Equipes da PM removeram barricadas nos complexo do Alemãe e da PenhaReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - A Polícia Militar realizou um conjunto de ações integradas em comunidades da Zona Norte do Rio, desde as primeiras horas desta quarta-feira (24), para prender criminosos de outros estados e líderes da facção que atuam nessas regiões. As operações contam com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e acontecem nos complexos do Alemão e da Penha, além de nas favelas do Flexal, no Engenho da Rainha, e de Manguinhos. Houve intensas trocas de tiros e, até o momento, quatro suspeitos morreram. Um fuzil e drogas a serem contabilizadas também foram apreendidos pelos agentes.
A plataforma Fogo Cruzado registrou que os disparos começaram a ser ouvidos às 5h42 nas localidades da Grota e Canitar, no Complexo do Alemão, e às 5h44 na Vila Cruzeiro, na Penha. Na manhã desta quarta-feira, ainda havia relatos de trocas de tiros nas comunidades. Moradores usaram as redes sociais para compartilhar imagens dos momentos de tensão durante os confrontos. Confira abaixo.
No início da madrugada, traficantes teriam aberto bueiros, colocado pneus nas ruas e espalhado óleo pelas vias, como forma de atrapalhar o deslocamento de policiais. Na manhã de hoje, barricadas foram incendiadas e um poste de energia caiu sobre imóveis e próximo a um veículo, causando mais chamas. Confira abaixo.
Em uma imagem, moradores aparecem carregando um corpo enrolado em um cobertor, no Complexo do Alemão. De acordo com a PM, equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foram atacadas por criminosos que estavam escondidos na parte alta da comunidade. Posteriormente, os agentes foram informados de que três homens deram entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e dois deles não resistiram. Já a unidade informou que recebeu três vítimas de tiros vindos da operação e um deles já estava morto.
O terceiro baleado recebeu alta. Familiares dos feridos estiveram na porta do hospital na manhã desta quarta-feira. Até o momento, um fuzil e cocaína foram apreendidos e barricadas removidas. As ocorrências estão sendo registradas inicialmente na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco/IE). Na comunidade da Nova Brasília, ainda no Complexo do Alemão, equipes do Batalhão de Operação com Cães (BAC) encontraram uma plantação de maconha, onde haviam também diversos tabletes da droga. 
Complexo do Alemão

Um poste caiu nas casas e no carro pic.twitter.com/ikOYJxEcMB
Mais confrontos
Na comunidade do Flexal, o 3º BPM (Méier) foi atacado por criminosos e houve confronto. Na troca de tiros, dois suspeitos foram baleados e chegaram a ser socorridos para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas acabaram morrendo. Na ação, foram apreendidos dois fuzis calibres 7,62 e 5,56. A ocorrência foi encaminhada para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). As equipes também recuperaram três carros e uma motocicleta roubados. Os veículos foram apresentados na 44ª DP (Inhaúma).
Já em Manguinhos, um intenso tiroteio interrompeu a circulação dos trens no trecho entre Gramacho x Central do Brasil, por volta das 10h. Apesar da troca de tiros entre bandidos e PMs, até o momento, não há relatos de presos, feridos ou apreensões. Segundo a corporação, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) verifica se criminosos dos complexos do Alemão e da Penha fugiram para a região.
Operação deixou mais de 11 mil alunos sem aulas e afetou unidades de saúde 
Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), na região do Complexo da Penha, 17 unidades escolares foram impactadas, afetando 5.411 alunos, e no Complexo do Alemão, outras 19 estão fechadas, afetando 5.654 alunos. Já a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc),esclareceu que, até o momento, nenhuma instituição de ensino precisou ser fechada na região, mas ressaltou que direção têm autonomia para tomar as providências necessárias para garantir a integridade dos alunos, professores e funcionários.
Ainda segundo a SME, no Engenho da Rainha, uma escola teve o funcionamento interrompido, prejudicando 301 alunos, enquanto em Manguinhos, três unidades também não estão funcionando, deixando 420 estudantes sem aulas.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) informou que, na área do Alemão e da Penha, a Clínica da Família Rodrigo Y. Aguilar Roig acionou o protocolo de acesso mais seguro e, para segurança de profissionais e usuários, interrompeu o funcionamento. Já as CFs Aloysio Augusto Novis e Zilda Arns, além do Centro Municipal de Saúde São Godofredo, mantêm o atendimento à população, mas as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas.
