Na denúncia, ela explica que os adolescentes foram confundidos com pedintes e expulsos do estabelecimentoGoogle Street View

Rio - O SuperPrix afastou o funcionário acusado de injúria racial da rede do Grajaú, na Zona Norte, até que todos os fatos sejam apurados. A informação foi confirmada pela própria empresa nesta quarta-feira (12). Segundo a denúncia, o colaborador confundiu duas crianças de 12 e 13 anos com pedintes e os expulsou do mercado.

A mãe, Cleide Clímaco, 34 anos, contou que os filhos apenas pediam uma caixa de bombom para o próprio pai que também estava no supermercado.

“Estamos nos sentindo humilhados. Eles estavam com o pai e sabem que se estivessem sozinhos seria pior, e tudo aconteceu apenas por eles irem ao pai pedir uma caixa de bombom. Vimos que as pessoas associam o tom da nossa pele ao perigo”, lamentou.

O caso aconteceu na noite da última quinta-feira (6), mas segundo Cleide, quase após uma semana do ocorrido, os filhos seguem traumatizados e fazendo acompanhamento psicológico.

"Quando eles chegaram para o mostrar ao pai a caixa de bombom, que era referente à Páscoa, o fiscal de loja se referiu a eles que não era para ficar pedindo e os colocou para fora do mercado Prix. E não teve desculpa, não teve nada, quando o pai se relatou a eles, dizendo que era o pai das crianças, ele olhou e saiu de perto", explicou.

A mãe, que esperava do lado de fora, quando soube do caso chamou os policiais militares do Segurança Presente. “Uma equipe foi acionada por volta das 21h10 da quinta-feira pela mulher que alegou que seus filhos haviam sido vítimas de injúria racial por um segurança do estabelecimento. Os envolvidos foram encaminhados à 20ª DP (Vila Isabel), que ficou responsável pela investigação do caso”, disse a Segov.

Pedido de Justiça

À reportagem de O DIA, Cleide reforçou que preza pela educação dos filhos e afirma que não quer dinheiro ou muito menos se aproveitar de qualquer tipo de situação. Ela explica que quer Justiça para que outras crianças não passem pelo mesmo constrangimento.

“Meus filhos não são crianças largadas, mas até mesmo com pedintes os funcionários deviam ser mais educados, eles falam com essas pessoas como se fossem bichos e nem bichos merecem ser tratados assim. Eu prezo pelo lazer dos meus filhos, pela educação, por tudo, eles fazem esportes, tudo com muita luta, não é porque viemos da comunidade que devemos ser tratados dessa forma, nunca me misturei com coisa errada, e o pai deles também não”, explica.

A mãe desabafou que trabalha para da o melhor para as crianças e que elas possuem boas referências por onde passam. “Na minha carteira sou babá, saio de um trabalho e entro em outro, tudo honestamente, eles não são crianças sem educação, então eu não aceito que eles sejam tratados dessa forma. Se eles tivessem sozinhos, como seria? Não quero dinheiro, quero Justiça, não quero que as pessoas passem esse constrangimento”, reforçou.

Investigação

Na delegacia, o caso foi registrado como constrangimento ilegal, mas o advogado Alexandre Santos afirma que o crime trata-se de injúria racial.
"O constrangimento é um crime contra a honra, mas é uma forma de coação, a pessoa que pratica constrange a outra. A pena é de 3 meses a 1 ano. Já a injúria é uma ofensa, xingamento, rebaixar a pessoa por conta da cor ou até religião. Recentemente houve uma mudança e agora em janeiro o crime foi equiparado ao crime de racismo. A pena é de 2 a 5 anos", explica o advogado.

Ainda segundo o advogado, ele pretende solicitar imagens das câmeras de segurança do estabelecimento e acompanhar o andamento do inquérito.

Depois do registro, Cleide demonstrou indignação pela tipificação do crime. “Quando eu fui na delegacia me falaram que eu não podia registrar como injúria racial, porque não? Eu sou a declarante, eu tava lá, eu vi, e porque crianças claras não passam por esse constrangimento? Eu to lutando pelo direito da gente, falam que a escravidão acabou, mas acabou no papel”, disse.
Questionada, a Polícia Civil informou apenas que o caso foi registrado na 20ª DP (Vila Isabel). Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.

O que diz o SuperPrix

Ainda em nota, o SuperPrix informou que valoriza e reconhece a importância da discussão sobre racismo estrutural na sociedade.

“Mediante ao ocorrido em uma de nossas unidades, ao tomarmos conhecimento, imediatamente afastamos o funcionário para apuração dos fatos. Nos solidarizamos com a família e estamos buscando contato para prestarmos todo apoio necessário. Reafirmamos que não toleramos qualquer forma de discriminação e preconceito. Estamos atentos ao caso e não descansaremos até que tudo seja apurado e solucionado”, disse.