Programação do então "Dia do Índio", no Museu do Índio, em Botafogo, Zona Sul da capital em 2014Agência Brasil/ Tomaz Silva

Rio - Prestes a completar 70 anos no dia 19 de abril, o Museu do Índio localizado na Rua das Palmeiras, número 55, no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio, segue desde 2016 'fechado temporariamente'. O local, administrado pela Funai, passa por obras de adequação às normas de prevenção de incêndio em instituições museológicas desde o governo de Michel Temer.
A instituição afirma que, após as intervenções, poderá obter a aprovação e autorização do Corpo de Bombeiros para a reabertura ao público. As normas foram alteradas em 2018, depois do incêndio que atingiu o Museu Nacional, e demandou a reelaboração de todo o projeto anti-incêndio que já estava pronto, afirma a instituição.
O museu fechou as portas em julho de 2016, após ocupações do movimento indígena que reivindicava a reintegração da Aldeia Marakanã e a extinção de uma PEC que visava transferir ao Congresso Nacional a responsabilidade de demarcar terras. O órgão emendou em obras de adequação de segurança e nunca mais recebeu visitantes.
A previsão é de que uma abertura gradual da visitação comece a partir do segundo semestre de 2023. As obras, no entanto, vão prosseguir especialmente no casarão central, que é um prédio histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O processo implica diferentes etapas. As duas primeiras, de "Identificação e Conhecimento do Bem" e "Diagnóstico", já foram realizadas. A próxima etapa exigida pelo Iphan é a "Proposta de Intervenção". 

Por fim, será feito o Projeto Executivo, incluindo todos os aspectos construtivos, como os serviços, técnicas e materiais que deverão ser empregados na execução da intervenção; definição de orçamento e fixação de prazo. Finalizado esse projeto, será possível a contratação dos serviços necessários para executar as obras no casarão.
Há também uma preocupação com a acessibilidade do museu. Estão sendo previstas a instalação de elevadores, sinalização e outras medidas para ampliar o acesso a todos os públicos.
O museu criado pelo antropólogo Darcy Ribeiro em 19 de abril de 1953 é o órgão científico-cultural da Funai, responsável pela política de preservação e divulgação do patrimônio cultural dos povos indígenas no Brasil. A data de sua inauguração coincide com o Dia dos Povos Indígenas.

A professora do Departamento de Artes e Estudos Culturais da Universidade Federal Fluminense (Uff) Adriana Russi destaca que o Museu do Índio sempre teve a importância de trabalhar na constituição de acervos junto com os povos indígenas.

"Essa relação próxima do museu com os povos indígenas é de construir propostas conjuntamente, curadorias, projetos educativo, de ampliar o acervo a partir da pesquisa tomando os indígenas como pesquisadores da sua cultura, ajudando a trazer esse material para o acervo e a qualificar melhor esse material, sobretudo a fazer atividades no museu em contato direto com a população em geral com estudantes e especialistas", explica.

A professora espera que o museu possa reabrir em breve, já que seu fechamento constitui um prejuízo para os povos indígenas, que não podem visitá-lo, para estudantes e pesquisadores. "A gente teve a implementação de uma política nacional de perseguição aos povos indígenas. Todo mandato do governo Bolsonaro foi contrário à existência da diversidade dos povos indígenas. O museu também foi alvo de mudanças significativas (em seu quadro). A gente tem essa expectativa de que em breve o museu tenha condições de reabrir e retomar o seu vigor. Sempre foi um museu muito atuante. Sempre permitiu aquilo que estava lá no projeto de Darcy Ribeiro", pondera Adriana.

Originalmente, o museu ficava na Rua Mata Machado, no Maracanã, onde hoje localiza-se a Aldeia Marakanã. No ano de 1978, o órgão foi transferido para o casarão no bairro de Botafogo. O imóvel construído em 1880 foi tombado em 1967. Vinte anos depois, em 1987, tornou-se Patrimônio da Cidade do Rio de Janeiro, por ser representativo da história e da ocupação urbana dos bairros de Botafogo e Humaitá.
São mais de 100 mil itens no acervo, constituído por peças etnográficas, publicações nacionais e estrangeiras, e documentos arquivísticos relativos à maioria das sociedades indígenas brasileiras.
Só de itens etnográficos são mais de 20 mil entre cerâmicas, adornos, cestarias, armas e indumentárias de cerca de 180 povos indígenas de todo o país, além de filmes, publicações e documentos históricos relativos a esses povos. Os objetos foram obtidos diretamente de povos indígenas, por meio de doações e compras realizadas a partir de 1947.
Já o acervo bibliográfico é composto de coleções especializadas nas áreas de etnologia indígena, antropologia e política indigenista, incluindo obras raras e editadas pelo próprio museu.
Apesar de fechado para visitação, o museu desenvolve documentação, pesquisa, preservação e divulgação do patrimônio cultural indígena, atendendo a pesquisadores e realizando atividades educativas e culturais, como projetos nas escolas e em parceria com outras instituições. Além do casarão central, o complexo arquitetônico do Museu do Índio conta com sete prédios anexos, os quais abrigam os acervos e as áreas técnica e administrativa.