Adriana Nascimento, 45 anos, espera operação no Into pra pôr prótese de quadril desde agosto de 2021Cleber Mendes
Os dados são da plataforma da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio, e foram obtidos com exclusividade pelo DIA. No Into, um dos pacientes que aguardam cirurgia é Adriana Nascimento da Silva, de 45 anos. Ela precisa implantar uma prótese de quadril.
"O osso foi desgastando nos dois lados. Já quase não consigo mais me locomover. Perdi totalmente a qualidade de vida e vivo à base de remédios. Eu, que sempre trabalhei como diarista, de segunda a sábado, agora não posso mais fazer nada. Vivo em casa. Para ir ao banheiro, calçar um tênis, é sempre uma luta. Só saio para ir ao banco. Na rua, já levei vários tombos, porque a musculatura está fraca", diz Adriana, que aguarda a cirurgia desde agosto de 2021.
Além da demora, os pacientes reclamam da falta de informação e de transparência. Gilson Souza dos Santos, de 61 anos, também precisa de uma prótese de quadril. Inicialmente, buscou o Hospital Federal de Ipanema, em setembro de 2020, onde fez exames e foi constatada a necessidade da cirurgia. Desde então, aguarda o procedimento.
"Dizem que vão ligar, mas eu fico com medo de não me encontrarem. Toda hora eu vou lá, mas nunca tem informação, a gente não sabe de nada. O doente fica à mercê", diz Gilson, que buscou ajuda na Clínica da Família do Cantagalo, onde mora: "Lá, disseram que eu não estava em nenhuma fila de regulação. Isso foi em janeiro de 2022. Fui inserido e me mandaram para o Hospital Estadual Melchiades Calazans, em Nilópolis. Fiz exames lá, mas, até agora, nada. Sigo sem informação. Tudo é muito vago".
Rosemeri de Oliveira Machado, de 58 anos, espera cirurgia no Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj, há dois anos. Ela conta que necessita de uma operação para corrigir uma fístula na bexiga, problema ocasionado após a retirada do útero na Maternidade Fernando Magalhães.
"Tive que retirá-lo porque ele estava com miomas. Só que deu essa complicação na bexiga. O resultado é que tenho que usar fralda o tempo todo, pois não consigo controlar a urina. Não posso viajar, ir à praia ou à casa de ninguém, porque eu tenho que trocar a fralda a cada três horas. Eu fico muito constrangida. Prefiro evitar", diz Rosemeri.
Fila pode ser maior
Os números divulgados nesta matéria podem ainda ser maiores, já que há unidades que não constam na lista obtida pelo DIA. É o caso do Hospital Universitário Antônio Pedro, da UFF. Na fila, está Nauredino Menezes de Souza, de 77 anos, que precisa de uma prótese de fêmur. Ele aguarda cirurgia desde setembro de 2022.
"Meu pai sente dores terríveis 24 horas por dia. Ele está definhando em cima de uma cama e desenvolvendo quadro de depressão, assim como todos nós da família", diz a filha Isabella Souza.
Antes de entrar na fila, longo tempo de espera
Segundo a coordenadora de Saúde da Defensoria Pública do Estado, Thaisa Guerreiro, a maior demanda por cirurgias eletivas, não consideradas de urgência, são as ortopédicas e oftalmológicas. Ela explica que as filas dos hospitais são apenas uma parte do problema.
"As pessoas que estão na fila já tiveram uma primeira consulta nesses hospitais e estão agora aguardando a realização da cirurgia. Mas, para chegarem a essa consulta, elas já estão há anos esperando", diz a defensora.
Thaisa atribui os altos números das filas à falta de profissionais e de insumos: "Na rede federal, o Ministério da Saúde repassa valores fixos aos hospitais. Essa lógica precisa mudar, pois ela não estimula a produtividade. A pasta precisa mudar essa lógica de financiamento".
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