As Clínicas da Família Bibi Vogel e Victor Valla, respectivamente no Engenho da Rainha e em Manguinhos, acionaram o protocolo de acesso mais seguro e interromperam o funcionamento. Na última, o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (Fiocruz) mantém o atendimento à população. Apenas as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares, estão suspensas. 
Em seu perfil, a deputada estadual Renata Souza (PSOL) comentou sobre como a operação afeta a vida dos moradores da região. "Hoje são mais de 10 mil estudantes sem aula, com 36 escolas da rede municipal fechadas nos Complexos do Alemão e da Penha por conta das operações policiais. Os impactos na vida da população são irreversíveis. Até quando a dignidade da favela será violentada para essa política falida?", questionou a parlamentar. 
A deputada federal Talíria Petrone (PSOL) também criticou a ação policial. "Inadmissível as operações nas favelas do Rio. Hoje foi a vez do Complexo do Alemão acordar sob terror. Caveirões aéreos atirando a esmo, sem qualquer preocupação com trabalhadores e estudantes que estão embaixo. Isso não é normal e precisa acabar!"
Criminosos de outros estados na mira da polícia
No último dia 16, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) e o Bope já haviam realizado uma operação no Complexo da Penha para localizar bandidos e lideranças de facções de outros estados. Entre os alvos, estavam os traficantes Sidmar Soares dos Santos, o Bolota, e Manoaldo Falcão Costa Junior, o Gordo Paloso, que são, respectivamente, Às de Copas e Rei de Paus do 'Baralho do Crime' do Disque Denúncia da Bahia. Entretanto, os traficantes, que estão foragidos, não foram localizados. 
Além deles, as equipes também fizeram buscas por envolvidos na tentativa de assalto a um banco da Ilha do Governador, no dia 11 de maio. Na ocasião, 11 bandidos foram presos por explodir uma agência da Caixa Econômica Federal da Rua Capitão Barbosa, na Praia de Olaria, no Cocotá. A quadrilha não conseguiu levar nenhuma quantia do banco, porque foi interceptada no momento do ataque. O grupo já vinha sendo monitorado e a suspeita é de que 30 criminosos estiveram envolvidos na tentativa de roubo.
Em um intenso confronto durante a ação na comunidade, um morador foi atingido por uma bala perdida dentro de casa e em áudios, pediu ajuda à vizinhos, porque estava com medo de sair do local e ser confundido com criminosos pela polícia. O músico Fábio Gomes, de 42 anos, foi atingido no braço e conseguiu ser socorrido para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. A vítima passa bem. No dia seguinte, Ivanildo Lima, 73, foi encontrado morto após ser baleado dentro de casa, na Rua Gonçalves Magalhães, na Penha.
Há um ano, megaoperação deixou 25 mortos
Uma megaoperação das polícias Militar, Federal e Rodoviária Federal, no Complexo da Penha, deixou 25 mortos. No dia 24 de maio de 2022, as equipes entraram na Vila Cruzeiro para impedir a migração de traficantes para a favela da Rocinha, Zona Sul, ambas dominadas pelo Comando Vermelho (CV). As investigações apontaram que entre os criminosos, haviam chefes de facção de Alagoas, Amazonas, Ceará, Pará, Bahia e Rio Grande do Norte, que realizariam uma invasão.
Na ação, o traficante conhecido como Pezão do Pará, acabou morrendo. Além dele, a cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, também morreu, atingida por uma bala perdida, na Chatuba, durante uma troca de tiros. Viúva de um militar, a vítima deixou um filho de 17 anos. Outras sete pessoas ficaram feridas, entre elas, o policial civil Sérgio Silva Rosário, que precisou passar por uma cirurgia no nariz, após ser atingido por estilhaços no rosto, quando realizava uma perícia na comunidade.
A operação do ano passado na Vila Cruzeiro foi a segunda mais letal do estado do Rio de Janeiro, ficando atrás somente da que aconteceu na favela do Jacarezinho, também na Zona Norte, em 6 de maio de 2021. A ação resultou na morte de 28 pessoas, incluindo o policial civil André Frias, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod).