Laís Dantas durante as filmagens de DesovaDivulgação
O filme está atrelado à pesquisa "Mapeamento exploratório sobre desaparecidos e desaparecimentos forçados em municípios da Baixada Fluminense", coordenada pelo Fórum Grita Baixada (FGB) e pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ainda inédita, ela está nos preparativos finais para ser lançada em livro. Já o filme tem estreia nacional prevista para 5 de setembro, no Sesc Nova Iguaçu.
Segundo ele, o principal objetivo da pesquisa e do filme não é apontar dados específicos do problema, mas entender a dinâmica dos casos, para, a partir de reuniões com políticos, proposição de audiências públicas e encontros com organismos internacionais, estabelecer um movimento em prol da tipificação do crime de desaparecimento forçado no Brasil.
"É necessário conceituar o que é desaparecimento forçado, qual é a sua dimensão criminosa e como ele será enfrentado. A tipificação do crime de desaparecimento forçado irá permitir que ele entre no rol legislativo, para que os legisladores possam construir leis para estruturar o enfrentamento a esse tipo de crime. No atual momento, esses crimes estão invisibilisados e imprecisos", destaca Adriano.
Alguns dos casos citados por ele são o desaparecimento, em Belford Roxo, das crianças Lucas Matheus, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10, e Fernando Henrique, de 11; e o caso de Matheus Costa da Silva, Douglas dos Santos, Adriel Andrade e Jhonathan Alef Gomes, que estavam em veículo de aplicativo a caminho de um shopping quando teriam sido abordados por criminosos armados no bairro Valverde, em Nova Iguaçu. "Apareceu a ossada de um deles. Mas os outros três continuam desaparecidos".
O relato das mães
Além das informações do Disque-Denúncia, a pesquisa também mapeou dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), analisou páginas com relatos de desaparecimentos em redes sociais e colheu o depoimento de 14 mães do Km 32, em Nova Iguaçu, cujos filhos foram vítimas de desaparecimentos forçados. Nos relatos, explica Adriano, fica visível a dificuldade na busca por justiça:
"Elas praticamente lutam sozinhas. Nas delegacias são induzidas a esperar um certo número de horas para fazer o registro, o que não é determinado em nenhum dispositivo legal. Elas acabam não voltando. Perguntam se a vítima era usuária de drogas ou envolvida com o crime. Se sim, sendo negra e moradora de periferia, aí é que não investigam mesmo. Há um senso comum, na próprio polícia, de que mereceram o que procuraram.
No filme "Desova", o relato das mães é o principal fio narrativo.
"Tentei fazer um registro cuidadoso sobre como fica a situação dessas mães, como lidam com essa dor, com esse buraco. Se não há um corpo para de enterrar, é como se o filho pudesse voltar a qualquer momento. Isso traz uma angústia sem fim. Ao mostrar isso, espero que o filme contribua para que surjam políticas públicas que possam cuidar dessas mães", diz Laís Dantas.
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