Maria Cristina José Soares e Alexandre Silva de Lima eram professores no CEFETReprodução/ Redes sociais

Rio - Um dos melhores amigos do casal de professores Maria Cristina José Soares e Alexandre Silva de Lima, atropelados e mortos pelo jogador Márcio Almeida de Oliveira, o Marcinho, demonstrou indignação com a condenação do atleta a três anos e seis meses de prisão a ser cumprido em regime aberto, com a pena convertida em prestação de serviços. Ele também teve suspensa a habilitação.
O professor Bernardo Gomes disse respeitar a decisão da Justiça, mas ressaltou que há elementos no caso que deveriam tornar a condenação mais severa, como a velocidade que Marcinho trafegava na via, a omissão no socorro e a ausência do teste do bafômetro. "Para mim, ele é culpado. Não acredito que somente a profissão, mas a figura pública e o dinheiro levam à impunidade. Infelizmente. Esperava que casos como esses servissem de motivação para que outras pessoas não repetissem o que ele fez", diz Bernardo.
O professor conheceu o casal no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) e os três se tornaram grandes amigos, além de companheiros de trabalho. "Tínhamos um contato próximo e respeitoso profissional e uma amizade que ultrapassava os limites dos muros do trabalho. Regularmente almoçava com o Alexandre, onde falávamos de todos os assuntos da forma mais aberta", relembra.
O docente também reforçou que Alexandre sempre foi muito cuidadoso ao atravessar ruas. "Tenho certeza que naquele dia ele não teve a chance de se defender, nem a sua amada Cristina", desabafou Bernardo.
Na decisão, o juiz Rudi Baldi Loewenkron, da 34ª Vara Criminal, considerou o resultado do laudo pericial que concluiu que o casal atravessou em local impróprio, ou seja, fora da faixa de pedestres distante 88 metros do local da colisão — esta foi considerada uma das causas do atropelamento, além da velocidade que o jogador trafegava na via. A prisão foi substituída por duas penas restritivas e Marcinho terá de prestar serviços sociais a entidades definidas pela Vara de Execuções Penais.
Relembre o caso
O atropelamento, que ocorreu na noite do dia 30 de dezembro de 2020, na Avenida Lúcio Costa, Zona Oeste do Rio de Janeiro, matou Alexandre Silva de Lima na hora. Maria Cristian José Soares chegou a ser levada socorrida, mas não sobreviveu aos ferimentos e faleceu dias depois.
O casal atravessava a avenida quando foi atingido. Segundo a denúncia do Ministério Público, minutos antes do atropelamento, Marcinho guiava o seu veículo, um Mini Cooper, em zigue-zague na pista sentido Barra da Tijuca, numa velocidade compreendida entre 86 km e 110 km/h. A velocidade máxima permitida na via é de 70 km/h. Peritos também atestaram que o atleta ingeriu álcool.
"Conforme a denúncia, no dia do acidente, entre 11h e 11h30, Marcinho esteve no restaurante Rei do Bacalhau, no bairro do Encantado, na Zona Norte, onde consumiu bebida alcoólica, ingerindo, ao menos, cinco tulipas de chope", diz o comunicado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro sobre a condenação.
Em 2021, o lateral chegou a um acordo para pagar R$ 200 mil aos quatro netos (R$ 50 mil para cada) do casal como forma de indenização pelo acidente.
À época, Marcinho era lateral do Botafogo e não ficou para a temporada seguinte. Ele jogou no Athletico-PR, Bahia e, antes de atuar no América-MG, chegou a ser anunciado pelo Pafos FC, do Chipre. No entanto, o juiz Loewenkron negou a saída do jogador do país.