Mergulhadores recuperaram parte do avião A330 da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 1º de junho de 2009 BRAZILIAN NAVY/AFP/Arquivos

Rio - A Justiça francesa absolveu, nesta segunda-feira (17), a companhia aérea AirFrance e a empresa Airbus pela queda do voo AF-447 de 2009 que matou 228 pessoas. O avião fazia o trajeto Rio-Paris, quando desapareceu dos radares, no dia 31 de maio daquele ano.
A decisão do tribunal francês que, a princípio, não permite mais recursos avaliou as provas apresentadas como insuficientes para condenar as empresas. Em sua sentença, o juiz apontou que um provável "nexo causal, não era o suficiente para caracterizar um delito". O julgamento foi transmitido ao vivo na Internet.
Segundo Nelson Faria Marinho, de 80 anos, pai de uma das vítimas do voo e presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, a decisão é lamentável e choca a todas as famílias das 228 vítimas que estavam na aeronave naquele dia 31 de maio.
"Eu estou indignado assim como as demais famílias. É um absurdo completo. Não há o menor cabimento da Justiça francesa decidir pela absolvição das duas empresas. Para nós, isso prova que a Justiça na França não é nada séria. Prova que eles só estão preocupados com o dinheiro. Isso mostra como o dinheiro tem mais valor que a própria vida", disse o idoso, que perdeu o filho, que também se chamava Nelson, de 40 anos.
Para o presidente da associação, o modelo da aeronave que caiu matando seu filho deveria ter parado de ser usado: "Foram vários problemas depois daquela queda. Cerca de 30 dias depois, outo avião caiu, então não foi um caso isolado. (...) Durante esse tempo, estive com vários pilotos, inclusive com um grupo de 80 profissionais de todo o mundo que foram enfáticos ao criticar a aeronave dizendo que ela era demasiadamente automática. Com isso, qualquer perda desses sistemas, como o que houve no 447, a faria ir para o chão".
"Já perdi pais, já perdi tios, parentes, mas nenhuma dor vai superar a perda do meu filho. Mesmo após tanto tempo, é um luto diário. (...) E ainda precisamos lidar com a incerteza de saber que outras várias aeronaves dessas continuam voando por aí", lamentou.
Parentes das vítimas que acompanharam o julgamento na França também se revoltaram durante o julgamento. Primeiro com o posicionamento da promotoria de acusação, que disse não haver provas para as acusações, depois pela posição do Ministério Público francês e, por último, pela sentença com a absolvição das empresas.
Segundo Nelson, a Justiça francesa devera ter seguido o exemplo dos Estados Unidos, onde a Boeing foi condenada e concordou em pagar uma multa de 2,5 bilhões de dólares pela queda de dois aviões 737 Max. "Eles não só tiveram que pagar, como também tiraram o avião de circulação", comentou.
Apesar da informação sobre a possibilidade de recurso, o presidente da associação disse que está em contato com as outras famílias para tomar as providências necessárias. "A decisão saiu hoje cedo, então não tivemos tempo para planejar qualquer ação. Vamos consultar os juristas para saber se há possibilidade de recurso. Seja na Justiça brasileira, francesa ou alemã. São várias famílias e associações perplexas com esse resultado", concluiu.