Pré-candidatos às eleições de 2020 em reunião com o miliciano Danilo Dias, o Tandera, em 2020Divulgação
Políticos viram réus por envolvimento com miliciano Tandera em troca de apoio à eleição
Thaianna dos Santos, conhecida como Dra. Thay Magalhães, Cornélio Ribeiro e Luciano Pereira respondem pelo crime de organização criminosa
Rio - O juiz Richard Robert Fairclough, da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital, aceitou uma denúncia do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) contra pré-candidatos a cargos públicos de cidades da Baixada Fluminense acusados de se reunirem com o miliciano Danilo Dias Lima, o Tandera, em troca de apoio para eleição, em 2020.
Thaianna Cristina Barbosa dos Santos, mais conhecida como Dra. Thay Magalhães, pré-candidata à prefeitura de Mesquita, Cornélio Ribeiro, pré-candidato a prefeito de Nova Iguaçu, e Luciano Henrique Pereira, pré-candidato a prefeito de Seropédica, viraram réus na quinta-feira passada (11) pelo crime de organização criminosa.
Em sua decisão, o magistrado entendeu que a denúncia se encontra regular e atendendo os requisitos do Código Penal, com exposição clara dos fatos imputados aos réus, qualificações, indicação de provas e de diligências, que possibilitam a ampla defesa.
"Ainda em cognição rarefeita, estão presentes indícios das condutas criminosas narradas na denúncia, e de sua respectiva autoria, de forma discriminada e individualizada, com arrimos nos mencionados inquéritos e diligências cautelares efetivadas", escreveu Fairclough.
Além dos três, outras 14 pessoas viraram réus, incluindo Tandera, que segue foragido.
Relembre o caso
Áudios obtidos por investigadores do Ministério Público do Rio (MPRJ) e da Polícia Civil mostram que a alta cúpula da milícia de Danilo Dias, o Tandera, tentou negociar autonomia em secretarias e cargos públicos com pré-candidatos às eleições de 2020 de municípios da Baixada Fluminense. Na reunião, é possível identificar a voz de Tandera, comprovando que ele esteve reunido com Thaianna, Cornélio Ribeiro e Luciano.
Em um dos áudios, Cornélio inicia a conversa com os milicianos. "A minha proposta aqui é o apoio de vocês junto à comunidade, sem nenhum interesse que vocês façam o bem ou o mal". Em seguida, Thay Magalhães cita um modelo do esquema proposto: "O importante é vocês terem a estrutura de vocês. Como é que a gente vai fazer? Vocês vão botar as outras empresas para concorrer junto com vocês, mas todo mundo alinhado".
Em um outro áudio, Tandera, que compareceu à reunião usando uma peruca como disfarce, afirma que quer chegar aos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo com a ajuda dos políticos. "Para vocês estar (sic) aqui hoje também, vocês sabem que lá na frente, pô, tudo é investimento. Eu tenho um pedido para fazer. Se não fosse para vocês, seria para outras pessoas que viessem com uma ideologia, mas a ideologia de vocês bate com a gente. Enquanto a gente não alcançar o poder Legislativo, o poder Judiciário e o Executivo, o Quarto Poder, a gente não vai conseguir nada. A gente não vai sair desse rolo. A gente tem que ter o direito a uma licitação, a gente tem que ter direito a alguma secretaria. Tá me entendendo? Aí as coisas anda (sic), aí a gente faz um elo", disse Tandera.
Os políticos foram alvos de uma operação da Polícia Civil em conjunto com o Ministério Público, no dia 3 de maio, que tinha como objetivo combater a milícia de Tandera. De acordo com o delegado da 48ª DP (Seropédica), Vinicius Miranda, agentes do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) prenderam seis pessoas e foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão. Nove pessoas ainda estão foragidas.
De acordo com as investigações, a organização criminosa é responsável por extorsões, homicídios, ameaças, grilagem de terras, agiotagem, exploração ilegal de areais, lavagem de dinheiro, entre outros crimes, principalmente na capital do Rio e nos municípios de Nova Iguaçu, Queimados e Seropédica, na Baixada Fluminense. A apuração também revelou a formação de uma 'coalizão', que seria uma espécie de acordo, entre candidatos a cargos eletivos para as eleições de 2020 e os líderes da milícia.
Ao longo das investigações foi possível constatar ainda que a quadrilha vem, por meio da prática de atos violentos e da imposição do terror, afirmando sua dominância sobre moradores e comerciantes das regiões onde atuam.
Os policiais localizaram também vídeos com cenas de tortura e execuções sumárias, praticadas de forma cruel. Os milicianos contam com uma estrutura hierárquica bem delineada, com divisão de funções e tarefas entre seus integrantes. Nos últimos anos, a associação criminosa passou a atuar de forma ainda mais complexa, buscando expandir seus negócios por meio da infiltração no poder público.
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