a história afro. "É uma dança importante, que resgata a cultura dos nossos ancestrais. Não é fácil trazer isso para a comunidade, muitos não conhecem e nem ouviram falar do Jongo".
"O nosso objetivo é trazer essa cultura para o Complexo, fazer os moradores entenderem o Jongo. Não é apenas uma dança, mas tem toda uma história por trás disso, que vem dos nossos ancestrais. É carregar essa potência com a gente", disse Bete, que já fazia projetos sociais para empoderar meninas negras contra o racismo. "Eu fazia desfile de roupas coloridas para mostrar para elas que precisam de força para enfrentar o preconceito".
Integrantes de outros grupos de Jongo do Rio também participam das aulas que são oferecidas no Alemão. "Eu auxilio junto com os professores, alguns moradores da comunidade, o passo a passo, como tocar um instrumento, como dançar. Então, a gente quer passar o significado disso para os alunos, de como os negros usavam a dança para se comunicar entre eles, que tinham que achar um meio para se divertir e fazer o tempo passar rápido enquanto trabalhavam", destacou Bete.
Para ajudar quem nunca teve contato com a dança, os professores começam devagar, ensinando os pontos como "amassa café", "outrabiado" e o "mancador". "Esses são os passos básicos da dança de jongo. Ele é um ritmo de umbigada, dançado por um casal, homem e mulher, e a mulher se apresenta com todo aquele charme e o rapaz fica cortejando-a, batendo palma. É algo muito rico de cultura, de gestos e de cantos", explicou Bete, que ressaltou que um dos objetivos do projeto também é levar a dança para as escolas.
A oficina, que começou em 2018, teve que parar por causa da pandemia, mas já está a todo vapor. Um dos objetivos da roda, além de ensinar cultura, dança e história aos moradores do Alemão, é também levar o ritmo para dentro das escolas.
A professora de Jongo da oficina e analista de marketing, Rosane Barbosa, conhecida como Negra Rô, acredita que muitos não tiveram acesso ao tipo de dança e, por isso, não se interessam e têm medo. "O Jongo é uma dança de cultura popular e é muito importante não só para o Complexo, mas para todas as favelas e morros da região sudeste. Ele foi criado nessa região, trazido pelos nossos ancestrais que foram escravizados nesse solo. A dança era uma forma de aliviar a dor da labuta".
Ela explicou que procura ministrar as aulas de forma dinâmica, fazendo com que seus alunos tenham acesso, em um mesmo dia, a algum ponto (que é como são chamadas as músicas tocadas na roda), passos, canto e palmas.
Jongueira (como chamam dançarinos do ritmo) há 7 anos, Rosane contou que sempre gostou de dançar. "Meu pai colocava a saudosa Beth Carvalho para tocar na vitrola e eu, muito pequena, ficava rebolando para um lado e para o outro. Quando maior, já na escola, todo ano dançava nas festas juninas ou em qualquer uma que tivesse na rua". Depois de um tempo afastada da dança, quando retornou, foi para o ritmo afro. "Quis destrinchar para as de culturas populares como o Jongo, Coco, Samba de Roda, Carimbó, Puxada de Rede e por aí vai", concluiu.
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