Enterro e velório da Aline da Silva Resener de Oliveira, vítima de feminicídio em Bangu. Cemitério Jardim da Saudade Sulacap. Velório das 8h às 10h30. Enterro acontece depois. Foi pedido para que as pessoas usassem rosa, em respeito à luta das mulheres e casos de feminicídio.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - Os pais de Aline Oliveira Silva, 41, assassinada pelo ex-marido Marcius dos Reis Resener de Oliveira na frente do filho do ex-casal de oito anos, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, temem pela vida após o crime.
Debilitada e sem conseguir andar, a mãe da vítima, Marli de Oliveira, chegou ao velório da filha na manhã desta segunda-feira (8), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, em uma cadeira de rodas. Ela afirmou que a família já recebeu ameaças de morte e, mesmo com Marcius preso, não se sentem seguros. A vítima também havia avisado à polícia uma semana antes do crime sobre as ameaças que sofria.
"Estamos com medo porque ele já prometeu que mataria a nossa família. Ele não anda sozinho, tem comparsas. A namorada dele também chegou a mandar várias mensagens avisando que ia matar minha filha, daqui a pouco está solta", disse Marli, se referindo à Rafaella Azevedo Calheiros Régis, atualmente presa por ser cúmplice de Marcius no dia do crime.
O cunhado e irmão da vítima também sofreram ameaças. André Luiz Barbosa, cunhado, diz que foi ameaçado por Marcius porque ajudava Aline a pegar o menino nos dias de guarda alternada. "Só peço à Justiça que faça alguma coisa. Coloquem um ponto final nisso, somos pessoas honestas, não podemos viver com essa sombra de ameaças. Há pessoas da família que não querem sair de casa. Só queremos paz", ressaltou.
O irmão de Aline, Luzias Costa da Silva Júnior, afirmou que a família está sem dormir há três dias e pediu respostas às autoridades. "Até quando isso vai acontecer? Quando eu estava no IML eu vi várias mães na mesma situação. Se esse cara sair da prisão ele vai matar meu cunhado, minha mãe e eu. Até quando essas pessoas vão ter forças? Nossa família não dorme, estamos há três dias em claro", desabafou.
A mãe de Aline também questionou o judiciário diante das negativas do pedido de prisão contra Marcius. "Espero que a justiça seja feita, mas eu não vejo justiça nesse Brasil. Se tivesse, ele estaria preso há muito tempo. E agora? Alguém vai devolver minha filha? Minha filha tão bonita, cheia de vida… fazia tantas coisas boas. Fazia bolos e doces para sustentar os filhos e ele tirou a vida dela", lamentou.
Lusias Costa da Silva, pai de Aline, relatou que a filha vinha recebendo muitas ameaças de morte e, inclusive, chegou a denunciar na 33ª DP (Realengo), mas de nada adiantou. O pai lamentou o fim trágico da história e relembrou que foi contra o casamento deles.  "Nós já tínhamos em mente que poderia acontecer, mas ela [Aline] não acreditava. No início o Marcius chegou a ficar na minha casa. Eles se casaram contra a nossa vontade porque desde o início ele já demonstrava muito ciúmes. Ele agredia ela, botava faca e arma para que ela se matasse...", lembra. A mãe de Aline também reforçou o comportamento agressivo do preso. "Ele não prestava. Ela largou ele há dois anos, minha filha não podia ficar com ninguém. Ele não gosta do filho, era somente para atentar a vida da minha filha".
Aline foi lembrada como uma mulher boa, que lutou até o fim da vida para conseguir a guarda do filho. Para o pai, ela era o seu porto seguro. "Era ela quem resolvia todas as coisas lá em casa". A vítima deixa três filhos, sendo dois de outro relacionamento.
Michele Monsores, a advogada que acompanhou a luta de Aline pela guarda do filho mais novo, conta que Marcius não deixava a ex-mulher em paz nos dias que podia ficar com o garoto, durante o período de guarda alternada. "A Aline nos dias que ficava com o menino não tinha ficava em paz, Marcius sempre ligava", lembrou Michele, que também já recebeu ameaças do criminoso.
Filho lembra com detalhes o crime
O menino de oito anos presenciou o pai atirar três vezes contra a mãe, na tarde de sexta-feira (5), na frente da escola onde estudava. Segundo o próprio garoto relatou a familiares, Marcius apareceu na frente do colégio encapuzado e, ao ver mãe e filho indo embora de bicicleta, atirou contra a ex-companheira. Aline tentou ainda abraçar o filho para protegê-lo dos disparos. Bastante alterado, o assassino puxou o menino e, antes de fugir com ele, retornou e atirou duas vezes na cabeça de Aline.
"A criança está mal, mas graças a Deus temos um corpo familiar e todos estão acolhendo. Ele lembra de tudo e fala que a mãe pediu para que o Marcius não fizesse mal a ele", diz Lusias. O garoto está sendo cuidado pela família materna e conversou com psicólogos do Conselho Tutelar de Guaratiba na sexta-feira (5), horas depois do crime. Foi a criança que mostrou aos policiais onde o pai havia escondido a arma usada para matar a mãe. 
A advogada Michele também esteve com o menino no domingo (8) e disse ter sido indagada pela criança sobre o que aconteceria após a morte da mãe. "Ontem eu fui lá e ele me perguntou: "E agora, tia?", não sou eu que tenho que prestar conta a ele, a Justiça sim", lamentou. Michele questionou ainda a forma como a Justiça tem conduzido casos como esses da Aline. "Ela não será a primeira e nem a última. Eles questionam, colocam em dúvida as denúncias de quem realmente precisa".
Homenagens no enterro
O corpo de Aline foi velado na Capela 8 do Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio, na manhã desta segunda-feira (8). O enterro aconteceu às 11h, no mesmo cemitério. A família de Aline pediu para que as pessoas usassem blusa rosa, em respeito à luta das mulheres contra a violência e o feminicídio. 
Antes de ser assassinada, Aline estava sendo atendida pela OAB Mulher e fazendo parte do Programa Casa da Mulher Carioca, onde recebia atendimento de psicólogos por causa da violência que estava sofrendo. No último Dia Internacional da Mulher, Aline foi homenageada pela OAB, subseção de Bangu, por sua "coragem, resistência e fé" ao conseguir a guarda do filho na Justiça. 
Suspeitos presos
A Justiça do Rio manteve a prisão de Marcius e da namorada Rafaella pela morte de Aline, em audiência de custódia realizada no domingo (7). Os dois foram presos em flagrante logo após o crime. A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) está investigando o caso e realizando diligências.
*Colaboração de Reginaldo Pimenta