Adriana Nascimento, 45 anos, espera operação no Into pra pôr prótese de quadril desde agosto de 2021Cleber Mendes

Rio - No estado do Rio, há 58.695 pessoas aguardando na fila para a realização de cirurgias eletivas na rede pública. São pacientes que já entraram no sistema de regulação e estão referenciados para os hospitais. As unidades administradas pela rede federal, que realizam os procedimentos de média e alta complexidade, são as que contam com mais gente à espera: 33.871 no total. Na sequência, vem a rede municipal, com 13.333 pacientes na fila, e estadual, com 4.128. O hospital com o maior número de pessoas esperando cirurgia é o Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into): 16.541 ao todo.

Os dados são da plataforma da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio, e foram obtidos com exclusividade pelo DIA. No Into, um dos pacientes que aguardam cirurgia é Adriana Nascimento da Silva, de 45 anos. Ela precisa implantar uma prótese de quadril.

"O osso foi desgastando nos dois lados. Já quase não consigo mais me locomover. Perdi totalmente a qualidade de vida e vivo à base de remédios. Eu, que sempre trabalhei como diarista, de segunda a sábado, agora não posso mais fazer nada. Vivo em casa. Para ir ao banheiro, calçar um tênis, é sempre uma luta. Só saio para ir ao banco. Na rua, já levei vários tombos, porque a musculatura está fraca", diz Adriana, que aguarda a cirurgia desde agosto de 2021.

Além da demora, os pacientes reclamam da falta de informação e de transparência. Gilson Souza dos Santos, de 61 anos, também precisa de uma prótese de quadril. Inicialmente, buscou o Hospital Federal de Ipanema, em setembro de 2020, onde fez exames e foi constatada a necessidade da cirurgia. Desde então, aguarda o procedimento.

"Dizem que vão ligar, mas eu fico com medo de não me encontrarem. Toda hora eu vou lá, mas nunca tem informação, a gente não sabe de nada. O doente fica à mercê", diz Gilson, que buscou ajuda na Clínica da Família do Cantagalo, onde mora: "Lá, disseram que eu não estava em nenhuma fila de regulação. Isso foi em janeiro de 2022. Fui inserido e me mandaram para o Hospital Estadual Melchiades Calazans, em Nilópolis. Fiz exames lá, mas, até agora, nada. Sigo sem informação. Tudo é muito vago".

Rosemeri de Oliveira Machado, de 58 anos, espera cirurgia no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj, há dois anos. Ela conta que necessita de uma operação para corrigir uma fístula na bexiga, problema ocasionado após a retirada do útero na Maternidade Fernando Magalhães.

"Tive que retirá-lo porque ele estava com miomas. Só que deu essa complicação na bexiga. O resultado é que tenho que usar fralda o tempo todo, pois não consigo controlar a urina. Não posso viajar, ir à praia ou à casa de ninguém, porque eu tenho que trocar a fralda a cada três horas. Eu fico muito constrangida. Prefiro evitar", diz Rosemeri.

Fila pode ser maior

Os números divulgados nesta matéria podem ainda ser maiores, já que há unidades que não constam na lista obtida pelo DIA. É o caso do Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF. Na fila, está Nauredino Menezes de Souza, de 77 anos, que precisa de uma prótese de fêmur. Ele aguarda cirurgia desde setembro de 2022.

"Meu pai sente dores terríveis 24 horas por dia. Ele está definhando em cima de uma cama e desenvolvendo quadro de depressão, assim como todos nós da família", diz a filha Isabella Souza.

Antes de entrar na fila, longo tempo de espera

Segundo a coordenadora de Saúde da Defensoria Pública do Estado, Thaisa Guerreiro, a maior demanda por cirurgias eletivas, não consideradas de urgência, são as ortopédicas e oftalmológicas. Ela explica que as filas dos hospitais são apenas uma parte do problema.

"As pessoas que estão na fila já tiveram uma primeira consulta nesses hospitais e estão agora aguardando a realização da cirurgia. Mas, para chegarem a essa consulta, elas já estão há anos esperando", diz a defensora.

Thaisa atribui os altos números das filas à falta de profissionais e de insumos: "Na rede federal, o Ministério da Saúde repassa valores fixos aos hospitais. Essa lógica precisa mudar, pois ela não estimula a produtividade. A pasta precisa mudar essa lógica de financiamento".
Governo do Estado anuncia programa
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde (MS), a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e a Secretaria municipal de Saúde (SMS). A SES disse que implementou o programa OperaRJ, que prevê o investimento de R$120 milhões em todos os municípios do estado por meio de parcerias para acelerar o atendimento das cirurgias eletivas no sistema público. "Essa é uma forma de estimular os médicos e profissionais de saúde a acelerar esses procedimentos. A meta é zerar a fila de espera", diz a pasta.
Ainda de acordo com a SES, a secretaria vem adotando outras medidas a fim de reduzir o tempo de espera dos pacientes por cirurgias. "Além do OperaRJ, a secretaria realiza chamamento público para aumentar a oferta de realização de cirurgias bariátricas desde julho do ano passado e, com isso, o número de procedimentos passou de uma média mensal de 40 ao mês, em 2020, para 190, em 2022, sendo totalmente custeados pelo governo do estado. E também vem ampliando as cirurgias nas unidades de alta e média complexidade".
Sobre o caso de Rosemeri,a SES informou que a cirurgia dela está marcada para o próximo dia 22. O Ministério da Saúde e a SMS não responderam.