Miliciano Cléber Oliveira da Silva chegando na Cidade da Polícia após ser presoReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - A Polícia Civil realizou nesta quinta-feira (1°) a Operação Contaminação em que foram cumpridos um mandado de prisão e 42 de busca e apreensão, no Rio e em Minas Gerais, contra o braço financeiro da milícia. Na ação, o principal alvo, Cleber Oliveira da Silva, o Clebinho, foi preso. O miliciano é apontado como um dos responsáveis pela lavagem de dinheiro da maior milícia do estado, chefiada por Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, que age principalmente em Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste. Com ele, foram apreendidos quatro veículos de luxo.
Na operação, os policiais também prenderam o ex-PM Diego Machado Ferreira por portar uma arma em situação irregular. Segundo a corporação, o agente foi licenciado a bem da disciplina em junho de 2020, não pertencendo mais aos quadros da PMERJ. Um outro policial também foi detido pelo mesmo motivo. Ambos pagaram fiança e foram liberados.
Ainda na ação, um mototaxista foi conduzido a Cidade da Polícia, no Jacaré, por estar avisando sobre a operação aos milicianos. Ele permaneceu preso e irá responder pelo crime de associação criminosa.
Ao todo foram apreendidos duas pistolas, dois fuzis, uma espingarda, munições, joias e cerca de R$ 300 mil em espécie. Houve ainda o sequestro de 15 veículos, oito imóveis e cinco embarcações.
Segundo as investigações, os milicianos integrantes do núcleo financeiro da milícia são proprietários de inúmeras empresas, em especial postos de gasolina e lojas de conveniência, possuindo patrimônio incompatível com seus rendimentos. Além de possuir carros importados e imóveis de luxo em nome de outras pessoas, ligadas à milícia.
De acordo com o delegado titular da Delegacia Especializada em Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), Ricardo Carraretto, durante as investigações foram encontrados diversos indícios que postos de combustíveis e lojas de conveniências estariam lavando dinheiro para a milícia. Inclusive, haviam transferências e depósitos de empresas fora do estado do Rio, nesse caso de Minas Gerais, onde também foram cumpridos mandados.
Além disso, a milícia também obtém lucro mediante a cobrança de “taxa de segurança”, agiotagem, extorsões, homicídios, comércio ilegal de combustíveis, tráfico de armas e exploração do transporte alternativo e de máquinas caça-níqueis. Dentre os objetivos da operação estão ainda a obtenção de provas dos crimes citados.
Como funciona o esquema
As investigações apontaram que há indícios de que capitais oriundos de atividades criminosas estejam sendo misturados a recursos de origem legítima das empresas, com o objetivo de promover a lavagem de dinheiro. Como integrantes da quadrilha foram identificados suspeitos com anotações criminais, empregados cadastrados, que operariam a reciclagem do dinheiro ilegal, por meio de depósitos de valores suspeitos nas contas dos postos de gasolina.
De acordo com o delegado, na prática as empresas misturam os dinheiros da milícia com o legítimo para tentar driblar a polícia. “Hoje cumprimos 42 mandados de busca, muitos dos alvos fazem parte dessa engrenagem, uns funcionam como laranjas, outros como depositantes, que são os responsáveis por pegar o dinheiro em espécie e depositar na conta dessas empresas que fazem essa mescla. Esses postos e lojas funcionam na prática, mas misturam dinheiro lícito com ilícito”, disse.

O delegado assistente, Gabriel Martins, reforçou que as empresas não são de fachada. “Há uma mistura de capital ilícito de organizações criminosas com o capital dessas empresas, que existem, o que dificulta o trabalho da polícia para identificar a lavagem de dinheiro. Para avançar nas investigações, nós pedimos a quebra de sigilo bancário fiscal para colher o máximo de elementos”, contou.
A Justiça decretou medidas constritivas, como o bloqueio de contas bancárias e o sequestro de bens e arresto de valores até R$ 93 milhões, bem como a quebra de sigilos fiscal e bancário.

Ainda segundo os delegados, o caso está em fase de inquérito e nenhum dos envolvidos foi indiciado, mas estão sendo investigados por lavagem de dinheiro e organização criminosa.

“O Cléber tem um histórico de envolvimento com a milícia e a princípio ele seria o articulador dessa lavagem de dinheiro. Então toda essa engrenagem, ele que teoricamente comandaria, por isso ele é o principal alvo neste momento, mas ainda vamos avaliar os documentos, celulares apreendidos para identificar outras pessoas. Ao todo 24 pessoas físicas e jurídicas tiveram os bens bloqueados’, explicou Carraretto.

A mulher do miliciano também é investigada, pois tem empresas suspeitas em seu nome.
Cleber Oliveira já havia sido preso em 2017 em um apartamento em frente ao mar, na Avenida Lúcio Costa, na Barra. Na época, no mesmo endereço os agentes apreenderam um Toyota Corolla blindado, um Chevrolet Camaro, além de joias, documentos e R$168 mil em espécie.