Banco e suporte para notebook feito por alunos do Ateliê CriativoDivulgação

Rio - Ao falar sobre as propriedades do plástico, o biólogo e artista Felipe Cazé, de 31 anos, faz uma analogia com o chocolate: "Ele derrete e pode ser colocado em uma forma. Só não dá para comer", brinca. A descrição ilustra bem o que será feito em um espaço da Associação das Empresas de Campos Elíseos (Assecampe), em Duque de Caxias, durante as aulas do projeto Ateliê Criativo, que irá ensinar gratuitamente a jovens a transformar o plástico recolhido das ruas em produtos de design para a geração de renda.
O curso, que começará no dia 19 de junho, tem carga horária de 192 horas e sete meses de duração. Serão selecionados 60 participantes a partir de 16 anos de idade, com prioridade para aqueles que residam no entorno da petroquímica Braskem, que oferece o curso junto com a empresa Quest. As inscrições devem ser feitas até o dia 15 de junho, pelo site https://forms.gle/xia5vVumLk7T9Zs1A.
O espaço das aulas é equipado com maquinário específico, por meio do qual professores de design irão mostrar aos alunos como tampinhas de plástico e embalagens de produtos podem dar origens a bancos, mesas, porta-copos, chaveiros ou até mesmo bijuterias e obras de arte.
"De uma forma geral, as pessoas têm pouco conhecimento sobre o plástico. Sabem que têm grande durabilidade e são uns dos grandes poluidores do ambiente. Mas desconhecem que o plástico é uma resina que, ao ser derretido, pode se tornar uma série de outros objetos a partir de confecções artesanais e de alto valor agregado. A gente propõe a ressignificação do plástico", diz Felipe, que se autointitula 'plastiqueiro' e é responsável pela capacitação dos professores de design que ministrarão o curso.
Já o ambiente de trabalho ele chama de 'plastiqueria' ou microrecicladora. É uma oficina com máquinas para remodelar o plástico criadas junto com um parceiro de São Paulo a partir da metodologia Precious Plastic, do engenheiro e designer holandês Dave Hakkens: uma plataforma aberta na internet com informações e tutorais sobre como transformar o plástico em bens duráveis.
Alguns dos equipamentos são uma trituradora, uma prensa, um forno e a injetora, que insere a resina derretida em moldes específicos para a criação de peças 3D. A 'plastiqueria' também conta com ferramentas para trabalhar a madeira, como serrotes e martelos. Felipe explica que, durante as aulas, o plástico retirado do ambiente é transformado em placas, que depois podem ser trabalhadas da mesma forma como se fazem os móveis:
"Os bancos e mesas, por exemplo, são feitos a partir dessas placas de plástico reciclado. Elas são como mdf ou compensado, e também podem ser serradas em diferentes peças que depois, com uso de pregos ou encaixes, são transformadas nesses objetos".
Economia circular
O curso do Ateliê Criativo busca desenvolver uma economia circular na região de Campos Elíseos. A ideia é que os próprios alunos e a comunidade local tragam os materiais de plástico que consomem em casa ou encontram pela região para que, nas aulas, sejam transformados em produtos que depois possam ser vendidos para gerar renda para os próprios alunos.
A partir das placas de plástico reciclado, Felipe explica que diversos objetos podem ser criados. "Vai depender da criatividade de cada um", diz: "A proposta é que, após as aulas, os alunos tenham acesso ao maquinário, que ficará disponível no espaço das aulas. Eles poderão ir lá, produzir as placas e depois levá-las para casa, onde, com um simples serrote, poderão fazer uma série de outras coisas".
O curso vai utilizar tipos de plástico que não são tóxicos: o polietileno de alta densidade (tipo 2) e polipropileno (tipo 5). A principal matéria prima será as tampinhas de garrafa. Embalagens de produtos como os de higiene ou potes de sorvete e de manteiga também podem ser usados nas aulas, desde que trazidos pelos alunos já limpos.
"Não utilizamos corantes nas aulas. As cores serão dos próprios materiais trazidos. Elas serão combinadas a partir de um pensamento estético. Os professores de design vão orientar nesse processo. Assim, rompemos também com essa ideia de que o produto reciclado pode ser feito de qualquer maneira", pontuou Felipe.
A partir das inscrições, serão formadas três turmas. Ao final das aulas, os alunos terão o aprendizado avaliado a partir de apresentação individual de um trabalho de conclusão.