Pelo menos quatro pessoas deram entrada já sem vida no Hospital Estadual Getúlio VargasReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Uma operação pelo segundo dia consecutivo no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, provocou a morte de quatro pessoas e deixou outros três moradores feridos, nesta quinta-feira (25). Policiais militares do Comando de Polícia Pacificadora (CPP) e da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Fé/Sereno atuaram no Morro da Fé e, de acordo com as plataformas Fogo Cruzado e Onde Tem Tiroteio, os disparos tiveram início por volta das 5h30.
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), sete pessoas deram entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, quatro delas, ainda não identificadas, sem vida. Já os feridos são Samuel Patrick Paixão Piedade, 20, que teria perdido parte das nádegas, após a explosão de uma granada; Ana Luiza Ananias Soares Silva, 23, atingida no pulso esquerdo; e Elcimar Fernandes da Silva, 59, baleado no braço e nas nádegas. O quadro do primeiro é estável e os dois últimos já receberam alta médica.
A irmã de Ana Luiza, Mariana Cristina, contou que a jovem estava com a sobrinha de 4 anos e, assim que saiu de casa, foi baleada. O pai da vítima, que também estava com ela, prestou os primeiros socorros e um amigo da família a levou para o hospital. A familiar relatou ainda que chegou a acreditar que o confronto acontecei na comunidade do Quitungo, em Brás de Pina, onde moram, por conta da instensidade dos tiros, e chegou a pedir para que ela não saísse de casa. 
"A rua estava movimentada, então, não parecia que era lá nessa região (do Quitungo), e não era, disseram que era no Morro da Fé. Eu pedi para ela não sair de manhã, porque estava 'dando' muito tiro, a gente entrou em desespero. Ela tinha acabado de sair da casa da minha mãe com a minha sobrinha, de mãos dadas, e estava indo levar a minha irmã na escola. Assim que ela virou a rua, mal saiu de casa, já tomou um tiro no braço e caiu. Minha sobrinha deve ter ficado aterrorizada. Essa é a nossa realidade, é isso que a gente vive, isso que a gente tem que passar. (A nossa casa) é longe, mas a bala acha", lamentou Mariana.
Já Elcimar foi socorrido por um amigo e pelo representante comercial Maurício Lopes, que contou que o morador tomava café em uma padaria, quando foi atingido de raspão. Segundo o homem, o trio tem o hábito de se encontrar no estabelecimento no mesmo horário, antes do trabalho, mas que evitou ir nesta quarta, por conta dos tiros. Na manhã de hoje, diversos colegas estiveram no hospital para ter notícias da vítima. 
"A gente costuma sempre estar ali essa hora, de manhã, bater um papo antes de sair para trabalhar. Eu comecei a escutar os tiros e não saí de casa, esperei acalmar. Mas ele, infelizmente, (foi atingido), não sei o que ele foi fazer na padaria naquela hora. Foi um susto muito grande. Ele é um cara tranquilo, bom amigo, bom parceiro, bom pai, por isso está todo mundo aqui", afirmou Maurício. 
Nas redes sociais, moradores afirmaram ouvir a troca de tiros no Morro da Fé de bairros próximos à comunidade, como Vila da Penha e o conjunto do Ipase, e até em Irajá. Relatos apontaram também uma intensa troca de tiros no Morro do Trem, em Vila Kosmos, mas a PM informou que não há ação do 41º BPM (Irajá) no local. "Mesmo distante, está dando para ouvir daqui de Irajá as rajadas de tiros que estão rolando lá no Morro do Trem", comentou outra. "Mais um dia de muito tiro na Vila da Penha", disse mais um. Confira abaixo.
A operação no Morro da Fé tinha o objetivo de coibir movimentações criminosas relacionadas ao roubo de veículos na região e outros crimes. Segundo a PM, após uma troca de tiros com criminosos, dois fuzis e drogas foram apreendidos. Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), na região do Complexo da Penha, duas unidades escolares foram impactadas, afetando 170 alunos, enquanto em Vila Kosmos, quatro escolas não estão funcionando, deixando 893 estudantes sem aulas.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) informou que a Clínica da Família Aloysio Augusto Novis, na Penha Circular, mantém o atendimento à população, mas suspendeu as visitas domiciliares. Já a CF Ana Maria Conceição dos Santos Correia, em Vila Kosmos, acionou o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, interrompeu o funcionamento nesta quinta-feira.
