Influenciadoras Kerollen Cunha e Nancy Gonçalves, mãe e filha, vão ser investigadas pela DecradiReprodução/redes sociais

Rio - As influenciadoras Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves, investigadas por racismo, costumavam abordar crianças que vendiam balas no sinal em Alcântara, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, há pelo menos três anos. As informações são do delegado Luís Maurício Armond, da 74ºDP, que colheu o depoimento da família do menino que recebeu uma banana de presente.

Segundo o delegado, os pais da criança procuraram a unidade e relataram que o filho já havia sido abordado pelas investigadas há cerca de três anos, onde elas prometeram um dia de príncipe no shopping. Na ocasião, elas iniciaram uma gravação e disseram que tudo que o menino tocasse poderia levar, mas no final ele só levou uma bola e um outro brinquedo.
“Ele (a criança) foi abordado pelas influenciadoras que o presentearam com uma banana. Assim que ele abriu, ficou decepcionado. Ele e a mãe me informaram que elas já vinham o assediando há muito tempo. O menino indicou um vídeo de 3 anos atrás, de um ‘dia de príncipe’, em que ele deveria ir a um shopping onde elas comprariam roupas para ele, o que não foi feito. O caso foi registrado como injúria racial. Agora nós vamos ouvir as influenciadoras e intimá-las para que sejam ouvidas, depois vamos finalizar nosso inquérito e remeter à Justiça para a adoção das medidas cabíveis”, explicou Luís Maurício Armond.

Em depoimento, os pais do menino disseram ainda que não autorizaram a exposição do menor nas redes sociais. Segundo as investigações, as influenciadoras moram no mesmo município onde realizaram os vídeos.

O caso também está sendo investigado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Ainda não há previsão para o depoimento das duas.
O assunto ganhou notoriedade após a advogada Fayda Belo, especialista em direito antidiscriminatório, produzir um vídeo denunciando a conduta das influenciadoras, que possuem 13 milhões de seguidores no TikTok e 1 milhão no Instagram. Nas imagens, Kérollen conversa com um menino negro em uma calçada e pergunta se ele gostaria de ganhar um presente ou R$ 10. Ele escolhe o presente, mas, quando percebe que era uma banana, responde 'só isso?' e demonstra que não gostou e sai.

Em outro momento, a influenciadora conversa com uma menina na rua e oferece a opção de a criança escolher entre R$ 5 ou um presente. A menina escolhe pelo presente, abre a caixa e vê que se trata de um macaco de pelúcia. Com o brinquedo nos braços, a criança aparenta ter ficado feliz e agradece.
Influenciadoras são investigadas por racismo após vídeo entregando banana e macaco de pelúcia para crianças - Reprodução/Redes Sociais
Influenciadoras são investigadas por racismo após vídeo entregando banana e macaco de pelúcia para criançasReprodução/Redes Sociais


Ainda nesta quinta (1º), o Ministério Público do Rio recebeu quase 700 denúncias contra o as investigadas. De acordo com o órgão, a notícia foi distribuída para 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital, que vai analisar o caso e tomar as medidas cabíveis.
Polêmica com motorista

As duas também já se envolveram em outra polêmica por ofender um motorista de aplicativo em um vídeo publicado nas redes sociais. O caso, no entanto, não foi registrado na delegacia.

Publicada em 2021, a filmagem mostra as duas entrando no carro do homem e reclamando de "cheiro de podre" e "cheiro de bicho morto". Na sequência, a mãe passa a mão na cabeça do motorista e o ofende: "Acho que é por causa desse cabelo. Cabelo grande, suado". A filha responde: "Que nojo, não mexe nisso". No fim, elas dão R$ 200 ao homem como "desculpa"

Após a repercussão negativa, as influenciadoras apagaram o vídeo e publicaram um novo com o motorista. Nesse, elas afirmam que pediram para ofender e gravar o homem como forma de "trollagem" (uma brincadeira ou "pegadinha") para a internet. O motorista confirmou a versão e disse que não se sentiu humilhado porque a situação foi combinada.

O que dizem as influenciadoras

Após o início das investigações, o perfil do Instagram das influenciadoras publicou uma nota à imprensa sobre o caso. A assessoria jurídica de ambas informou que não tinham a intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias.

Além de informarem que elas gostariam de se dirigir às pessoas que se sentiram diretamente atingidas, para dizer que não tiveram intenção de as ofender individualmente, nem como gênero, etnia, classe ou categoria a que elas pertençam.


Confira a nota na íntegra:

“Em relação às acusações de racismo feitas conti 2/4 influenciadoras Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves, a assessoria jurídica, reconhece a seriedade e a importância de tratar o assunto com responsabilidade e diligência.

A assessoria jurídica ressalta que as influenciadoras, estão consternadas com as alegações que foram feitas e repudiam veementemente qualquer forma de discriminação racial.
Reforçam ainda, o compromisso em promover a inclusão, diversidade e igualdade em suas plataformas.

Ressaltam que naquele contexto não havia intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias. Nada disso estava em pauta.
Sendo assim, gostariam de se dirigir às pessoas que se sentiram diretamente atingidas, para dizer que não tiveram intenção de as ofender individualmente, nem como gênero, etnia, classe ou categoria a que elas pertençam.

É essencial analisar os fatos de forma justa e imparcial antes de tirar qualquer conclusão. As publicações em questão foram retiradas de contexto e interpretadas de maneira distorcida. As influenciadoras não tiveram a intenção de promover o racismo ou ofender qualquer indivíduo ou grupo étnico.

Importante considerar também a reputação e a trajetória profissional das influenciadoras. Elas têm sido defensoras ativas da igualdade racial e vem trabalhando para aumentar a conscientização sobre questões relacionadas à discriminação e inclusão. Ao longo de suas carreiras, Kérollen e Nancy têm colaborado com organizações que promovem a diversidade e se envolvido em projetos sociais voltados para a inclusão de minorias.

A dupla reforça que em uma sociedade democrática, todos têm o direito à liberdade de expressão. No entanto, esse direito não deve ser utilizado como um escudo para o discurso de ódio ou promover a discriminação. As influenciadoras, estão cientes dessa responsabilidade e se comprometem a aprender com esse episódio, aprofundar o aprendizado em questões raciais e a refletir sobre o impacto de suas afirmações.

Diante desses pontos, pedimos que a justiça seja feita e que todas as partes envolvidas tenham a oportunidade de apresentar seus argumentos de maneira igual. A dupla vai cooperar plenamente com qualquer investigação conduzida pelas autoridades competentes, fornecendo todas as informações necessárias para esclarecer os fatos e preservar o direito das pessoas que se sentiram atingidas.

Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves estão à disposição para dialogar com as partes afetadas, organizações de defesa dos direitos humanos e demais envolvidos”