Sérgio e André são a favor de melhorias na regiãoPedro Ivo/Agência O Dia

Rio - "No Saara deve ter!" Essa é uma das expressões mais ouvidas pelos cariocas quando estão precisando de alguma coisa e não conseguem encontrar. O polo Saara, considerado o maior shopping a céu aberto do estado do Rio, vai passar por uma repaginada, com direito a uma área de convivência para os clientes e lojistas. A área, que tem 190 mil metros quadrados, vai ser modernizada com calçadas niveladas, bancos e uma infraestrutura moderna. Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura, o projeto ainda está em fase inicial e a obra terá duração de dois anos. 


De acordo com a secretária de Infraestrutura, Jessick Trairi, a Rua Tomé de Souza ganhará destaque porque abrigará uma área de convivência, com mobília urbana e canteiros. "Essa área tem aproximadamente 1.250 metros quadrados. A ideia é priorizar o pedestre, colocando as ruas e calçadas em um nível só com um material parecido com o que foi usado no VLT. Queremos aproveitar mais essa rua pois ela é bem arborizada, então dá para fazermos um espaço bem confortável para quem trabalha e para quem vai comprar".

Para Jessick, a ideia da revitalização é propiciar convivência e tranquilidade para quem frequenta o local. "No total, a obra durará dois anos. Temos esse prazo extenso porque não podemos abrir todas as ruas ao mesmo tempo. É importante o comércio, por isso estamos desenhando o plano de ataque, idealizando qual seria a melhor etapa, que será apresentada pelo prefeito. A Rua Tomé de Souza será uma das principais, mas todas do Saara serão modernizadas".

Por ter duas partes com um canteiro central dividindo-a no meio, a Tomé de Souza ganhou um destaque maior. No total, serão 16 ruas revitalizadas, do Campo de Santana até a Avenida Passos. "Ali não seria uma praça, mas um local de convivência mesmo. Vamos instalar bancos, canteiros, aproveitar as árvores, entre outros. A nossa expectativa é trazer uma modernização e um Saara requalificado, priorizando o pedestre e o comerciante, pois ali é uma área de comércio tradicional. É um shopping a céu aberto. Queremos melhorar para que as pessoas frequentem mais com acessibilidade e qualidade".

O presidente da Associação do Saara, Sérgio Obeid, explicou que o projeto de readequação das ruas da região é uma demanda antiga dos lojistas e empresários. "A última intervenção foi na década de 90. As ruas estão esburacadas, as calçadas com problemas e isso atrapalha o fluxo de pessoas circulando. Já tivemos algumas melhorias nesses últimos meses, mas acreditamos que esse projeto vai ser a melhor coisa e ajudará bastante os frequentadores".

Sérgio destacou que a implantação de uma área de convivência na rua Tomé de Souza será de extrema importância para os restaurantes que ali resistem há cerca de 50 anos. "Será um espaço que pode sentar, conversar e apreciar a cidade. Temos área de preservação histórica também, as casas são antigas, então é muito importante todo cuidado. Estamos também tentando acompanhar as tendências dos shoppings fechados, por mais que sejamos uma área grande, com mix de lojas, faltavam determinados mimos para os nossos clientes. Então, esperamos que as obras consigam resolver essas questões".

De acordo com ele, a expectativa dos comerciantes é a melhor possível, mas há uma preocupação com o tempo de duração das obras. "Após a pandemia, todos ficamos com algum receio por causa dos 24 meses de duração, mas estamos em contato direto com a prefeitura e buscando alternativas para minimizar o máximo possível o impacto das obras. O resultado não será apenas para a gente, mas para o Centro como um todo". O Complexo do Saara tem cerca de 900 lojas em funcionamento, tirando os sobrados.
O lojista André Haddad, de 49 anos, contou que trabalha a vida toda no Saara. Filho de imigrante libanês, seu pai chegou ao Brasil em 1960 e tinha um irmão que já trabalhava na região. "Ele começou a trabalhar, construiu a loja que temos hoje e eu desde pequeno vinha para cá passar férias e ajudando. Fiz faculdade de administração e decidi tocar o negócio. Eu tenho um apego emocional muito grande a essa região".

André, que se tornou vice-presidente do polo do Saara, tem uma loja de uniformes profissionais, confecção e comércio. Para ele, o local precisa sim de revitalização. "O Centro do Rio precisa ser modernizado, não só com obras, mas com projetos que tragam o público para cá. Temos que voltar a trazer escritórios, repartições públicas que movimentem a região. Nós gostamos da ideia da obra da prefeitura, mas esperamos que ela nos procure para planejarmos juntos um plano de manejo e execução delas para que tenha o menor impacto possível para a rotina do comerciante".

Fernanda Nunes, empreendedora e bordadeira de sua empresa Together Bordados, trabalha com linhas, tintas e sacolas, precisando de tempos em tempos ir ao Saara abastecer sua matéria prima. "A minha relação com a região é de fidelidade porque quase todo mês eu estou lá, tanto para trabalho quanto para outras coisas de uso pessoal mesmo. Antes de comprar qualquer coisa em loja, eu pesquiso lá, por causa dos inúmeros atacados também. Por exemplo, adoro usar semi joia de prata, que na internet é muito caro, então eu vou no Saara e compro".

Segundo ela, a região trabalha com produtos de qualidade e de forma acessível. "Hoje em dia, se eu tiver que me mudar, eu sei que vou sentir muita falta do Saara porque me ajuda muito. Na minha vida profissional, é essencial, pois cobre toda a oferta de internet, por exemplo".

Para Fernanda, a revitalização pode ajudar os clientes a não se perderem nas ruas, por serem muito iguais, e dará também mais conforto a região, além de alavancar as vendas dos comerciantes. "Acho que vai ser muito legal ter bancos, até porque eu mesma passo o dia inteiro lá, então é ótimo para descansar. Mas, o ideal mesmo também seria ter acesso a um banheiro, nem que tivesse que pagar algum valor. Tem vezes que eu vou embora porque não encontro um banheiro por ali".
O Polo Saara

Segundo a RioTur, localizado no centro histórico do Rio, o Polo Saara é considerado o maior shopping a céu aberto do estado. A região foi originalmente ocupada por imigrantes de diferentes nacionalidades no final do século XIX, que montaram pequenos negócios para o sustento da família.

A arquitetura antiga das lojas que compõem o Saara ainda está preservada e mantêm a mesma aparência da época. O local é considerado como a Meca do comércio popular e possui uma variedade de lojas de roupas, brinquedos e pequenas lembranças. Ele está na região de alguns pontos turísticos como o Campo de Santana, a Igreja da Candelária e a Biblioteca Parque Estadual.