Fiéis recebem benção com água benta na Igreja de São Jorge, em Quintino, Zona Norte do RioReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Milhares de famílias e amigos vestindo vermelho e segurando rosas e espadas-de-são-jorge circularam no entorno da Matriz de São Jorge, que teve programação desde a madrugada, no alvorecer com iluminação e queima de fogos, e missa de hora em hora até as 16h com a procissão pelo bairro.
O povo de axé também visitou os templos dedicados ao guerreiro. Ao deixar a matriz em Quintino neste domingo (23), Adão José, de 70 anos, afirmou que vai à igreja todo ano. A filha Jéssica Gouveia acompanha o pai desde que tinha 10 anos. Umbandista, Adão José é zelador de santo e, durante, pandemia, procurava chegar perto da igreja para manter a tradição.
"Tudo tem que ter fé. Tem que crer. Se não tiver fé, não funciona. Tem que se entregar de corpo e alma e pedir por nós e pelas pessoas que necessitam", afirmou.
O babalorixá Pai Celinho de Obaluaê atribui a reverência do povo de axé a São Jorge ao sincretismo religioso. "São Jorge é um santo muito considerado, em especial no Rio de Janeiro. Essa cultura de reverência ao São Jorge, para nós no axé, começa a partir da colonização. As pessoas que vieram de África precisarem fazer o sincretismo. Houve essa associação entre o santo católico e o orixá guerreiro Ogum", comentou.
Pai Celinho destaca que o sincretismo é regional, porque na Bahia, por exemplo, São Jorge é sincretizado com o orixá Oxóssi. "Por incrível que pareça, a mesma comida ofertada a Ogum é o prato tradicional do Dia de São Jorge, a feijoada. Com isso, reverenciando a São Jorge, referenciamos Ogum", disse. O babalorixá acrescentou que assim como o Santo Guerreiro, Ogum é próximo do povo. "É responsável pela liberação de caminho. Quem não quer ter o seu caminho aberto, reverenciar e receber a proteção?", completou.
Hildo Sampaio, frequentador da Matriz de São Jorge há 38 anos, relatou o clima do bairro no dia da festa. "As pessoas não estão conseguindo ficar aqui dentro. As ruas do entorno da igreja estão lotadas. Este ano, pós-pandemia, o pessoal veio com muita fé. Para nós da igreja é um orgulho imenso", disse o devoto.
Já na Zona Oeste, a festa da Irmandade de São Jorge de Santa Cruz arrasta todos anos uma legião de fiéis e devotos. Após participarem das missas, eles seguem em procissão pelas principais ruas do bairro, para agradecer e renovar os votos. A festa completou sua 59ª edição, é tombada pelo patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio e faz parte do calendário de eventos da Cidade do Rio de Janeiro.
Jorge Ben Jor se apresenta em missa no Centro
No Centro do Rio, a Igreja de São Jorge montou um grande palco na Avenida Presidente Vargas, onde alvorada e as missas de hora em hora foram celebradas. O cantor Jorge Ben Jor surpreendeu os devotos com sua presença na primeira missa. Devoto do guerreiro, Jorge entoou à capela versos improvisados em homenagem ao santo, seguidos da oração gravada pelo artista na canção "Jorge da Capadócia".
O subprefeito da Zona Norte, Diego Vaz, acompanhou desde às 3h da madrugada a festa em Quintino. Ele ressaltou a importância de fortalecer a festa pelo movimento que traz a Quintino. "Digo que São Jorge é quase um padroeiro da cidade do Rio de Janeiro também. Podemos dizer que é o padroeiro da Zona Norte".
Para garantir mobilidade e segurança, a Rua Clarimundo de Melo, em Quintino, foi completamente interditada para viabilizar a festa. Além desta, a Rua da República e a Praça Quintino Bocaiúva também sofreram interdições.
Samba, cerveja e feijoada
No entorno da igreja, dezenas de pessoas vendiam cerveja, churrasquinho, empadas e feijoada, além de artigos dedicados ao santo. Este ano a Prefeitura legalizou 50 ambulantes e quatro baianas para trabalhar no evento. A igreja também montou barraquinhas na rua para arrecadação. A festa se estende em rodas de pagode e também de capoeira no entorno da matriz, que fica fechado a veículos.
Marinete Lino, 55, é devota de São Jorge e conta que já alcançou muitas graças com o santo guerreiro: "Cada ano que eu venho, é uma graça que eu alcanço". Aposentada e moradora de Vila Valqueire ela foi com o neto e as filhas e conta que a tradição de todos os anos é ir à missa e depois curtir o samba. "Vou pagar minha promessa primeiro, pedir, agradecer o pedido e depois vou curtir o pagode. É a tradição", conta.
José Cícero, 36, nasceu no dia de São Jorge e conta que era até para ter sido batizado com o nome do santo. Morador de Colégio, todo ano a comemoração de aniversário é a mesma: "Tomando uma cerveja, aquela feijoada, aquele churrasquinho, os amigos envolvidos. Vamos curtindo a vida. Não sabemos o dia de amanhã", comemorou.
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