Operação integrada na Zona Norte deixa quatro mortos
Neste quarta-feira (24), uma operação integrada nos complexos da Penha e do Alemão e nas favelas do Flexal, no Engenho da Rainha, e de Manguinhos, na Zona Norte, deixou quatro suspeitos mortos e o morador Evaldo Alves da Rocha, de 60 anos, baleado. A vítima foi socorrida para o Hospital Estadual Getúlio Vargas e já recebeu alta. As equipes pretendiam encontrar criminosos de outros estados e lideranças locais, mas não houve presos. 
Por conta da operação, 40 escolas da rede municipal de ensino na região das comunidades ficaram sem aulas, afetando mais de 11,7 mil alunos. Ao todo, as equipes apreenderam três fuzis, mais de meia tonelada de drogas, entre 80 pés e 196 tabletes de maconha, e cerca de 47 mil pinos de cocaína, além de terem recuperado três carros e uma motocicleta roubados. 
Outras operações
Nesta quinta-feira, o 9º BPM (Rocha Miranda) realiza operação nas comunidades do Faz Quem Quer, Congonha e Cajueiro, em Madureira, na Zona Norte. Na Zona Oeste, o 27º BPM (Santa Cruz) atua nas favelas do Aço, Antares, Rola e Três Pontes, enquanto equipes do 14º BPM (Bangu), estão na Vila Vintém, Curral das Éguas, 77, Minha Deusa, Light, Cosme e Damião, Jardim Novo, Rua I, Selvinha e São Bento, nos bairros de Realengo, Padre Miguel e Magalhães Bastos. 
Já o 18º BPM (Jacarepaguá) reforça o policiamento em toda a região de Jacarepaguá, para coibir práticas criminosas e o avanço da disputa de criminosos de facções rivais. Na comunidade do Sertão, entre o Rio das Pedras e o bairro do Anil, dois fuzis e uma pistola foram apreendidos. Na Rua Comandante Luís Souto, no Tanque, foram encontrados um balão de sete metros e duas bandeiras de 11 e cinco metros. O material foi encaminhado à 28ª DP (Praça Seca).
Desde o início do ano, traficantes do Comando Vermelho tentam invadir comunidades dominadas por milicianos e integrantes do Terceiro Comando Puro, onde os grupos paramilitares têm maior influência, para expandir os pontos de vendas de droga. Os criminosos têm disputado o domínio da Praça Seca, Muzema, Rio das Pedras, Complexo da Covanca, Gardênia Azul, além dos Morros do Fubá e Campinho. 
O 24º BPM (Queimados) faz uma ação na comunidade do Guandu, em Japeri, onde um suspeito foi baleado durante um confronto. Uma pistola e um rádio transmissor foram apreendidos. Na Vila Ruth, em São João de Meriti, a operação do 21º BPM (São João de Meriti) apreendeu dois fuzis. Também na Baixada Fluminense, o 39º BPM (Belford Roxo) atua no Complexo do Parque Floresta, em Belford Roxo, e o 20º BPM (Mesquita) na favela da Chatuba, em Mesquita. 
Há ainda uma operação conjunta entre o 10º BPM (Barra do Piraí), o 28º BPM (Volta Redonda), o 37º BPM (Resende), além da Polícia Civil e da Guarda Municiapal, no Primeiro Distrito de Barra do Piraí, no Sul Fluminense, para reprimir o tráfico de drogas e apreender de armas e veículos.
A Polícia Militar pede a colaboração da população para localizar criminosos e esconderijos de armas e de drogas pelo 190 ou pelo Disque Denúncia, nos telefones (21) 98849-6099; (21) 2253-1177 ou 0300-253-1177, além do App Disque Denúncia RJ e também pelo inbox do Facebook e Twitter dos Portal dos Procurados. O anonimato é garantido.